Estagnação no segundo trimestre torna “mais difícil” atingir previsões otimistas para a economia em 2023
As previsões mais otimistas apontam para um crescimento do PIB português de 2,7% em 2023, mas não é certo que se concretize, após um segundo trimestre desanimador. PRR e Jornadas podem ajudar.
Após um arranque do ano acima das expectativas, a economia portuguesa arrefeceu no segundo trimestre: estagnou face ao trimestre anterior e o crescimento abrandou para 2,3% na comparação com o mesmo período do ano passado. Economistas ouvidos pelo ECO indicam que, com este desempenho, será “mais difícil” atingir as previsões de crescimento mais otimistas para o conjunto do ano, como é o caso do Banco de Portugal, que estima um crescimento de 2,7% em 2023. Este valor foi até admitido pelo ministro das Finanças como nova previsão em vez dos 1,8% inscritos no Programa de Estabilidade.
No entanto, o Produto Interno Bruto (PIB) português cresceu 2,3% em termos homólogos no segundo trimestre do ano, como revelou a estimativa rápida do Instituto Nacional de Estatística (INE) esta segunda-feira. Já em cadeia, ou seja, face ao trimestre anterior, a variação foi nula, devido à desaceleração nas exportações.
“Se fizermos um pequeno cálculo, podemos ver que, tendo em conta o crescimento dos dois primeiros trimestres, a economia cresceu 2,4% na primeira metade do ano, face à primeira metade do ano passado”, nota Ricardo Ferraz, investigador na Lisbon School of Economics & Management (ISEG) e professor na Universidade Lusófona, ao ECO. Tal “significa que para a projeção de 2,7% para o conjunto de 2023 se verificar, a economia tem de crescer mais na segunda metade do ano, em pelo menos 3%”, indica.
Assim, “torna mais difícil chegar aos 2,7% previstos pelo Banco de Portugal, no entanto não é impossível, apesar de haver muitos riscos com a conjuntura internacional”, nota o economista.
Esta é também a visão de Pedro Braz Teixeira, que apesar de admitir que com estes dados é difícil um crescimento nessa ordem, salienta que existe muita incerteza. “O PIB tem estado com uma variação anormalmente elevada“, pelo que é possível que “volte a surpreender no terceiro e quarto trimestres”, aponta ao ECO.
Neste segundo trimestre, uma das componentes que mais penalizou o desempenho da economia portuguesa foram as exportações, que caíram pela primeira vez em mais de dois anos e meio nesse período. Para os próximos semestres, “não é provável que melhore”, diz o diretor de Gabinete de Estudos do Fórum para a Competitividade, salientando que os dados preliminares da economia da União Europeia para o terceiro trimestre são “relativamente desfavoráveis”.
“Temos a continuação da subida das taxas de juro por parte do Banco Central Europeu, o que tem impacto do abrandamento da economia”, diz o economista, além de que no enquadramento externo, o “FMI e a OCDE fizeram revisões em alta do crescimento do PIB mas notam também o aumento dos riscos”.
Esta segunda-feira foi também divulgado o crescimento da Zona Euro, que em termos homólogos travou para 0,6% no segundo trimestre do ano. Ainda assim, a economia da Zona Euro mostrou sinais de recuperação na comparação trimestral, terminando o período de abril a junho com um crescimento em cadeia de 0,3%, que compara com uma taxa de crescimento nula no primeiro trimestre e com uma contração de 0,1% no quarto trimestre.
Por outro lado, há aspetos que poderão ajudar a impulsionar a economia portuguesa, como salienta Ricardo Ferraz. “É fundamental para que cheguemos” a um maior crescimento que “haja uma boa execução do Plano de Recuperação e Resiliência e que faça acelerar o investimento e ajude a puxar mais pela economia”, nota.
Além disso, é também desejável que “haja um impacto, que também vai ajudar, da Jornada Mundial da Juventude, que é um evento extraordinário” e poderá ter um “impacto significativo no terceiro trimestre”. Desta forma, “é difícil de chegar aos 2,7% mas não impossível, caso a execução do PRR acelere e consigo o investimento e se materialize impacto da JMJ”, prevê.
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