Abrandamento da Zona Euro penaliza exportações portuguesas
O comércio com países europeus recuou no segundo trimestre, refletindo o abrandamento em várias economias. Até para Espanha, principal parceiro de Portugal, se registou uma queda das vendas.
As exportações voltaram a cair em junho, pelo terceiro mês consecutivo. Esta diminuição dá-se num contexto de abrandamento das economias da Zona Euro, importantes parceiros comerciais de Portugal, sendo de destacar também o impacto da diminuição do preço dos combustíveis. Ainda que os combustíveis pesem, economistas ouvidos pelo ECO continuam a perspetivar uma redução das exportações.
Os combustíveis tiveram um impacto tão grande no mês de junho que excluindo esses produtos, as exportações aumentaram 1,1%. No entanto, tal “não coloca em causa a perspetiva de desaceleração”, nota Pedro Braz Teixeira ao ECO, nomeadamente por se estar a comparar com um mês de junho invulgar: no ano passado, no contexto da guerra com a Ucrânia, os preços de petróleo dispararam e muitas compras se anteciparam devido às expectativas de escassez. Estamos também num “período em que os próprios preços estão extraordinariamente voláteis e com taxas de crescimento que não eram vistas há muitos anos”, o que acaba por resultar em “flutuações muito grandes” que podem não refletir a situação que se vive, aponta o diretor do gabinete de estudos do Fórum para a Competitividade.
Além desses efeitos, a redução dos combustíveis também pode ser um “sintoma de perda de atividade dos mercados para onde exportamos”, nomeadamente nos “setores de atividade relacionados com os transportes de pessoas e bens e com a atividade industrial”, refere João Duque ao ECO.
O presidente do ISEG também destaca que “o que é expectável, pela evolução da atividade verificada no centro da Europa, é a redução das exportações”. Mesmo assim, os “nossos bens exportados continuam um pouco mais resilientes”, se excluirmos os combustíveis.
Certo é que as exportações vão impactar o crescimento económico. “Neste momento, a queda ainda não está muito grande mas dado o peso significativo que as exportações têm no PIB, o segundo semestre será muito diferente do primeiro”, admite. Ainda há espaço para surpresas, mas estes são já “sintomas que vão pôr em perigo o crescimento”, diz.
Este sentimento parece ser também partilhado pelas empresas, que reviram em baixa as perspetivas de evolução das suas exportações em 2023 nos inquéritos realizados pelo INE. “As empresas exportadoras perspetivam um acréscimo nominal de 0,5% nas suas exportações de bens em 2023, revendo 0,6 pontos percentuais (p.p.) em baixa a 1ª previsão efetuada em dezembro de 2022”, lê-se na publicação do gabinete de estatísticas, sendo que esperam uma redução tanto nas exportações dentro como fora da UE.
Comércio dentro da UE recua. Mas EUA registam maior redução nas exportações
Olhando para os principais clientes de Portugal, a grande maioria registou uma redução nas exportações, tanto em junho como no trimestre. Espanha, que é o principal parceiro, registou um recuo de 2,3% no segundo trimestre. São de destacar as reduções nos fornecimentos industriais (-10,8%), principalmente para Espanha.
Já a Alemanha, que é o terceiro principal cliente de Portugal, também registou uma redução nas exportações de 2,6% nesses três meses. A economia alemã chegou mesmo a entrar em recessão técnica no início do ano, fator que influencia também as compras aos outros países.
O total das exportações para a Zona Euro caiu 1,5% no segundo trimestre, face ao período homólogo, queda que foi maior para o total da União Europeia, de 1,8%. A queda foi ainda maior fora da UE, rondando os 12%, ainda que seja de salientar que estes têm um menor peso nas exportações de Portugal.
Um dos países fora da UE que se destaca pela negativa é os Estados Unidos, cujas compras diminuíram 24,3% em junho e 37,4% no trimestre. Pode tratar-se de um efeito pontual, como salienta Pedro Braz Teixeira, sendo que ainda “não temos exportações suficientemente diversificadas para os EUA” para identificar uma tendência relevante.
Fonte oficial do INE explica ao ECO que o recuo nas exportações para os EUA se deveu aos combustíveis e lubrificantes, nomeadamente óleos de petróleo ou de minerais betuminosos, devido à diminuição dos preços destes produtos.
Além disso, uma das vendas para o país será o papel e pasta de papel e, segundo o INE, de janeiro a junho as exportações de pastas celulósicas e papel caíram 12,1%. Estes produtos estiveram também relacionados com a queda de exportações para os Países Baixos (12,9%). “A diminuição das exportações para os Países Baixos deveu-se sobretudo aos Fornecimentos industriais, essencialmente Pastas celulósicas e papel, produtos Químicos e Plásticos e borrachas”, indica fonte oficial do INE.
A papeleira Navigator também chegou a salientar, aquando a apresentação dos resultados que mostraram uma queda do lucro no primeiro semestre, que o ano de 2022 foi “marcado por uma anormal escassez de oferta papeleira na Europa, sobretudo na primeira metade do ano, com consequente volume anormal de encomendas, a normalização das condições de mercado condicionou fortemente o setor no primeiro semestre de 2023”.
De notar ainda o recuo nas exportações para Angola, de 16,4% em junho, sendo de salientar que as importações diminuíram também devido ao segmento dos combustíveis e lubrificantes.
(Notícia atualizada às 14h15 com mais informação)
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