BCE abre a porta para prestação da casa começar a baixar já em fevereiro
O BCE sinalizou o fim do ciclo de subidas dos juros. Para quem tem crédito à habitação, a mensagem do BCE poderá sentir-se na queda da prestação da casa no início de 2024. Faça aqui a simulação.
A subida de 25 pontos base das taxas diretoras anunciada na quinta-feira pelo Conselho do BCE poderá ter sido a última de um ciclo que dura há 19 meses. A esperança foi dada pela presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde.
“O Conselho do BCE considera que as taxas de juro diretoras atingiram os níveis que — se forem mantidos durante um período suficientemente longo — darão um contributo substancial para o retorno atempado da inflação ao objetivo”, referiu a líder da autoridade monetária do espaço da moeda única em conferência de imprensa.
Para as famílias com crédito à habitação, estas declarações devem ser recebidas como um balão de oxigénio para as suas finanças pessoais. Não é para menos. Desde julho de 2022 que o BCE elevou por dez vezes consecutivas as taxas diretoras, provocando um incremento de 450 pontos base das taxas de juro e uma quase duplicação da prestação da casa.
No imediato, a recente subida de 25 pontos base anunciada na quinta-feira pelo BCE, que colocou a taxa de facilidade permanente de depósitos nos 4%, também está longe de se revelar num problema para a carteira das famílias, porque o mercado já estava a descontar este último aumento do BCE e a antecipar que o BCE não subirá mais o preço do dinheiro.
“Se o mercado é racional e incorporou já uma boa parte das expectativas de taxas de juro, agora não vai, em teoria, subir muito mais as taxas de juro”, refere João Duque, economista e professor do ISEG.
Em fevereiro, os contratos de crédito à habitação indexados à Euribor a 3 meses que sejam sujeitos a uma atualização das taxas deverão ver pela primeira vez em muitos meses uma queda da prestação da casa.
Primeiras quedas da prestação da casa chegam no início do ano
Atualmente, a Euribor a 3 meses está a negociar nos 3,845%, enquanto as Euribor a 6 e 12 meses negoceiam nos 3,999% e 4,112%, respetivamente. “As taxas Euribor, que já se encontram a estabilizar, provavelmente já atingiram os máximos na referência a 12 meses”, refere Filipe Garcia, economista e presidente da IMF – Informação de Mercados Financeiros, sublinhando ainda que a Euribor a 6 meses está perto do pico e a taxa a 3 meses “deverá chegar perto dos 4%” para depois começar a cair.
A expectativa de Filipe Garcia é sustentada pelo movimento dos contratos forward rate agreements que apontam para uma inversão da curvatura da Euribor a 3 meses no final deste ano e para uma contínua queda da Euribor a 6 meses – algo que já era visível mesmo antes da reunião do BCE.
O mesmo movimento é espelhado pelos contratos de futuros sobre a Euribor a 3 meses. Pouco depois do anúncio de Lagarde, mas sobretudo após se conhecerem as novas previsões macroeconómicas do BCE, os futuros reagiram em queda, alinhavando a Euribor a 3 meses em 2024 com nível das projeções do BCE, com os futuros sobre a Euribor a 3 meses a apontarem para uma taxa média de 3,7% no próximo ano.
O mercado não antecipa que as taxas de juros desçam ao mesmo ritmo com que subiram no passado recente, e nem perspetivam que voltem aos valores de anteriormente.
Na carteira das famílias, estas dinâmicas indicam que, em fevereiro, os contratos de crédito à habitação indexados à Euribor a 3 meses que sejam sujeitos a uma atualização das taxas deverão ver pela primeira vez em muitos meses uma queda da prestação da casa.
Nos contratos indexados à Euribor a 6 meses, a “boa nova” só deverá chegar em junho, quando a taxa deverá estar a cotar pela primeira vez abaixo dos valores seis meses antes. No entanto, não se espere que os níveis de poupança sejam da mesma ordem que foram os aumentos.
O mercado não antecipa que as taxas de juros desçam ao mesmo ritmo com que subiram e nem perspetivam que voltem aos valores de anteriormente. “O BCE será muito, muito resistente a cortar taxas para níveis muito baixos para não ficar limitado de ferramentas para gerir a política monetária”, salienta Filipe Garcia. É isso que também mostram os forward rate agreements, ao anteverem que só após junho de 2025 é que a Euribor a 3 meses poderá estar abaixo dos 3%.
Numa nota enviada ao final do dia aos seus clientes, o BPI Research revela que, após a última reunião do BCE, “as expectativas implícitas nos mercados monetários são de que o BCE manterá a taxa diretora em 4% (refinanciamento em 4,5%) até ao terceiro trimestre de 2024, altura em que poderá ocorrer uma primeira redução da taxa de juro.”
Apesar das boas novas, ainda é cedo para as famílias lançarem foguetes. Christine Lagarde deixou claro, mais uma vez, que o BCE assegurará que as taxas de juro diretoras sejam fixadas em níveis suficientemente restritivos, durante o tempo que for necessário para conseguir trazer a taxa de inflação até aos 2%.
Além da taxa de inflação na Zona Euro ainda estar longe dessa meta — em agosto situou-se nos 5,3% –, também o mercado não antecipa que a taxa de inflação no espaço do Euro baixe dos 2,6%, tanto no curto como no médio e no longo prazo, como mostram atualmente as taxas swap sobre a inflação.
“Pensamos que os cortes nas taxas terão lugar apenas no segundo semestre de 2024, e mais tarde do que hoje é esperado pelo mercado refere Sebastian Vismara, economista sénior do BNY Mellon IM, numa nota enviada aos clientes do banco. Além disso, antecipa que, “uma vez iniciado o ciclo de flexibilização, é provável que se registem cortes mais rápidos e maiores do que os previstos.”
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