Economistas antecipam desaceleração do PIB português no terceiro trimestre

Para o conjunto do ano, economistas apontavam para um crescimento entre 2,4% e 2%. Na proposta de OE2024, o Governo aponta para uma expansão de 2,2% este ano.

A economia terá abrandado no terceiro trimestre, de acordo com as previsões dos economistas, e alguns antecipam mesmo uma contração de julho a setembro, após a estagnação no trimestre anterior.

Os economistas consultados pelo ECO são unânimes em assumir o abrandamento do crescimento no terceiro trimestre, que poderá ficar entre 2,4% e 1,7% em termos homólogos. Portugal registou uma progressão homóloga de 2,5% (valor revisto em alta face ao 2,3% iniciais) e uma estagnação no segundo trimestre.

“Admitimos que no terceiro trimestre a expansão da atividade tenha moderado significativamente, para cerca de metade do crescimento trimestral observado, em média, no primeiro semestre”, diz ao ECO a economista-chefe do BPI. “Ainda assim, esperamos que o maior contributo tenha derivado da procura interna, consumo, investimento, enquanto a procura externa terá enfraquecido, sobretudo quando medido o seu contributo em cadeia”, acrescenta Paula Carvalho.

O turismo terá dado “algum suporte às exportações não só derivado da atividade estritamente turística, mas também do impacto que tem no consumo em território nacional. A sustentação do mercado de trabalho terá também conferido suporte ao consumo privado”, acrescenta a economista.

Antecipamos um crescimento em cadeia de 0,2% e homólogo de 2,2%”, diz, por seu turno, Rui Constantino. O economista-chefe do Santander explica que “os principais drivers do crescimento terão continuado a ser a procura interna, com o consumo privado a ter um contributo bastante positivo, enquanto o investimento terá prosseguido numa trajetória de fraco crescimento face ao contexto de custos de financiamento mais elevados”. “A procura externa terá tido um contributo negativo para o crescimento em cadeia, com as exportações a poderem ter caído mais pronunciadamente que as importações”, acrescenta.

Autoeuropa terá penalizado

Para este desempenho terá contribuído a paragem da Autoeuropa, recorda Pedro Braz Teixeira. “O lado das exportações tem continuado negativo no caso dos bens (agravado pela paragem da Autoeuropa) e em desaceleração no caso do turismo, pelo que é possível que tenham caído no trimestre”, admite o economista chefe do Fórum para a Competitividade, que mantém a estimativa de uma variação em cadeia entre -0,2% e 0,1%, “de que terá resultado uma desaceleração homóloga de 2,5% para entre 1,8% e 2,1%”. “Em relação à procura interna, tem mantido uma resiliência que se pode dizer um pouco surpreendente, dada a subida das taxas de juro”, acrescenta o economista ao ECO.

Também os economistas do Millennium bcp antecipam “um contributo negativo da procura externa líquida para o PIB” que deverá levar a uma variação em cadeia do PIB de -0,1% e, em termos homólogos, uma desaceleração de 2,5% para 1,9%. Numa nota de conjuntura, Márcia Rodrigues sublinha que é esperado um “agravamento do ritmo de queda das exportações de bens, num quadro de forte redução do comércio internacional, o que, a par com o menor dinamismo das exportações associadas ao turismo”. No que respeita à procura interna, o investimento “deverá ter um contributo marginalmente negativo para o crescimento do PIB, à semelhança do trimestre anterior” e “o consumo privado deverá apresentar uma melhoria, após a contração de 0,7% observada no segundo trimestre, beneficiando do aumento do rendimento real disponível, por via da redução da taxa de inflação”, acrescenta a mesma nota.

Ora, a inflação dificulta as estimativas dos economistas. João Borges Assunção, professor e economista da Católica, na mais recente nota de conjuntura, considera que a “economia deverá ter contraído 0,3% em cadeia, o que corresponderia a um crescimento de 1,7% em termos homólogos”. “Esta estimativa encerra uma enorme incerteza já que a variabilidade da inflação entre trimestres introduz dificuldades acrescidas na estimativa das variações reais entre trimestres consecutivos”, alerta.

Paula Carvalho também alerta para os riscos negativos das suas previsões. “Os riscos para a nossa previsão são negativos dado que desde a sua formulação se tem assistido ao aprofundar dos sinais negativos sobre as economias externas, com destaque para os países da zona euro”, diz a economista-chefe. “Pela negativa deverá pontuar o impacto do aumento dos juros sobre os orçamentos familiares e as empresas, e os efeitos sobre a confiança do agravamento da situação geopolítica internacional”, acrescenta.

Pedro Braz Teixeira também alerta para os impactos negativos do conflito no Médio Oriente. “O quarto trimestre iniciou-se de forma muito preocupante, com o conflito no Médio Oriente, pelo que o resto do ano deve ser de deterioração face ao trimestre precedente”, diz. “Estimamos que, no conjunto do ano, o PIB cresça entre 2% e 2,2%”, acrescenta.

Já os economistas do BCP consideram que caso as suas previsões para o terceiro trimestre se materializem, “o efeito de carry-over para o conjunto do ano situa-se em 2,1%, em linha com as previsões para o crescimento do PIB em 2023 apresentadas recentemente pelas principais instituições domésticas e supranacionais”.

Previsão idêntica à da Católica. “O ponto central da estimativa de crescimento é revisto em baixa para 2,1% em 2023, fruto da base mais exigente de 2022 (correção em alta dos dados das contas nacionais pelo INE) e não tanto de uma deterioração adicional da conjuntura”, explica João Borges Assunção. “O crescimento tendencial da economia continua frágil e poderá haver correções técnicas que deem origem a contrações em cadeia, tal como se vislumbra para o terceiro trimestre. Os fatores mais relevantes continuam a ser a inflação elevada e taxas de juro crescentes, a que se junta agora um provável agravamento da disponibilidade de crédito. O consumo privado e o investimento parecem continuar com uma dinâmica frágil”, acrescenta o presidente do NECEP.

Mais otimista, Paula Carvalho prevê para o conjunto do ano um crescimento de 2,4%. Uma previsão muito próxima dos 2,3% apontados pelo Santander.

Estas são previsões mais otimistas do que as do Governo que aponta para uma progressão da economia de 2,2% este ano (que depois irá desacelerar para 1,5% no próximo), mas batem com as do FMI, que apesar de ter revisto em baixa as suas previsões no World Economic Outlook antecipa um crescimento de 2,3% este ano. Já o Banco de Portugal também reviu em baixa as previsões de crescimento para este ano, para 2,1%. A Comissão Europeia aponta para 2,4%, mas são as previsões mais antigas, e a OCDE para 2,5%.

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