Negócio da Efacec é “tão evidente” que não justifica “perder tempo numa comissão de inquérito”, diz PCP
Líder comunista classifica privatização da Efacec como um “crime económico e político”, mas prefere evitar inquérito como o da TAP, em que se discutiu “tudo e um par de botas” menos o negócio.
O secretário-geral do PCP considerou esta sexta-feira que o processo de privatização da Efacec é “tão evidente” que não justifica uma comissão de inquérito e disse temer que o negócio seja “uma antecâmara” do que se quer fazer na TAP.
“A questão da Efacec é tão evidente, tão evidente, que eu não estou a ver para que é que se vai perder tempo numa comissão de inquérito”, afirmou Paulo Raimundo em declarações aos jornalistas à frente do centro de saúde de Odivelas, em Lisboa.
O Chega e a Iniciativa Liberal já anunciaram que vão propor a constituição de uma comissão parlamentar de inquérito à privatização da Efacec, tendo o PSD igualmente admitido avançar com essa proposta caso o Governo não esclareça todos os detalhes do negócio.
O dirigente do PCP sublinhou que, na última comissão de inquérito à TAP, discutiu-se “tudo e um par de botas” menos o negócio de privatização, e acrescentou que, se for criada uma comissão sobre a Efacec com o mesmo propósito, não vale a pena “estar a perder tempo”.
“Há outros entretenimentos que valem mais a pena. Se for para clarificar este crime económico que está em curso, se calhar vale a pena. Mas a questão não é essa: eu acho que é tão evidente e simples que não estou a ver necessidades de grandes investigações”, reiterou.
Paulo Raimundo reiterou que a privatização da Efacec é um “crime económico e político” e um “filme que já se viu”, em que o Governo investe numa empresa – que “está limpa, tem contratos, está regularizada, capitalizada e é das mais importantes a nível mundial no seu setor” – e “dá a um grupo alemão”.
É extraordinário. Se eu tivesse 60 milhões de euros, para dar como caução, eu também comprava a empresa. Assim é fácil: com o dinheiro dos outros, é fácil.
O secretário-geral do PCP reforçou que o Governo “investe, limpa e capitaliza a empresa, e depois pega nela e entrega-a de mão beijada a um investidor alemão, que a compra a empresa com o dinheiro da empresa”, referindo que é o mesmo tipo de negócio que foi feito na TAP.
“É extraordinário. Se eu tivesse 60 milhões de euros, para dar como caução, eu também comprava a empresa. Assim é fácil: com o dinheiro dos outros, é fácil”, referiu.
Paulo Raimundo disse que a sua maior preocupação é saber se a privatização da Efacec “não é uma antecâmara do negócio que se quer fazer para a TAP”. “Mas cá estaremos. Ainda confiamos que é possível combater a privatização da TAP, que é possível parar este estrondoso crime económico, mas vamos lá ver se não é isso que se vai repetir”, referiu.
O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, considerou na quinta-feira que no atual contexto “não havia nenhuma solução boa ou muito boa” para a reprivatização da Efacec, referindo não conhecer “em pormenor as condições” da venda ao fundo alemão Mutares.
Já o ministro da Economia, António Costa Silva, garantiu, entretanto, não se sentir pressionado relativamente às críticas à privatização da Efacec, vincando que esta foi uma “decisão fundamental para o país”. Sobre as críticas que têm sido feitas pela oposição, o governante afirmou que, no parlamento, vai ser possível discutir esta matéria e demonstrar que este não é um negócio ruinoso. Instado pelos jornalistas a comentar a possibilidade de uma comissão de inquérito ao negócio da venda da empresa, o ministro da Economia disse apenas: “Isso são fait divers“.
O Estado, através da Parpública, vendeu na terça-feira 100% da Efacec ao fundo alemão Mutares. A Efacec, empresa que opera nos setores da energia, engenharia e mobilidade, com cerca de 2.000 trabalhadores, tinha sido nacionalizada em 2020, ficando o Estado a deter 71,73% da empresa.
A nacionalização, apresentada como temporária, ocorreu na sequência do arresto judicial de bens da empresária angolana Isabel dos Santos, que detinha a maioria do capital da Efacec.
Na terça-feira, o ministro da Economia disse que o Estado vai injetar mais 160 milhões de euros na Efacec, enquanto o fundo Mutares injetará na empresa 15 milhões de euros em capital e 60 milhões de euros em garantias. O Estado já injetou 132 milhões de euros na Efacec, a que se somam mais 85 milhões de euros em garantias.
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