Exclusivo Acionistas da EDP contratam consultora externa para escolher chairman
Briefing dos acionistas não exclui possibilidade de novo 'chairman' ser estrangeiro. Consultoria inclui composição do novo 'board' e nomes para substituir dois membros independentes que vão sair.
Os principais acionistas da EDP contrataram uma consultora externa internacional para os assessorar na escolha do presidente (chairman) do Conselho Geral e de Supervisão (CGS), que irão apresentar à Assembleia Geral eletiva de 10 de abril para substituir João Talone, apurou o ECO junto de fonte conhecedora do processo.
Segundo a informação recolhida pelo ECO, a consultora, cuja identidade não pode ser divulgada devido a acordos de confidencialidade, irá também assistir no processo de composição do board, incluindo a escolha para substituir dois membros independentes que irão sair por terem completado o último de três mandatos: João Carvalho das Neves e María del Carmen Fernández Rozado.
A 4 de janeiro deste ano, a EDP informou que recebeu um comunicado de João Talone a informar “da respetiva indisponibilidade para integrar o órgão
de supervisão da EDP no próximo mandato (2024-2026)”.
A fonte conhecedora do processo sublinhou ainda que o briefing transmitido pelos acionistas à consultora externa não exclui a possibilidade de o novo chairman ter nacionalidade que não a portuguesa.
“O objetivo é assessorar os acionistas para identificar alguém com um perfil de gestão que possa apoiar a Comissão Executiva da energética na condução da estratégia”, explicou.
Os acionistas vêm a contratação de uma consultora externa como uma “boa prática” de grandes empresas que visam garantir transparência na escolha dos órgãos de governance, dando assim prioridade aos critérios de experiência profissional e independência política.
Segundo o site da EDP, a 13 de setembro de 2023 a China Three Gorges, controlada pelo Estado chinês, era a maior acionista da empresa, com 20,86% do capital. Em segundo lugar ex aequo estavam a Oppodium Capital (detida em 55,9% pela espanhola Masaveu Internacional, com os restantes 44,1% a pertencerem ao Liberbank) e a norte-americana BlackRock, uma das maiores gestoras de ativos do mundo, com 6,82% cada.
O CGS é composto por 16 membros, cinco dos quais são representantes do acionista chinês e dois do acionista espanhol, além de nove membros independentes, incluindo o próprio João Talone.
Horta-Osório e Lacerda possíveis, Moreira nega convite
Após o anúncio de João Talone, que resulta de divergências com os principais acionistas relativamente a regras de governação na companhia elétrica, segundo apurou o ECO junto de duas fontes a 9 de janeiro, ressaltam dois nomes entre os principais acionistas: António Horta Osório e Francisco Lacerda, gestores com perfil técnico e que não têm quaisquer funções executivas.
António Horta Osório é chairman da Bial, não executivo em grupos como a Impresa e os Mello, consultor de instituições com o Mediobanca, e foi recentemente noticiado o seu envolvimento numa operação para comprar a Altice Portugal. Já Francisco Lacerda é administrador não executivo na Endesa, além de consultor na área financeira.
São dois gestores referenciados por alguns dos principais acionistas e têm o perfil técnico e profissional, e alinhados com o perfil da própria comissão executiva, liderada por Miguel Stilwell.
O nome de Rui Moreira tinha sido noticiado nos dias anteriores como possível candidato à liderança do Conselho, decorrente de um alegado acordo com o primeiro-ministro António Costa.
No entanto, a 10 de janeiro, Rui Moreira esclareceu “ninguém fez nenhum convite” para presidir o Conselho Geral e de Supervisão da EDP. “Espanta-me um pouco que quase todos os meses me façam perguntas acerca de sítios para onde acham que vou. Sou presidente de Câmara do Porto, ninguém me convidou para nada”, assegurou, dizendo que as suspeitas de uma eventual saída da autarquia portuenses o “perseguem” desde que foi eleito.
AG de 2021 foi momento de viragem
Na última Assembleia Geral eletiva, em abril de 2021, os acionistas da EDP aprovaram a redução do CGS de 21 membros para 16. A decisão foi vista nessa altura como parte de um esforço para reduzir o peso da esfera política no board, com a saída dos ex-ministros Luís Amado (chairman), Jorge Braga de Macedo, Eduardo Catroga, Celeste Cardona e Augusto Mateus.
Esse esforço era visível também na escolha de João Talone, que foi presidente executivo da EDP entre 2003 e 2006 e tem um perfil de gestor e empresário, para substituir Amado.
João Talone foi, portanto, uma escolha surpresa dos acionistas da EDP para liderar o CGS da companhia e agora, ao fim do primeiro mandato, sai também de forma surpreendente. O ECO apurou que o gestor defendia alterações ao modelo de governação da EDP e, particularmente, a redução do número de representantes da CTG e do grupo Masaveu neste órgão de fiscalização da atividade da EDP, mas não obteve resposta e por isso comunicou formalmente que não está disponível para fazer um segundo mandato.
Nas semanas anteriores, Talone tinha manifestado a visão de que a EDP deveria reduzir o número de membros do CGS, passando a CTG a ter três ou, no máximo, quatro membros, enquanto a família Mazaveu teria um representante. Talone apresentou uma proposta aos acionistas e terá dado o prazo do final do ano para ter uma resposta dos acionistas, que não chegou.
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