Regulamentação complexa pode “dificultar acesso ao capital” e “travar crescimento”
Miguel Viana, investor relations officer da EDP, defende que é necessário "encontrar um equilíbrio entre a necessidade de regulamentação e 'compliance' e a minimização da complexidade excessiva".
Miguel Viana, investor relations officer da EDP, considera que as exigências regulatórias são necessárias para garantir a transparência e estabilidade dos mercados financeiros, mas alerta que a “necessidade de compliance com regulamentações complexas pode impor custos significativos às empresas, o que pode, por sua vez, dificultar o acesso ao capital e limitar o potencial de crescimento“.
O responsável pelas relações com investidores da elétrica (IRO, na sigla em inglês), um dos nomeados para o prémio de melhor IRO nos Investor Relations and Governance Awards da Deloitte, defende que é necessário “encontrar um equilíbrio entre a necessidade de regulamentação e compliance e a minimização da complexidade excessiva”.
A evolução da política monetária e o crescente risco geopolítico têm contribuído para uma maior volatilidade nos mercados financeiros. Que desafios coloca este contexto à gestão da relação com os investidores?
O contexto atual apresenta desafios significativos para a gestão da relação com os investidores. A volatilidade nos mercados financeiros pode, de facto, gerar incerteza e preocupação entre os investidores, o que leva a uma maior necessidade de comunicação clara e transparente por parte das empresas.
Neste contexto, é crucial para a gestão da relação com os investidores fornecer uma análise aprofundada dos potenciais impactos da evolução da política monetária e do risco geopolítico. Além disso, comunicar as estratégias de gestão de riscos e planos de contingência pode ajudar a tranquilizar os investidores e demonstrar a resiliência da empresa face a desafios externos.
A transparência, a prestação de informações atualizadas e a prontidão para responder a perguntas dos investidores também são fundamentais para manter a confiança e a credibilidade durante períodos de volatilidade. Além disso, a gestão da relação com os investidores pode beneficiar de uma abordagem proativa na antecipação de preocupações e na oferta de informação sobre como a empresa está posicionada para enfrentar os desafios decorrentes do contexto externo atual.
A EDP, para adaptar-se a estas mudanças, às quais se soma a redução das curvas forward dos preços de energias, comunicou recentemente ao mercado que atualizou o seu Plano de Negócios para reforçar a posição do grupo neste contexto desafiador – precisamente um excelente exemplo de uma abordagem cuidadosa e proativa, transparente, rápida, clara e relevadora da capacidade do grupo de reagir de forma ágil a mudanças de contexto.
Que outros desafios enfrentam hoje os IRO na relação com os investidores?
Os investidores estão cada vez mais atentos às questões de ESG, considerando as políticas, práticas e objetivos ESG das empresas nos seus investimentos. Assim, as empresas enfrentam o desafio de comunicar de forma eficaz as suas estratégias e desempenho em temas ESG, atendendo às expectativas dos investidores.
Os investidores da EDP estão especialmente atentos aos compromissos e práticas de descarbonização por ser o core business da empresa, mas também se interessam em temas como a nossa relação com a cadeia de valor, o respeito pelos direitos humanos, e a proteção da biodiversidade.
Os investidores procuram cada vez mais transparência e responsabilização por parte das empresas. A capacidade de fornecer informações claras e precisas, juntamente com uma comunicação aberta sobre desafios e oportunidades, é essencial para manter a confiança.
As alterações regulatórias e as crescentes exigências por compliance também podem impactar a relação com os investidores, exigindo uma comunicação clara sobre como a empresa se está a adaptar a essas mudanças. A rápida evolução tecnológica e a crescente importância da inovação também trazem desafios às empresas na comunicação das suas estratégias de transformação digital, bem como na demonstração de como estão posicionadas para enfrentar as mudanças disruptivas nos seus setores.
Considera que as crescentes exigências regulatórias e de compliance são necessárias ou a sua complexidade é um entrave à atração de capital e ao desenvolvimento dos mercados?
As crescentes exigências regulatórias e de compliance são necessárias para garantir a integridade, transparência e estabilidade dos mercados financeiros e para proteger os investidores. No entanto, a complexidade dessas exigências pode ser um desafio para as empresas, especialmente para atrair capital e promover o desenvolvimento dos mercados.
A necessidade de compliance com regulamentações complexas pode impor custos significativos às empresas, o que pode, por sua vez, dificultar o acesso ao capital e limitar o potencial de crescimento. Além disso, a complexidade regulatória pode criar barreiras à entrada de novos participantes no mercado, reduzindo a concorrência e a inovação.
Por outro lado, as exigências regulatórias são fundamentais para proteger os investidores, garantir a estabilidade financeira e promover a confiança no mercado. A conformidade com padrões rigorosos de governança e transparência pode, a longo prazo, fortalecer a atratividade dos mercados financeiros, aumentando a confiança dos investidores e reduzindo o risco percebido.
Portanto, é importante encontrar um equilíbrio entre a necessidade de regulamentação e compliance e a minimização da complexidade excessiva. A simplificação e racionalização das exigências regulatórias, juntamente com o apoio a práticas de compliance eficientes, podem ajudar a mitigar os impactos negativos da complexidade regulatória, facilitando assim a atração de capital e o desenvolvimento dos mercados.
Para além disso, enquanto responsável das duas áreas de Investor Relations e ESG, vejo que é muito evidente o aumento recente de novos enquadramentos regulatórios e normas de reporte não financeiro como o CSRD, TCFD e a Taxonomia da EU, que acrescem às exigências regulatórias e de compliance das empresas.
Que impacto pode vir a ter a inteligência artificial no trabalho de um IRO?
A inteligência artificial (IA) pode ser usada para analisar grandes volumes de dados financeiros e de mercado, fornecendo insights valiosos para a tomada de decisões estratégicas e a comunicação com investidores. Assim, pode ajudar os IRO a identificar tendências e prever cenários.
Com base na análise de dados, a IA pode ajudar a personalizar a comunicação com os investidores adaptando-a às necessidades e interesses específicos, o que pode melhorar a eficácia da comunicação e fortalecer a relação com eles.
Pode ainda automatizar tarefas rotineiras, como a preparação de relatórios padrão, o agendamento de reuniões e o acompanhamento de pedidos/perguntas de investidores. Isto permite que os IRO e as suas equipas dediquem mais tempo a atividades estratégicas e de alto valor acrescentado, e à gestão proativa da relação com os investidores.
Adicionalmente, pode ser usada para prever o comportamento dos investidores, identificar potenciais problemas e antecipar questões que possam surgir, o que ajuda os IROs a prepararem-se melhor para lidar com desafios.
Em resumo, a inteligência artificial tem o potencial de transformar o trabalho de um Investor Relations Officer, proporcionando análise avançada de dados, comunicação personalizada, análise preditiva e melhoria da eficiência geral. Essas mudanças podem ajudar os IROs a desempenhar um papel mais estratégico e eficaz na gestão da relação com os investidores.
Como é que os temas do ESG já estão a mudar o papel dos IRO?
Os temas do ESG já estão a mudar significativamente o papel dos IRO, tornando-os mais envolvidos na comunicação e gestão de questões relacionadas com o ESG. No futuro, espera-se que os IRO desempenhem um papel ainda mais estratégico na integração de considerações de ESG nas práticas de comunicação, relação com investidores e tomada de decisões estratégicas.
Atualmente, os IRO estão cada vez mais envolvidos na comunicação das estratégias e desempenho da empresa em questões ESG, desempenhando um papel crucial na divulgação de informações relevantes sobre as práticas de sustentabilidade da empresa, atendendo às expectativas dos investidores e reguladores.
Os IRO estão a ter um papel mais ativo no relacionamento com investidores em questões relacionadas com o ESG. São quem responde ao aumento na procura por informações detalhadas sobre as práticas de ESG da empresa, bem como quem participa em diálogos construtivos sobre como a empresa está a abordar essas questões.
Além disso, estão a trabalhar mais de perto com equipas de investimento para integrar considerações de ESG nas estratégias de investimento da empresa. Os temas ESG são assim cada vez mais importantes para atrair capital nomeadamente para a EDP.
Os IRO são também desafiados a integrar temas ESG na análise de riscos e oportunidades da empresa, fornecendo informações valiosas para os investidores sobre como a empresa está a gerir esses fatores. E, no futuro, provavelmente terão um papel ainda mais proeminente na comunicação da estratégia de sustentabilidade da empresa, incluindo metas ESG e o progresso em direção a essas metas, e destacando as iniciativas e práticas que geram valor a longo prazo para os investidores. Algo que a EDP antecipou, com a integração das equipas de ESG e de Investor Relations em 2022.
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