Montenegro considera que eleitores querem Albuquerque a governar na Madeira

  • Lusa
  • 27 Maio 2024

Chega e PAN rejeitam acordo com PSD/Madeira com Albuquerque na liderança, enquanto os liberais não estão disponíveis para entendimentos seja com PS ou PSD.

O presidente do PSD e primeiro-ministro afirmou que as eleições regionais de domingo na Madeira “não deixam dúvidas” quanto à intenção dos eleitores de que o PSD lidere o Governo e que este seja chefiado por Miguel Albuquerque.

Luís Montenegro falava aos jornalistas na sede nacional do PSD, em reação aos resultados das eleições regionais na Madeira, que o PSD venceu sem maioria absoluta. “Os madeirenses escolheram com clareza, e no espaço de oito meses, a mesma força política para liderar o Governo Regional e o mesmo candidato“, disse.

Por outro lado, o presidente dos sociais-democratas acusou o PS e o Chega de “falharem de forma copiosa” os seus objetivos nas eleições antecipadas no arquipélago, deixando um recado para os seus líderes a nível nacional. “É tempo de reclamar o respeito democrático, a humildade democrática àqueles que perdem (…) Aquilo se espera para o futuro é que não se repitam mais eleições, que não haja eleições de meio em meio ano“, afirmou, dizendo não querer imiscuir-se nas soluções de Governo para a Madeira.

 

Já o presidente do Chega, partido que conseguiu eleger quatro deputados no Parlamento regional, admitiu um acordo com os sociais-democratas para viabilizar um governo na Madeira, mas defendeu que o líder regional do PSD, Miguel Albuquerque, não tem condições para continuar a liderá-lo.

"Estou em crer que será possível chegar a alguma forma de entendimento, e se for sem Miguel Albuquerque e sem estes protagonistas até será possível chegar a um entendimento mais alargado, a quatro anos. Com estes protagonistas não.”

André Ventura

Líder do Chega

 

André Ventura falava aos jornalistas na sede nacional do partido, em Lisboa, na sequência do apuramento dos resultados das eleições legislativas regionais antecipadas da Madeira, que o PSD venceu, falhando por cinco deputados a maioria absoluta.

“Miguel Albuquerque não tem condições para se manter à frente do governo regional”, defendeu, referindo que se “o PSD decidir alterar a sua indicação para presidente do governo regional pode haver todo um processo negocial que se inicia”.

O presidente do Chega disse ter dado uma “indicação clara” à estrutura do Chega/Madeira de que “não há acordos com Miguel Albuquerque”. “O PSD tem de mudar o ciclo e perceber que o resultado destas eleições foi para mudar o ciclo. O Chega estará pela estabilidade, mas não aceita ceder nos seus princípios”, sustentou.

Esta posição do Chega é criticada pelo CDS-PP. “Acho absolutamente ridículo que algum líder de um partido tenha a pretensão de decidir das lideranças de outros partidos”, declarou Nuno Melo à agência Lusa ainda na noite de domingo.

“Sabemos quem ganhou, sabemos quem perdeu, e o que é de facto muito inusitado é termos um partido com quatro deputados [o Chega] a pedir a cabeça do líder de um partido [PSD/Madeira] que obteve aqueles que teve [19 eleitos, através de eleições livres e diretas”, acrescentou.

Nuno Melo considerou que o CDS-PP/Madeira conseguiu “um desempenho notável” nestas eleições, realçando que assegurou um grupo parlamentar, e observou: “Para partido que diziam que desaparecia não está mal“.

Por outro lado, realçou que “o PS voltou a ser derrotado” em eleições e “a CDU e o BE também saíram do Parlamento regional” da Madeira.

O presidente do CDS-PP e também ministro da Defesa Nacional recusou comentar cenários de governação na Madeira e não quis analisar a estabilidade ou instabilidade do novo quadro parlamentar. “A Região Autónoma da Madeira é isso mesmo, é autónoma, o CDS Madeira goza também de autonomia”, frisou.

PAN será força construtiva, liberais indisponíveis para entendimentos com PSD ou PS

A porta-voz do PAN afirmou que o seu partido será uma força “construtiva” no novo quadro político na Madeira resultante das regionais de domingo, mas reiterou a indisponibilidade para acordos de incidência parlamentar com Miguel Albuquerque.

Inês de Sousa Real assumiu estas posições em declarações à agência Lusa, a partir da Madeira, em que manifestou “muita alegria” e “muito orgulho” pela reeleição da deputada Mónica Freitas para a Assembleia Legislativa Regional, considerando que os eleitores “renovaram o seu voto de confiança” no PAN.

Interrogada se o PAN está disponível para algum tipo de entendimento de apoio a um novo Governo Regional do PSD liderado por Miguel Albuquerque, Inês de Sousa Real respondeu:

"A nossa Comissão Política Regional e a nossa deputada única Mónica Freitas já se pronunciaram a esse respeito e já deixaram claro que não estão disponíveis para acordos de incidência parlamentar.”

Inês Sousa Real

Líder do PAN

Também em reação aos resultados das eleições no arquipélago, o presidente da IL, Rui Rocha, pediu aos madeirenses Paulo Cafôfo (PS) e Miguel Albuquerque (PSD) para não perderem tempo com os liberais porque estes não estão disponíveis para “nenhum tipo de entendimento”, seja ele governativo ou de incidência parlamentar.

Numa declaração na sede da IL, em Lisboa, o líder dos liberais disse não estar disponível para nenhum tipo de entendimento mais estável. “A Iniciativa Liberal diz que não há qualquer viabilidade para nenhum tipo de entendimento estável”, reafirmou.

“Não me cabe a mim agora estar a dizer ao PSD se deve ou não deve ter Miguel Albuquerque [na liderança do PSD/Madeira]. O PSD/Madeira está confortável com Miguel Albuquerque e Luís Montenegro [líder do PSD] está confortável com Miguel Albuquerque, portanto, é um problema deles”, atirou, apontando que não estaria confortável em qualquer das circunstâncias. Quanto a Paulo Cafofo, Rui Rocha aconselhou-o a “investir o seu tempo e a dedicar-se” a outros partidos que não à IL.

O presidente dos liberais esclareceu que o partido irá avaliar medida a medida e proposta a proposta, fazendo depender o sentido de voto “da bondade intrínseca dessas medidas e propostas e não da sua origem”. “Viabilizaremos aquelas que nos pareçam trazer vantagem para o povo madeirense e que tenham alinhamento com a nossa visão de desenvolvimento, de crescimento económico, de desburocratização, de simplificação, de redução de impostos e de melhoria das condições de saúde”, salientou.

Com a totalidade dos votos contados nas eleições na Madeira, a IL obteve 2,56% dos votos, elegendo e mantendo o deputado que tinha na Assembleia Legislativa Regional. Apesar de manter o deputado, os liberais perderam, comparativamente às eleições de setembro 2023, 73 votos, passando de 3.555 para 3.482 votos.

Aspirávamos a mais, portanto, não é uma eleição em que estejamos particularmente felizes, mas registamos a consolidação da presença da Iniciativa Liberal neste Parlamento”, concluiu Rui Rocha.

CDU antevê que perda de representação vai afetar negativamente região, Mortágua reconhece “mau resultado”

O secretário-geral do PCP, Paulo Raimundo, assumiu não ficar satisfeito com a perda de representação parlamentar na Madeira, considerando que é “o fator que pesará mais negativamente na vida política da região, e em particular no que toca à defesa dos interesses do povo e dos trabalhadores da região”.

Para o líder comunista, pesaram no resultado da CDU “fatores de dispersão relativos àquilo que estava em causa nas próprias eleições regionais, as circunstâncias em que as eleições se realizaram” — com a dissolução da assembleia regional e a convocação de eleições por parte do Presidente da República –, que fizeram com que “aspetos associados à dissolução” se tenham sobreposto à apreciação política.

"Essas circunstâncias foram aproveitadas pelo PSD para se vitimizar, travando dessa forma uma descida ainda mais significativa do que aquela que ocorreu, e foram também aproveitadas por outras forças políticas para empolar artificialmente diferenças e ocultar convergências que têm de facto com a política que esteve e que está em curso.”

Paulo Raimundo

Secretário-geral do PCP

Com todos os votos contados, a CDU obteve 1,63% dos votos nas eleições regionais na Madeira, não conseguindo eleger qualquer deputado, descendo dos 2,72% de votos que tinha obtido nas eleições anteriores, em setembro do ano passado. Esta é a primeira vez desde 1988 em que a CDU não consegue eleger um deputado para a Assembleia Legislativa Regional da Madeira.

Por sua vez, a coordenadora do BE, Mariana Mortágua, reconheceu que o partido teve um “mau resultado” nas eleições regionais na Madeira, ao perder a sua representação, e considerou que a região está perante um “cenário de instabilidade”.

“O BE fez uma campanha combativa nestas eleições da Região Autónoma da Madeira, tínhamos regressado ao parlamento nas últimas regionais. Era nosso objetivo manter essa representação, esse objetivo não foi cumprido, o BE teve um mau resultado nestas eleições”, reconheceu Mariana Mortágua, que falava aos jornalistas na sede nacional do partido, em Lisboa.

A líder bloquista cumprimentou o Juntos Pelo Povo (JPP) pelo seu crescimento e lamentou o que classificou como uma “derrota para a esquerda”, depois de BE e CDU (coligação que junta PCP e Partido Ecologista “Os Verdes”) terem perdido a sua representação na Assembleia Legislativa Regional da Madeira.

É a primeira vez no parlamento regional [da Madeira] que os partidos à esquerda do PS não têm qualquer representação parlamentar”, salientou, acrescentando que tal deve “obviamente motivar uma reflexão”.

Rejeitando fazer leituras nacionais de um resultado regional, Mariana Mortágua garantiu que o partido vai “continuar a lutar e trabalhar para construir esta alternativa política na região autónoma da Madeira”.

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