Lacerda Sales insiste que processo das gémeas “começou antes” da sua tomada de posse

Apesar de ter invocado a condição de arguido para se remeter ao silêncio, Lacerda Sales decidiu responder a algumas questões dos deputados na comissão de inquérito ao caso das gémeas tratadas no SNS.

O antigo secretário de Estado da Saúde, António Lacerda Sales, suscitou esta segunda-feira “dúvidas” sobre a desmarcação da consulta no Hospital Lusíadas ainda antes de estar marcada a consulta no Hospital Santa Maria para as gémeas brasileiras tratadas com um medicamento de quatro milhões de euros, e insistiu, várias vezes, que todo o “processo começou antes” da sua tomada de posse.

Apesar de ter invocado a condição de arguido para se remeter ao silêncio, durante a sua audição na comissão de inquérito ao caso das gémeas tratadas com o medicamento Zolgensma no Santa Maria, o antigo secretário de Estado decidiu responder a algumas questões, tendo chegado a trocar galhardetes com o deputado do CDS João Almeida, que acusou Lacerda Sales de “alimentar teorias contraditórias”.

O antigo governante assegurou que não alimenta “manobras de diversão numa casa” que tem “tanto respeito, como é a Assembleia da República”, e que as “dúvidas” por si levantadas sobre a desmarcação da consulta no Hospital Lusíadas ainda antes de estar marcada a consulta no Hospital Santa Maria são duvidas que, a seu ver, subsistem e para as quais há pontas soltas” que devem ser esclarecidas.

“A 22 novembro de 2019, a consulta do hospital dos Lusíadas foi desmarcada. Coincidência ou não? Quem desmarcou as consultas? Por que se esgotou esta via de acesso quando não havia ainda consulta marcada num hospital EPE?”, questionou Lacerda Sales, lembrando que a consulta no hospital público só foi marcada a 6 de dezembro de 2019.

O antigo secretário de Estado reiterou que não está “disponível” para ser “bode expiatório” e, em resposta à deputada bloquista Joana Mortágua, afirmou que “basta que olhe para a cronologia do processo” para ver que tudo se iniciou antes da sua tomada de posse, a 26 de outubro de 2019. “O processo tem muitos antecedentes. Creio que remete para setembro de 2019″, atirou.

António Lacerda Sales garantiu ainda que no seu gabinete “não entrou nenhum ofício”, seja do Presidente da República, da então ministra da saúde Marta Temido, do então primeiro-ministro António Costa ou de qualquer personalidade “hierarquicamente acima”.

Questionado por um deputado sobre o louvor dado à secretária — que afirmou à Inspeção-Geral das Atividades em Saúde (IGAS) que enviou um email ao hospital Santa Maria a pedido do próprio ex-secretário de Estado –, Lacerda Sales disse “um louvor a uma secretária é um procedimento convencional” e que o deu “a todos”. “Se soubesse desta matéria, não voltava a proferir esse despacho.”

Questionado sobre os deputados sobre o facto de a administração do medicamento ter sido recusado num outro hospital público antes de o processo seguir para o Santa Maria, Lacerda Sales acha “natural” que “diferentes colegas”, e “diferentes hospitais”, tenham diferentes opiniões. “Sou médico há 40 anos e quantas vezes não digo aos meus doentes para pedirem uma segunda opinião?”, questionou.

Já sobre o facto de ter reunido com Nuno Rebelo de Sousa, filho de Marcelo Rebelo de Sousa, que terá tentado interceder pelas gémeas para que fossem tratadas no SNS, Lacerda Sales foi taxativo: “A minha transparência era de receber toda a gente que me pedia audiências. Às vezes até às tantas da noite”, afiançou.

“Eu já assumi a responsabilidade política” sobre este caso, dado que “era Secretário de Estado” na altura, concluiu Lacerda Sales, sublinhando, no entanto, que a “responsabilidade técnica ou penal” está por apurar.

Para o antigo governante, o “escrutínio político é de facto muito importante” e “contribui para a essência e a transparência”. Mas “deve ser feito de forma responsável naquilo que é o respeito pelos principio éticos” e “livre de instrumentalizações político-partidárias”.

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