Europa tem de retomar iniciativa na sustentabilidade com plano “pagável e fazível”
Numa altura em que o contexto político na Europa não é favorável para alcançar os objetivos de sustentabilidade, o economista Jeffrey Sachs defende que o Velho Continente deve relançar o repto.
O economista Jeffrey Sachs, que é também presidente da Rede de Soluções para o Desenvolvimento Sustentável (SDSN) das Nações Unidas, acredita que os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável só serão atingidos com uma maior transparência da classe política e, no caso da Europa, faz sentido retomar o ímpeto criado com o Pacto Ecológico Europeu, através de um plano “pagável e fazível”.
“A Europa tem de retomar a iniciativa e dizer: aqui está o plano. É pagável, é fazível. E vamos fazê-lo da seguinte forma“, defende. Isto porque a pandemia e a guerra na Ucrânia vieram espoletar grandes mudanças na Europa, que estão “a minar o consenso político“.
“Não há outra forma de atingir o desenvolvimento sustentável sem ser através de política“, isto é, a partir de uma ação coletiva praticada através de governos, e com o bem-comum em vista, indica Sachs. E a boa política “responsabiliza-se”, fazendo um plano, divulgando-o, discutindo-o publicamente e revendo-o em função disso. No final, perceber como está a correr o plano.
“O tipo de irracionalidade na qual se adotam objetivos mas não se adotam os meios para os atingir, é o pior tipo de política. Só leva a uma frustração generalizada“, defende. Nos Estados Unidos, por exemplo, Sachs considera que o Governo não faz um bom trabalho a informar como pretende atingir os objetivos a que se propõe.
A Europa, no que toca aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, tem avanços que Sachs considera “impressionantes”, como o caso do Pacto Ecológico Europeu. Esta segunda-feira foi divulgado um ranking de desempenho no que diz respeito aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável de 167 países, sendo que, das 30 primeiras posições, 27 são ocupadas por países europeus. No entanto, a principal conclusão do relatório é que nenhum dos 17 objetivos está em vias de ser alcançado até 2030 e apenas um sexto das metas deverão ser alcançadas até esse ano.
No caso do Velho Continente, vê duas falhas: por um lado, o facto de ter delineado os objetivos mas deixar do lado dos Estados-membros os planos para os atingir, quando é necessário que estes sejam suportados por uma infraestrutura europeia comum, um sistema energético partilhado e uma indústria interligada.
Por outro lado, afirma que a guerra na Ucrânia ganhou um lugar central nas prioridades europeias, aliada à Defesa, em detrimento da sustentabilidade. O economista vê o crescimento da NATO como um dos principais motivos para o espoletar da invasão russa à Ucrânia. Nesse sentido, considera que, no novo ciclo que se inicia este ano para os órgãos legislativos europeus (Parlamento e Comissão Europeia), deve haver uma reflexão sobre a política externa.
Confrontado com as mudanças no panorama político europeu, tendo em conta o alargamento das forças de extrema-direita que se verificou nas recentes eleições para o Parlamento Europeu, Sachs prefere colocar o ónus nos partidos convencionais. “A meu ver, não é tanto a extrema-direita que é vencedora. São mais os partidos no poder que são os grandes perdedores“, já que têm estado a decrescer em popularidade, em particular nos três anos desde que a guerra se instalou na Europa, com as respetivas consequências. “Na Europa, todos os líderes convencionais (mainstream) são muito impopulares”, com índices de desaprovação bastante superiores aos de aprovação há anos, comenta Sachs. Inflação e preços da eletricidade e dos alimentos galopantes são algumas das justificações para a insatisfação popular. Pelo que nas últimas eleições os eleitores disseram “isto não está a funcionar para nós”.
Sanções aos elétricos chineses podem funcionar. Mas com o foco certo
Há seis pontos que o economista considera serem a chave para que seja possível atingir os ODS. Ter uma educação e ciência de qualidade, bons cuidados de saúde e boa infraestrutura são três dos pilares, os quais a Europa já tem algo consolidados, na opinião de Sachs. Plataformas digitais também não são um problema no Velho Continente. Mas a transição energética e o uso dos solos são os dois pontos fracos da Europa para Sachs.
No que diz respeito à energia, as linhas guias estão cá fora, mas falta a implementação. Um exemplo prático é a promoção da mobilidade elétrica, na qual o economista considera que a Europa se atrasou, em particular os fabricantes alemães.
Em relação às recentes políticas de aplicar taxas sobre a importação de veículos elétricos chineses, considera que podem ser bem-sucedidas desde que temporárias e usadas para os fabricantes europeus ganharem tempo em relação à China, em vez de se acomodarem e aproveitarem para explorar mais a venda de veículos a combustão. “Se a Europa diz que se protege mas deixa a China ganhar no resto do mundo, não será bom para a Europa“, alerta. Portanto, mais que medidas protecionistas, a Europa deve concentrar-se em baixar os seus custos e aumentar a qualidade dos seus veículos elétricos, sugere.
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