BRANDS' CAPITAL VERDE Gases renováveis são peça-chave para a descarbonização da indústria

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  • 27 Junho 2024

No XI Encontro Anual da APEG, os especialistas presentes alertaram para a importância de manter a segurança do abastecimento de fontes renováveis num contexto geopolítico instável.

Portugal comprometeu-se a atingir, até 2045, a neutralidade carbónica, um desafio que quer cumprir cinco anos antes da meta definida pela Comissão Europeia, mas que exige trabalho árduo em várias áreas. “Claramente que o caminho é complexo e difícil. Cremos que não deve haver receio de analisar as metas intermédias, avaliar em cada momento e, sempre que necessário, fazer uma recalendarização”, defendeu Jorge Lúcio, presidente da Associação Portuguesa de Empresas de Gás (APEG) durante o XI Encontro da APEG, em Lisboa.

Jorge Lúcio lembrou também que a introdução dos gases renováveis no mix energético nacional, “uma realidade que está em marcha”, é fundamental para apoiar a transição e considera “bom sinal” o programa nacional para o hidrogénio. Recorde-se que a estratégia do país prevê a injeção de 10% a 15% de hidrogénio verde na rede de gás natural até 2030, a que se deverá juntar 9,1% de biometano no mesmo ano. “É esta potencialidade que deve ser utilizada pela sociedade e pelo sistema energético neste caminho da descarbonização”, insistiu o líder da associação.

A secretária de Estado da Energia, Maria João Pereira, assinalou o contributo do Governo para este esforço global, nomeadamente com o lançamento, no último mês, de um leilão para a produção de biometano e hidrogénio com financiamento de 140 milhões de euros. “Estas mudanças representam oportunidades significativas para inovar, diversificar e fortalecer a nossa economia energética. Os gases renováveis apresentam-se como uma oportunidade para o setor”, afirmou.

Instabilidade geopolítica impacta o mercado

O presidente da ERSE, Pedro Verdelho, marcou presença no encontro do setor e lembrou que os acontecimentos geopolíticos dos últimos anos, em especial com a invasão da Ucrânia, impactaram os preços da energia, mas também permitiram pisar o acelerador da transição. “É importante dizer que isto acelerou o processo de descarbonização na Europa”, sublinha. Para o responsável, é evidente que a descarbonização do setor elétrico “está a acontecer” e “é muito fácil”. O verdadeiro desafio, diz, está nos setores dos transportes e da indústria.

Começámos a descarbonizar o setor da eletricidade há 25 anos. No setor do gás nunca se falou nisso, estamos com um atraso de 25 anos. Temos de fazê-lo”, pediu Pedro Verdelho.

Mas a questão geopolítica continua a ameaçar a segurança do abastecimento na Europa e, sobretudo, os preços, considerou Maria João Tomás. A professora auxiliar do ISCTE Business School afirma que, além das guerras na Europa e no Médio Oriente, “o mundo está em suspenso até novembro”, altura em que os Estados Unidos vão a votos para eleger o seu próximo presidente. “Se Trump ganhar, não sabemos o que vai acontecer”, reforçou.

Embora a Europa tenha sido capaz de reduzir a dependência energética que tinha da Rússia, Maria João Tomás alerta que essa dependência foi substituída por outras origens e que, portanto, a segurança do abastecimento não pode ser vista como certa. Por outro lado, a especialista chama a atenção para o que diz ser a estratégia de domínio da China no abastecimento de gás com a construção de cada vez mais infraestrutura que atravessa a Rússia e chega à Europa. “O objetivo da China é quebrar o isolamento que tem e ir diretamente para a Europa sem passar no estreito do Mar Vermelho. É muito importante termos a estratégia da China em mente”, avisa.

Normalização a curto prazo?

Num debate sobre a normalização dos preços e do fornecimento de gás, que contou com a presença de Ana Teixeira Pinto (EDP), Armando Madail (Lactogal), Frederico Pisco (COGEN) e Tiago Moreira da Silva (AIVE), os participantes não se mostraram particularmente otimistas. No entanto, todos preferem afastar a ideia de novas oscilações de preço como as que ocorreram com a invasão da Ucrânia. “Se vem outra coisa do género, vai ser muito difícil manter alguma indústria ativa”, realçou Tiago Moreira da Silva, que acredita que a maior diversidade de fontes de abastecimento garante maior estabilidade.

No caso da Lactogal, quer no gás, quer na eletricidade, a opção foi optar por rapidamente renegociar contratos e estabelecer parcialmente os preços até 2025. “Trouxe-nos uma nova realidade para dentro de portas. Não sei se esta é a nova realidade, se é uma realidade passageira. Esta é a preocupação que temos, a forma como tudo pode mudar rapidamente”, disse.

França lidera no biometano

Laurence Poirer-Dietz, diretora-geral da GRDF, explicou como a empresa e o país estão a apostar no biometano para “descarbonizar vários setores”. O apoio público a este mercado é, referiu, essencial para conseguir aumentar a penetração deste gás renovável que é, a par de outros, “chave para a descarbonização da indústria” – nomeadamente as mais intensivas, como a agroindustrial ou químicas. Atualmente, a GRDF tem 652 pontos de produção de biometano com uma capacidade instalada de 12 TWh/ano, mas quer multiplicar esse valor por cinco e atingir 50 TWh/ano até 2030. “Para isso temos de reduzir o custo e o tempo dos projetos. O regulador fez as contas e diz que precisamos de investimentos de 6 a 10 mil milhões de euros até 2050 para adaptar as infraestruturas de gás”, explicou.

Em Portugal, a Genia Global Energy já produz biogás para autoconsumo e acredita que “há uma oportunidade incrível no biometano”. “Queremos desenvolver mais 12 projetos em Portugal [além do já existente em Leiria]. O próximo será na Azambuja”, confirma Mário Martins, Green Gas Country Collaborator da empresa. Os processos de licenciamento, diz, são o maior obstáculo na execução destes projetos e na atração de investimento externo.

A celebrar 200 anos de vida, a Vista Alegre confirma e diz que “as entidades reguladoras têm de ser catalisadoras destes processos” e que “não podemos estar à espera dois ou três anos para licenciar unidades”. Paulo Pires, administrador da empresa, assinala que 95% das emissões da Vista Alegre “vêm do gás natural e é aí que temos de nos focar para descarbonizar”, sendo o biometano “o caminho e a transição mais pacífica”.

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