Bruxelas “declara guerra” aos preços baixos da Temu e Shein
Bruxelas prepara-se para impor taxas sobre produtos de baixo custo de plataformas chinesas. A medida visa combater a subsidiação de Pequim e segue ataque recente à indústria de veículos elétricos.
A Comissão Europeia está a preparar o terreno para uma mudança significativa no panorama do comércio eletrónico, com planos para impor taxas alfandegárias sobre produtos “baratos” provenientes de retalhistas online chineses, como a Temu e a Shein.
Esta medida, noticiada esta quarta-feira pelo Financial Times, visa travar o que Bruxelas considera ser uma subsidiação do Governo chinês à indústria de comercialização de produtos de baixo custo.
A proposta, que deverá ser apresentada ainda este mês, sugere a eliminação do atual limite de 150 euros que os produtos podem ser importados sem taxas. Esta isenção tem sido amplamente explorada por plataformas como a Temu, AliExpress e Shein, que beneficiam de custos de envio subsidiados, tornando rentável o envio de produtos baratos por via aérea, segundo uma fonte citada pelo jornal britânico.
Esta é a segunda iniciativa no espaço de poucas semanas lançadas por Bruxelas para combater a subsidiação da importação de produtos chineses. Paralelamente à medida que pretende impor barreiras à indústria trasformadora, a Comissão Europeia está a desenhar um plano para acrescentar um imposto adicional de até 25% à taxa existente de 10% sobre as importações de carros elétricos chineses, já a partir deste mês.
Esta medida poderá elevar as tarifas totais para até 35%, representando um duro golpe para as fabricantes chinesas que têm ganho terreno no mercado europeu.
O timing destas iniciativas não poderia ser mais crítico. Esta terça-feira, no segundo dia do Fórum do BCE que se realiza até esta quarta-feira em Sintra, Jan Hatzius, economista-chefe do Goldman Sachs, alertou para os riscos de uma nova guerra comercial que poderá pressionar os preços nos EUA e travar o crescimento na Europa.
A tributação adicional sobre produtos chineses por parte de Bruxelas surge num contexto de crescente preocupação com a segurança e qualidade dos produtos importados: em 2023, o número de produtos perigosos reportados pelos países da União Europeia aumentou mais de 50% em relação ao ano anterior, atingindo mais de 3.400 itens.
Mas estas medidas surgem também num período marcado por acusações mais vorazes por parte das empresas europeias sobre a concorrência considerada desleal por parte das empresas chinesas.
As empresas chinesas visadas, tanto no comércio eletrónico como no setor automóvel, afirmam estar abertas a ajustes políticos que alinhem com os interesses dos consumidores, desde que sejam justos e aplicados de forma equitativa. No entanto, o Ministério do Comércio da China já manifestou a sua forte oposição aos planos de Bruxelas, acusando a União Europeia de ignorar as regras da Organização Mundial do Comércio e de ameaçar tomar “todas as medidas necessárias para salvaguardar firmemente os direitos e interesses legítimos das empresas chinesas”.
Estas potenciais mudanças na política comercial da UE poderão ter implicações significativas para os consumidores europeus, habituados a preços baixos nestas plataformas e a uma crescente oferta de carros elétricos acessíveis. No entanto, também poderão nivelar o campo de jogo para os retalhistas e fabricantes europeus, que há muito se queixam de concorrência desleal.
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