Seguros de saúde como “produto de consumo” exigem novas respostas ao setor

Angariar clientes mais novos, acompanhar o ciclo de vida dos segurados e apostar na promoção da saúde são algumas das respostas dos especialistas que participaram no 3.º Fórum Nacional de Seguros.

3.º Fórum Nacional de Seguros
3.º Fórum Nacional de SegurosGonçalo Gomes 3 julho, 2024

Angariar clientes cada vez mais novos, acompanhando o seu ciclo de vida com um seguro de saúde adaptável em função da idade. Assim como apostar na prevenção e promoção da saúde, incentivando os clientes a terem uma melhor qualidade de vida, de modo a prevenir doenças mais graves no futuro e, por consequência, baixar os custos das seguradoras com as despesas, sobretudo em segurados a partir dos 65 anos. Foram estes os grandes desafios lançados pelos participantes no painel “Seguros de saúde: produtos de consumo! E agora?”, na Alfândega do Porto.

Durante o 3.º Fórum Nacional de Seguros, uma organização do ECOseguros e da Zest que termina esta quarta-feira na cidade Invicta, a porta-voz da ASISA Portugal, Paula Serra, apelou a uma mudança de paradigma no setor segurador. “Devemos preparar o mercado junto da distribuição para integrar o seguro de saúde cada vez mais cedo, [angariando um público] mais jovem, [de modo] a assegurar o ciclo de vida do doente“.

Para a responsável nacional de marketing e comercial da ASISA Portugal, “faz falta as seguradoras perceberem que o cliente não pode ter o mesmo seguro de saúde durante o ciclo de vida, mas sim adaptar a oferta”. “Estou a fazer update na minha carteira de clientes; estou acompanhar o ciclo de vida do cliente”, acrescentou.

A solução não passa por fazer um produto para seniores, mas começar pelos clientes mais novos. Qualquer jovem já sabe que se não tiver seguro de saúde vai estar imenso tempo à espera” no Serviço Nacional de Saúde (SNS), que não tem capacidade de resposta”, assinalou Paula Serra, reiterando que “o segmento que devemos começar a trabalhar são as idades mais jovens” e devem ser pensadas “soluções que acompanham o ciclo de vida do cliente”.

Faz falta as seguradoras perceberem que o cliente não pode ter o mesmo seguro de saúde durante o ciclo de vida, mas sim adaptar a oferta. Estou a fazer update na minha carteira de clientes; estou acompanhar o ciclo de vida do cliente.

Paula Serra

Diretora nacional de marketing e comercial da ASISA Portugal, Paula Serra

“Assegurar um segmento mais sénior traz desafios que têm a ver com a sustentabilidade, mas traz [igualmente] outros desafios, como a prevenção da saúde e trabalhar a literacia junto da distribuição“, completou a responsável.

Cláudio Gonçalves, diretor-geral da NacionalGest, chamou a atenção para outras oportunidades no mercado e que o setor não está a cobrir, como disse ser o caso do problema da obesidade, assim como criar produtos mais eficazes para a área da saúde mental. “É a doença do século XXI. O que existe no mercado ainda não resolve o problema”, destacou.

Cláudio Gonçalves chamou ainda a atenção para outros grandes desafios no mercado. “Em 2050 vamos ter 3,5 milhões de pessoas com mais de 65 anos. Isto coloca aqui um desafio e tem impacto na sinistralidade”. Urge, por isso, “trabalhar o tema do lado da saúde e não do lado da doença. Ou seja, as seguradoras incentivarem as pessoas a terem hábitos de saúde mais saudáveis”, numa aposta na promoção da saúde.

Para o diretor-geral da NacionalGest, “as seguradoras e a distribuição têm um papel importante na prevenção e na promoção da saúde, incentivando as pessoas a terem hábitos mais saudáveis”.

Também Teresa Bartolomeu, responsável de oferta saúde do Grupo Ageas Portugal (Médis) sublinhou esta necessidade da promoção da saúde. “Temos de trabalhar antes de a doença acontecer. Em 2001 criámos a figura do médico assistente, que gere a saúde da pessoa. Por exemplo, como seguradora, já estamos a organizar rastreios no mercado para o cancro colorretal com vista a uma deteção precoce”, salientou a responsável.

Na mesma conferência, Teresa Bartolomeu contabilizou que “40% das pessoas vão ter cancro no futuro e podem ser evitáveis com a mudança de comportamento”. “Logo, vamos ter de atuar antes. Como seguradoras e com as carteiras de clientes que temos, temos de investir dessa forma”, insistiu.

Ricardo Raminhos, administrador executivo da MGEN Portugal, lembrou que “as pessoas estão a procurar mais os cuidados de saúde privados”, o que está a fazer disparar os custos das seguradoras. Ainda assim, Ricardo Raminhos considerou que “é possível criar produtos lucrativos para as pessoas que têm mais de 65 anos [e] há um valor acrescentado a ser criado”.

Rui Dinis, CEO da Planicare, falou igualmente de um “enorme potencial” a explorar nos seguros de saúde, até porque “existem nichos de mercado em que o produto standard não serve”. Até porque o SNS também não consegue dar resposta. “As limitações do SNS, que colocam esse vazio da demora na resposta, levam a que as pessoas não tenham muita paciência para esperar. Daí, a maior tendência para o privado e, logo, a aderirem a um seguro de saúde”, concluiu Rui Dinis.

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