Seguros de saúde como “produto de consumo” exigem novas respostas ao setor
Angariar clientes mais novos, acompanhar o ciclo de vida dos segurados e apostar na promoção da saúde são algumas das respostas dos especialistas que participaram no 3.º Fórum Nacional de Seguros.
Angariar clientes cada vez mais novos, acompanhando o seu ciclo de vida com um seguro de saúde adaptável em função da idade. Assim como apostar na prevenção e promoção da saúde, incentivando os clientes a terem uma melhor qualidade de vida, de modo a prevenir doenças mais graves no futuro e, por consequência, baixar os custos das seguradoras com as despesas, sobretudo em segurados a partir dos 65 anos. Foram estes os grandes desafios lançados pelos participantes no painel “Seguros de saúde: produtos de consumo! E agora?”, na Alfândega do Porto.
Durante o 3.º Fórum Nacional de Seguros, uma organização do ECOseguros e da Zest que termina esta quarta-feira na cidade Invicta, a porta-voz da ASISA Portugal, Paula Serra, apelou a uma mudança de paradigma no setor segurador. “Devemos preparar o mercado junto da distribuição para integrar o seguro de saúde cada vez mais cedo, [angariando um público] mais jovem, [de modo] a assegurar o ciclo de vida do doente“.
Para a responsável nacional de marketing e comercial da ASISA Portugal, “faz falta as seguradoras perceberem que o cliente não pode ter o mesmo seguro de saúde durante o ciclo de vida, mas sim adaptar a oferta”. “Estou a fazer update na minha carteira de clientes; estou acompanhar o ciclo de vida do cliente”, acrescentou.
“A solução não passa por fazer um produto para seniores, mas começar pelos clientes mais novos. Qualquer jovem já sabe que se não tiver seguro de saúde vai estar imenso tempo à espera” no Serviço Nacional de Saúde (SNS), que não tem capacidade de resposta”, assinalou Paula Serra, reiterando que “o segmento que devemos começar a trabalhar são as idades mais jovens” e devem ser pensadas “soluções que acompanham o ciclo de vida do cliente”.
Faz falta as seguradoras perceberem que o cliente não pode ter o mesmo seguro de saúde durante o ciclo de vida, mas sim adaptar a oferta. Estou a fazer update na minha carteira de clientes; estou acompanhar o ciclo de vida do cliente.
“Assegurar um segmento mais sénior traz desafios que têm a ver com a sustentabilidade, mas traz [igualmente] outros desafios, como a prevenção da saúde e trabalhar a literacia junto da distribuição“, completou a responsável.
Cláudio Gonçalves, diretor-geral da NacionalGest, chamou a atenção para outras oportunidades no mercado e que o setor não está a cobrir, como disse ser o caso do problema da obesidade, assim como criar produtos mais eficazes para a área da saúde mental. “É a doença do século XXI. O que existe no mercado ainda não resolve o problema”, destacou.
Cláudio Gonçalves chamou ainda a atenção para outros grandes desafios no mercado. “Em 2050 vamos ter 3,5 milhões de pessoas com mais de 65 anos. Isto coloca aqui um desafio e tem impacto na sinistralidade”. Urge, por isso, “trabalhar o tema do lado da saúde e não do lado da doença. Ou seja, as seguradoras incentivarem as pessoas a terem hábitos de saúde mais saudáveis”, numa aposta na promoção da saúde.
Para o diretor-geral da NacionalGest, “as seguradoras e a distribuição têm um papel importante na prevenção e na promoção da saúde, incentivando as pessoas a terem hábitos mais saudáveis”.
Também Teresa Bartolomeu, responsável de oferta saúde do Grupo Ageas Portugal (Médis) sublinhou esta necessidade da promoção da saúde. “Temos de trabalhar antes de a doença acontecer. Em 2001 criámos a figura do médico assistente, que gere a saúde da pessoa. Por exemplo, como seguradora, já estamos a organizar rastreios no mercado para o cancro colorretal com vista a uma deteção precoce”, salientou a responsável.
Na mesma conferência, Teresa Bartolomeu contabilizou que “40% das pessoas vão ter cancro no futuro e podem ser evitáveis com a mudança de comportamento”. “Logo, vamos ter de atuar antes. Como seguradoras e com as carteiras de clientes que temos, temos de investir dessa forma”, insistiu.
Já Ricardo Raminhos, administrador executivo da MGEN Portugal, lembrou que “as pessoas estão a procurar mais os cuidados de saúde privados”, o que está a fazer disparar os custos das seguradoras. Ainda assim, Ricardo Raminhos considerou que “é possível criar produtos lucrativos para as pessoas que têm mais de 65 anos [e] há um valor acrescentado a ser criado”.
Rui Dinis, CEO da Planicare, falou igualmente de um “enorme potencial” a explorar nos seguros de saúde, até porque “existem nichos de mercado em que o produto standard não serve”. Até porque o SNS também não consegue dar resposta. “As limitações do SNS, que colocam esse vazio da demora na resposta, levam a que as pessoas não tenham muita paciência para esperar. Daí, a maior tendência para o privado e, logo, a aderirem a um seguro de saúde”, concluiu Rui Dinis.
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