Um quarto dos diplomados com qualificações a mais para o emprego que têm

Sobrequalificação vem crescendo em Portugal: há mais trabalhadores com qualificações acima do necessário para os empregos que têm. Estudo do CoLabor nota que mulheres são mais afetadas.

Se há apenas algumas décadas a maioria dos trabalhadores portugueses tinha menos qualificações do que as necessárias para os empregos que exerciam, hoje a situação é a inversa. Um quarto dos trabalhadores que concluíram o ensino superior têm habilitações em excesso para os postos de trabalho que ocupam, revela um novo estudo do Laboratório Colaborativo para o Trabalho, Emprego e Proteção Social (CoLabor). As mulheres são as mais afetadas por este fenómeno.

“Num contexto de aumento de qualificações no mercado de trabalho, a incidência da sobrequalificação, em particular entre os trabalhadores com ensino superior, tem crescido“, alertam os especialistas Frederico Cantante e Pedro Estêvão nesta análise.

Segundo eles, ainda que esta tendência seja expectável face à qualificação da população portuguesa, é importante monitorizar a sua magnitude, já que “traduz um desajustamento estruturalmente negativo“.

Enquanto em 1995 quase dois terços dos trabalhadores (65%) estavam numa situação de subqualificação — isto é, “tinham habilitações escolares inferiores às expectavelmente necessárias para o exercício das tarefas e funções exigidas pela sua profissão” –, em 2021 esse grupo tinha caído 39 pontos percentuais, para 26%.

Por outro lado, enquanto em 1995 a sobrequalificação tinha uma “incidência marginal”, em 2021 cerca de 14% dos empregados estavam nessa situação. Aliás, se olharmos apenas para os trabalhadores que concluíram o ensino superior, verifica-se que 25% têm habilitações a mais para os empregos que exercem.

“O aumento da sobrequalificação indica que uma parte relevante dos recursos humanos qualificados estão a ser desaproveitados — ou, pelo menos, a executar funções e tarefas com um nível de complexidade que não exigem ou formação de nível secundário ou formação de nível superior, com efeitos potenciais na exclusão de menos qualificados do mercado de trabalho“, assinala os especialistas do CoLabor.

Este fenómeno afeta particularmente as mulheres — pelo que pode ser um “indicador pertinente na análise das desigualdades de géneros — e os mais jovens. Já nos mais velhos é mais mais frequente a subqualificação.

Quanto aos setores de atividade onde a sobrequalificação é mais incidente, as atividades administrativas e os serviços pessoais, de proteção e segurança destacam-se, ao concentrarem 40% dos empregados com ensino superior sobrequalificados. Também o comércio e o setor financeiros apresentam “valores elevados” para este indicador”, sublinha o CoLabor.

Em remate, os especialistas alertam ainda que a sobrequalificação na entrada no mercado de trabalho “define em boa medida o restante trajeto“.

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