Produção de vinho no ano passado atingiu máximo desde 2001
Dados do INE mostram que a produção de vinho ascendeu a 7,4 milhões de hectolitros em 2023, tendo sido a mais alta desde 2001, enquanto a campanha de cereais outono/inverno "foi a pior de sempre".
O Instituto Nacional de Estatística (INE) confirmou que, no ano passado, a produção de vinho aumentou em quase todas as regiões, atingindo os 7,4 milhões de hectolitros, o valor mais elevado desde 2001, numa altura que Bruxelas avançou com um pacote de apoio de 15 milhões para produtores de vinho portugueses. Este valor será para financiar a destilação temporária de vinho em resposta à situação de crise no Portugal, visando eliminar quantidades excedentárias e reequilibrar o mercado.
Os dados divulgados indicam também que o grau de auto-aprovisionamento de vinho se fixou em 108,9% na campanha de 2022/2023, abaixo dos 112,4% registados em 2021/2022. Já a produção vinícola registou um decréscimo de 6,9% face à campanha anterior, agravada pela redução de 20,2% das importações. O consumo de vinho decresceu 9,2%, “particularmente no que respeita aos vinhos sem certificação”, de acordo com o INE. As estatísticas agrícolas indicam que na campanha 2022/2023 registou uma diminuição significativa das exportações de vinho (-25,9%).
Os produtores portugueses responsabilizam a falta de controlo no destino comercial que é dado ao vinho importado a granel, sobretudo de Espanha, pela atual “bolha de acumulação de stocks” que está a afetar o setor. Todos os dias, o país está a importar vinho a um ritmo equivalente a quase um milhão de garrafas, o que é descrito pelo presidente da ANDOVI – Associação Nacional das Denominações de Origem Vitivinícolas, Francisco Toscano Rico, como “uma loucura de vinho” a entrar no mercado nacional.
Dados do INE publicados esta terça-feira revelam ainda que o ano agrícola 2022/2023 em Portugal continental “caracterizou-se em termos meteorológicos como extremamente quente, sendo o mais quente desde que há registos sistemáticos (ano agrícola 1931/1932)”. Com a primavera de 2023 a ser classificada como a “segunda mais seca desde 1931 (atrás da primavera de 2009) e a mais quente deste século.
Pior campanha de sempre para os cereais
As temperaturas excessivas penalizaram várias campanhas agrícolas, com os cereais a registarem o pior ano de sempre: “A campanha dos cereais para grão de outono/inverno 2022/23 foi muito marcada pela seca severa da primavera, sendo a pior de sempre para todas as espécies cerealíferas, resultado dos decréscimos de áreas (exceto cevada) e de produtividade”, lê-se no relatório do gabinete de estatísticas.
Contrariamente aos cereais, o INE releva que a produção de azeite ultrapassou os 1,75 milhões de hectolitros em 2023, o que corresponde à segunda campanha oleícola mais produtiva de sempre.
Apesar de o ano agrícola 2022/2023 ter sido considerado o “mais quente desde que há registos sistemáticos”, no ano passado registaram-se menos incêndios. Dados do INE mostram que “deflagraram 7.562 incêndios rurais em 2023, menos 27,6% de ocorrências comparativamente a 2022. O número de ignições representa o menor valor dos últimos 20 anos.”
“Em 2023, a superfície ardida em Portugal correspondeu a 34,5 mil hectares no Continente e 5,2 mil hectares na Região Autónoma da Madeira (110,1 mil hectares e 0,09 mil hectares em 2022, respetivamente), o que posiciona 2023 como o terceiro ano menos severo da última década (2014-2023), com 68,6% da área média ardida no último quinquénio (57,8 mil hectares)”, lê-se ainda no destaque do instituto.
O valor das vendas das indústrias alimentares em 2023 fixou-se nos 17 mil milhões de euros, mais 1,3 mil milhões de euros quando comparado com 2022. O ano passado, 77,4% do valor das vendas das indústrias alimentares teve como destino o mercado nacional (menos 0,2 pontos percentuais face a 2022) e 16,9% a União Europeia (mais 0,1 pontos percentuais em relação a 2022).
As estatística agrícolas de 2023, publicadas pelo INE, mostram ainda que a atividade de “abate de animais, preparação e conservação de carne e de produtos à base de carne” foi a mais valorizada das indústrias alimentares com 20% do total do valor de vendas, valor ligeiramente superior ao alçando em 2022 (19,2%).
A indústria das bebidas faturou 3,7 mil milhões de euros em 2023, mais 166 milhões de euros que em 2022, tendo a “indústria do vinho” contribuído com 49,5% do total do valor das vendas (51,9% em 2022). Já as vendas da indústria do tabaco ascenderam a 707,4 milhões de euros, mais sete milhões face a 2022.
Por sua vez, o ano passado, o rendimento da atividade agrícola, em termos reais, por unidade de trabalho ano registou uma subida de 8,5%. Para esta evolução foi “determinante” um acréscimo do Valor Acrescentado Bruto (VAB) em termos nominais (31,9%) e a forte redução dos outros subsídios à produção (-46,1%).
O INE detalha que o acréscimo do VAB, em termos nominais, “resultou de um crescimento da produção do ramo agrícola (+16,7%) superior ao do consumo intermédio (CI) (+9,7%). Em termos reais, o menor aumento do VAB (+3,6%) refletiu menores acréscimos em volume da produção e do CI (+1,7% e +0,8%, respetivamente) e um acentuado acréscimo do deflator implícito”.
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Produção de vinho no ano passado atingiu máximo desde 2001
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