Administração da Inapa volta a atirar culpas à Parpública: “Destruição de valor massiva facilmente evitável”
De saída, a administração volta a atribuir culpas à Parpública, adiantando que só há pouco tempo teve conhecimento de uma instrução do antigo secretário de Estado para não injetar dinheiro na empresa.
A falta de apoio da Parpública à Inapa determinou a falência “evitável” do grupo e inviabilizou “a operação de aquisição da Inapa por parte do grupo mundial de distribuição de papel”, que estava a ser discutida com a administração, acusa a comissão executiva liderada por Frederico Lupi, numa carta de despedida aos colaboradores a que o ECO teve acesso.
A administração, que agora abandona a empresa, diz ainda que a decisão do acionista Estado afetou todos os acionistas e trabalhadores, criando uma “destruição de valor massiva facilmente evitável”, adiantando ainda que apenas há pouco tempo teve conhecimento de uma instrução vinculante do secretário de Estado do anterior Governo, que proibia qualquer aporte financeiro à Inapa.
“A inevitável insolvência do grupo em resultado da falta de apoio da Parpública foi repetida e detalhadamente explicada ao maior acionista da Inapa que, detendo 45% da empresa, afetou 100% dos acionistas e a totalidade dos trabalhadores com a sua decisão”, refere a comissão executiva aos colaboradores. “O valor do Grupo Inapa agora em insolvência será sempre inferior ao valor que tinha antes, sem falar nos postos de trabalho, nos parceiros e demais stakeholders, destruição de valor massiva facilmente evitável”, atira a comissão liderada por Frederico Lupi.
Num texto marcado pela atribuição de responsabilidades à Parpública, o maior acionista da empresa com cerca de 45% do capital, a administração reforça que, entre 2020 e 2023, foram feitos “mais de 50 contactos com a Parpública, entre telefonemas, mails e reuniões, procurando uma solução de longo prazo que permitisse afirmar a Inapa como um líder europeu na distribuição de papel sólido e rentável”. Contudo, nunca tiveram o apoio do maior acionista. E, adianta, “só na fase final revelou a existência de uma instrução vinculante do secretário de Estado do anterior Governo, que proibia qualquer aporte financeiro à Inapa“.
“Mesmo no contexto muito difícil da insolvência da Inapa IPG e imediato contágio a restantes empresas do Grupo, assegurámos o cumprimento das nossas responsabilidades junto dos trabalhadores e Estado com o pagamento dos salários e impostos até à nossa saída“, adianta ainda a administração da empresa, cujo processo foi atribuído na passada semana ao administrador de insolvência Bruno Costa Pereira.
“Infelizmente, apesar de termos contado sempre com o apoio dos principais credores – que chegaram a aceitar uma redução de dívida muito significativa, na ordem dos 80%, numa solução conjunta com a Parpública – nunca foi possível, por indisponibilidade do maior acionista, chegar a uma solução de capitalização da empresa, que teria permitido uma significativa melhoria do balanço da Inapa e da sua capacidade de se financiar junto de fornecedores e bancos”, acusa.
A administração reforça ainda que, apesar da ausência de ajuda da Parpública, mesmo com o “voto de confiança” atribuído à atual administração, esta prosseguiu “a otimização da estrutura tendo em vista a adaptação do Grupo à nova realidade (pós-Covid), num contexto de queda do mercado de papel de cerca de 40% entre 2019 e 2023. Concluímos as iniciativas anteriormente em curso e intensificámos o plano de restruturação da Alemanha, implementando medidas muito difíceis, mas necessárias, que implicaram a saída de centenas de pessoas na nossa operação alemã”.
Já no início deste ano, diz a administração que está de saída, foi realizada uma revisão estratégica, com o objetivo de analisar as opções existentes e mapear potenciais caminhos para o desenvolvimento da Inapa, tendo identificado linhas de atuação e potenciais parceiros estratégicos.
“Os contactos que desenvolvemos resultaram numa expressão de interesse por parte de uma empresa global de referência no nosso setor, com um calendário de trabalhos que resultaria na aquisição do grupo no 2º semestre de 2024″. Um negócio que não pode avançar face à insolvência na Alemanha, com repercussões no grupo, após a Parpública ter recusado participar num empréstimo de emergência de 12 milhões – no qual participaria com 8,4 milhões.
“Solicitámos aos nossos acionistas qualificados – Parpública, Nova Expressão e Novo Banco
– um empréstimo de curto prazo no valor de 12 milhões de euros, a ser integralmente reembolsado até outubro de 2024”, acrescenta a equipa liderada por Lupi, detalhando que “tratava-se de um empréstimo de curto prazo, a três meses, e remunerado a uma taxa de juro de mercado.”
“Foi amplamente partilhado com a Parpública que, atendendo às estritas regras de declaração de insolvência na Alemanha, a inexistência do apoio de tesouraria solicitado resultaria na insolvência da Inapa Deutschland e, por contágio, do Grupo Inapa, um dos principais distribuidores de papel na Europa, com centro de decisão em Portugal, e com mais de 1.000 milhões de euros de faturação”, escreve a administração.
Em jeito de conclusão, a administração reforça ainda que “a Parpública foi também alertada para o facto de a insolvência súbita, mas evitável, da Inapa impactar diretamente 1.400 trabalhadores, dos quais mais de 200 em Portugal, bem como inviabilizar a operação de aquisição da Inapa por parte do grupo mundial de distribuição de papel, em discussão.”
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