Mulheres na liderança. “Não chega ensinar a agirem como homens”

Podem as mulheres ser líderes tão boas quanto os homens? Sim, mas o caminho para o sucesso é mais complexo do que o dos pares. Novo estudo deixa claro que, além de competentes, têm de ser empáticas.

Na liderança, como na vida, não há um caminho que sirva para todos. Um novo estudo da Faculdade de Economia da Universidade Nova de Lisboa (Nova SBE) mostra que, sim, tanto homens como mulheres podem atingir níveis de sucesso semelhantes em cargos de topo, mas a elas não basta serem competentes. Têm mesmo de ser empáticas e mostrar o seu “lado comunitário” para atingirem os níveis mais elevados de desempenho, explica a investigadora Jenny Hoobler.

“Estou muito interessada na falta contínua de mulheres em lugares de liderança. A nível mundial, só um em cada quatro cargos de gestão sénior é ocupado por mulheres“, salienta a também professora universitária.

Foi perante este cenário de escassez persistente de mulheres na liderança que Jenny Hoobler, a par de dois outros investigadores norte-americanos (Kayla Stajkovic, da University of California Davis, e Alex Stajkovic, da University of Wisconsin) decidiram estudar a forma como as mulheres são percecionadas nos lugares de topo.

Numa das análises conduzidas neste âmbito, 170 estudantes de mestrado da Universidade Nova de Lisboa foram confrontados com oito cenários com diferentes estilos de liderança: uns baseados em comportamentos agentes prescritivos (competência, diligência e independente), outros em comportamentos agentes proscritivos (domínio e ambição) e outros em comportamentos comunitários (empatia).

“Concluímos que as mulheres e os homens conseguem atingir os mesmos graus de eficácia na liderança, mas cumprindo comportamentos diferentes“, sublinha a investigadora, em conversa com o ECO.

No caso dos homens, os níveis mais elevados de desempenho enquanto líderes são atingidos quer adotem somente comportamentos agentes precristivos (ou seja, sejam competentes) quer combinem essas atitudes com comportamentos comunitários (ou seja, sejam, por exemplo, empáticos).

Já, no caso delas, a eficácia máxima enquanto líderes depende mesmo de combinarem essas duas esferas. Por outras palavras, não lhes basta serem competentes, têm de mostrar que se preocupam com as pessoas.

Não podemos simplesmente ensinar as mulheres a agirem como homens. Elas têm de mostrar a sua autenticidade e o seu lado comunitário. Mesmo que sejam competentes, têm de mostrar que são empáticas”, explica Jenny Hoobler.

E continua: “Os homens podem ser eles próprios para serem vistos como bons líderes. Mas as mulheres têm de se certificar que não são dominantes e que mostram que se preocupam com as pessoas. É mais complexo”.

Por outro lado, em “certos contextos”, a combinação de características que é exigida às mulheres pode mesmo ser uma vantagem face aos homens, levando a resultados excecionais que superam os de quem tem um estilo de liderança meramente baseado na competência.

Por exemplo, numa amostra de líderes dos Estados Unidos, concluiu-se que os esforços para combater os casos de pessoas em situação de sem abrigo foram mais bem-sucedidos (houve uma maior quebra da taxa) quando as organizações eram lideradas por mulheres com uma combinação de agência prescritiva e comunitária, face às organizações lideradas com outros estilos de liderança.

De acordo com Jenny Hoobler, estas conclusões podem agora servir para se avaliar a separação dos programas de formação em liderança em função do género.

A também professora universitária adianta que, de resto, as gerações mais novas parecem achar que a desigualdade de género na liderança “é algo do passado”, mas alerta que tal não é verdade. Basta olhar para os números, realça.

E atira que gosta das leis que ditam o número mínimo de mulheres, por exemplo, em cargos de topo, ainda que seja preciso ter cuidado. “Temos de garantir que as mulheres que chegam a esses lugares são altamente qualificadas. Caso contrário, só se sedimenta a opinião de que as mulheres não são boas o suficiente“, declara.

A investigadora avisa ainda que as quotas de género não são a bala de prata para resolver a persistente desigualdade de género na liderança. Antes, devem servir apenas de “penso rápido” para “corrigir as injustiças”, defende.

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