Contas da TAP fazem boa figura na comparação com pretendentes

TAP tem receitas por passageiro abaixo das pares, mas também custos mais baixos. Só a TAP e a IAG conseguiram melhorar rentabilidade e ter lucros no semestre.

O lucro conseguido no primeiro semestre pode ser “magro”, mas num contexto difícil para a aviação as contas da TAP comparam bem com as das três companhias que já manifestaram interesse em comprá-la numa eventual reprivatização, onde continua a não haver desenvolvimentos. A transportadora portuguesa ainda fica aquém na receita por passageiro conseguida pelas pares, mas destaca-se com os custos mais baixos e a segunda melhor rentabilidade.

Das três pretendentes, a IAG é a que apresenta melhor saúde financeira. Lufthansa e Air France-KLM tiveram um semestre para esquecer.

A empresa liderada por Luís Rodrigues foi das quatro a que menos cresceu as receitas (3%) no primeiro semestre, com a evolução positiva a dever-se sobretudo à forte melhoria no volume de negócios da manutenção, cujos proveitos saltaram 36,7%. As receitas de passageiros aumentaram apenas 2,6%, evolução que baixa para 0,8% quando se considera apenas o segundo trimestre.

Com a companhia portuguesa a transportar mais 2,4% de passageiros entre abril e junho, o desempenho das receitas é explicado pela pressão sobre os preços, resultado do forte aumento de capacidade realizado pelas maiores companhias. A receita de passageiros (por lugar-quilómetro voado) baixou em todas as geografias onde a TAP opera, com exceção da Europa. No caso do Brasil, o preço das passagens teve de acompanhar a desvalorização do real. Este contexto de preços deverá manter-se no resto do ano.

Com a travagem da economia e o arrefecimento do consumo dos consumidores a pesar sobre o setor, IAG, Lufthansa e Air France – KLM também registaram aumentos modestos das vendas, entre 4,3% e 6%.

Onde a TAP continua a ficar aquém das pares é na receita conseguida face à capacidade oferecida nos seus voos. O indicador normalmente usado na indústria é a receita de passageiros por lugar-quilómetro (PRASK, na sigla em inglês), que na transportadora portuguesa foi de 6,84 euros no primeiro semestre, a mais baixa das quatro.

A companhia portuguesa regista, por outro lado, o menor custo operacional recorrente por lugar-quilómetro (RASK). Os 7,11 euros da TAP, praticamente a mesma soma do semestre homólogo, ficam bem abaixo dos pretendentes. Apesar do aumento de 35,2% dos custos com pessoal, fruto do fim dos cortes salariais e das condições negociados nos novos acordos de empresa, os gastos operacionais aumentaram apenas 3,3%, graças à diminuição quer dos encargos com combustível (-4,7%) quer dos custos operacionais de voo (-3,9%), com o menor recurso ao aluguer externo de aviões.

Apesar do contexto desafiante, a TAP e o grupo IAG destacam-se pelo facto de ambos terem conseguido melhorar a sua rentabilidade operacional. A dona da British Airways, Iberia ou Vueling conseguiu elevar a margem operacional recorrente para os 8,9%, seguida da TAP, que a subiu para 7,1%.

Rumo diferente tiveram as contas da Lufthansa e Air France – KLM, que registaram um semestre particularmente difícil. O grupo alemão viu o resultado operacional cair de 777 milhões de euros nos primeiros seis meses de 2023 para -163 milhões este ano. “O aumento de capacidade generalizada no mercado intensificou a pressão sobre os preços para as companhias aéreas. Além disso, as greves no primeiro trimestre e aumentos de custos relacionados com a inflação afetaram negativamente os resultados”, justificou o CEO, Carsten Spohr.

O aumento de custos, incluindo com combustível, também contribuiu para a quebra significativa do resultado operacional do grupo Air France – KLM, de 426 para 24 milhões. As contas foram ainda penalizadas pelos Jogos Olímpicos de Paris.

O resultado operacional refletiu-se nos lucros líquidos, onde o grupo IAG foi, de longe, o que mais brilhou, conseguindo um lucro de 905 milhões de euros, menos 2% do que no período homólogo. A TAP também conseguiu ficar acima da linha de água, embora por pouco, fugindo aos prejuízos dos primeiros três meses do ano com um resultado de 400 mil euros no semestre, longe dos 23 milhões obtidos no período homólogo. Já a Air France – KLM e a Lufthansa ficaram no vermelho, com prejuízos de 400 e 265 milhões, respetivamente.

A evolução distinta das contas volta a ficar patente na alavancagem financeira das companhias, que melhorou na TAP e IAG e aumentou na Lufthansa e Air France – KLM. A dívida da transportadora portuguesa manteve-se estabilizada nos 1.441,7 milhões, mas o aumento do dinheiro em caixa, para o que contribuiu a injeção do Estado de 343 milhões, permitiu uma descida de 59,1% da dívida financeira líquida, que no final de junho se cifrava em 266 milhões. O rácio entre a dívida financeira e o EBITDA baixou para 2,1 vezes, um mínimo para a TAP e que compara com 5,2 vezes em 2019.

A IAG destaca-se neste capítulo, com uma dívida líquida de apenas 1,1 vezes o EBITDA. De resto, olhando apenas para as contas do primeiro semestre, o grupo dono da British Airways e Iberia é, dos três pretendentes à TAP aquele que apresenta a melhor saúde financeira.

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