Da “Champions das pastas” à “comissária desde a troika”. Partidos reagem ao cargo de Maria Luís em Bruxelas
Iniciativa Liberal, Chega e PCP já reagiram à nomeação da antiga ministra das Finanças para a pasta dos Serviços Financeiros no próximo elenco da Comissão Europeia.
Poucas horas depois da presidente da Comissão Europeia ter revelado a nomeação de Maria Luís Albuquerque para a pasta de Serviços Financeiros no próximo Executivo da União Europeia, os partidos com assento parlamentar começaram a reagir à escolha de Ursula von der Leyen.
“Diria que esta pasta que foi atribuída a Maria Luís Albuquerque não é a Champions das pastas. É uma pasta importante seguramente, mas de segunda linha e, portanto, ali num segundo pelotão de importância das pastas”, afirmou Rui Rocha em declarações aos jornalistas após ter-se reunido com a direção do Hospital de São Francisco Xavier, em Lisboa, no âmbito das jornadas parlamentares da Iniciativa Liberal (IL).
Rui Rocha considerou que a pasta dos Serviços Financeiros e União de Poupança e Investimento é “coerente com o perfil de Maria Luís Albuquerque, porque se trata de um perfil sobretudo tecnocrático”, mas “não tem um peso político determinante”.
“Não tem a pasta do alargamento, não tem as principais pastas económicas. Diria que é uma escolha razoável e adequada face ao perfil da candidata que Portugal apresentou à Comissão. Portanto, parece-ma uma boa pasta, não com enorme peso político, e adequada ao perfil da pessoa em causa”, disse.
Questionado sobre que prioridades é que Maria Luís Albuquerque deveria ter nesta pasta, Rui Rocha defendeu que é importante que “tudo o que tenha a ver com a existência de mecanismos e contextos que permitam uma maior concorrência dos serviços financeiros, a nível da União Europeia (UE)”, assim como “mais transparência e informação aos cidadãos.
“Nós, em Portugal, vimos há relativamente pouco tempo como as propostas de poupança dos bancos não eram competitivas, e houve um momento em que isso foi muito sublinhado. Eu creio que tudo o que seja fomentar a transparência e coerência nessa matéria, faz bem à UE e aos seus cidadãos”, frisou.
Já interrogado se considera que Maria Luís Albuquerque terá um espírito reformista que a IL tem reclamado, Rui Rocha considerou que a pasta que irá assumir não tem “um peso que vá permitir fazer coisas diferenciadas”.
“Portanto, eu creio que será menos possível com uma pasta que é sobretudo tecnocrática fazer transformações muito relevantes na UE e, portanto, o que eu espero é que esta Comissão Europeia possa ter essa ambição e energia”, disse.
O líder da IL recordou que, na semana passada, o ex-primeiro-ministro italiano e antigo presidente do Banco Central Europeu (BCE) Mário Draghi apresentou um relatório “que traça um perfil de estagnação e de enorme dificuldade da UE” em acompanhar desafios como a inovação ou a energia.
“Portanto, mais do que pensar que Maria Luís Albuquerque, com esta pasta na Comissão, será capaz de o fazer, o que eu desejo é que a Comissão, no seu conjunto, tenha essa energia reformista e seja capaz de afrontar essas limitações e essa visão estagnada da Europa”, afirmou.
Chega não vai deixar cair explicações sobre a TAP
Já o presidente do Chega afirmou que comissária portuguesa Maria Luís Albuquerque ficou com a pasta que lhe é “mais afeta”, e insistiu na necessidade de ouvir a antiga ministra no parlamento sobre a TAP.
Em declarações aos jornalistas à margem de uma visita ao Parque Eduardo VII, em Lisboa, para falar com os moradores da zona, o presidente do Chega, André Ventura, sublinhou a competência de Maria Luís Albuquerque, mas disse que “está politicamente fragilizada, pelo que acabamos de saber da TAP e tendo sido ela a ministra que tutelava o dossier da TAP”.
“Eu não gostaria que a comissária entrasse em funções sem dar uma explicação que me parece óbvia e necessária, sobre o que se passou na TAP. Eu sei que já há uma série de audições marcadas e que muitos destes responsáveis virão ao Parlamento, mas a própria Maria Luísa Albuquerque, visto que vai assumir uma posição que nenhum dos outros intervenientes vai ter, deveria publicamente dar este esclarecimento”, acrescentou.
Ventura afirmou que, sendo Albuquerque “uma espécie de ministra de Portugal em Bruxelas era importante que desse explicações”, e fez votos de que “faça um bom trabalho”, mesmo tendo sido uma nomeação do primeiro-ministro “aparentemente sem nenhum consenso, que com os partidos, que com o Presidente da República”.
O líder do Chega disse ainda que já foram dadas indicações aos eurodeputados do partido no Parlamento Europeu, e também ao grupo europeu onde o Chega se insere, para que “não deixassem passar este tema” e questionassem a nova comissária em Bruxelas. Se “insistir em não responder em Lisboa, [tem] de responder em Bruxelas sobre esta situação, em nome da transparência”, concluiu.
PCP: Maria Luís “é comissária europeia desde a troika”
Já da parte do PCP, o secretário-geral, Paulo Raimundo, ironizou que Maria Luís Albuquerque “é comissária europeia desde a troika”, desvalorizando a pasta de Serviços Financeiros atribuída à comissária portuguesa.
“Maria Luís Albuquerque é comissária europeia há muitos anos, pelo menos desde a troika. Mantém esse papel, não dou particular destaque à pasta. Formalmente foi agora nomeada, mas desde a ‘troika’ que o é e nunca mais deixou de o ser”, disse Paulo Raimundo em declarações aos jornalistas no final de uma visita à empresa Silopor, na Trafaria.
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, propôs hoje a atribuição da pasta dos Serviços Financeiros e União de Poupança e Investimento à comissária nomeada por Portugal, Maria Luís Albuquerque, segundo a sua proposta de equipa.
“Maria Luís Albuquerque será a comissária europeia para os Serviços Financeiros e União de Poupança e Investimento e isso será vital para completar a nossa União do Mercado de Capitais e para aumentar as nossas poupanças e o nosso investimento”, divulgou Ursula von der Leyen em conferência de imprensa à margem da sessão plenária do Parlamento Europeu, na cidade francesa de Estrasburgo.
(Notícia atualizada às 14h55 com as reações dos outros partidos)
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