Elevada carga e esforço fiscal são a principal preocupação das empresas portuguesas
Nove em cada dez empresários considera que há margem para melhorar políticas fiscais, segundo inquérito da Deloitte. Empresas consideram IRS jovem ineficaz na retenção de talento.
A “elevada carga” e esforço fiscal são apontados pelas empresas portuguesas como a principal preocupação este ano, enquanto o desemprego a menor, de acordo com um estudo do Observatório da Competitividade Fiscal, divulgado pela Deloitte esta segunda-feira. No entanto, a perceção dos empresários portugueses relativamente ao sistema fiscal português melhorou ligeiramente face ao ano passado.
A consultora aponta que esta preocupação surge, com uma posição média de 4,34 entre as principais preocupações para este ano, seguindo-se a “ausência de reformas estruturais concretizadas”, a cibersegurança” e falta de mão-de-obra qualificada. “A grande maioria das dimensões elencadas apresenta posições médias muito próximas entre si, o que revela que nenhuma delas é, por si só, especialmente preocupante face às demais”, assinala.
No entanto, destaca que o desemprego (com uma posição média de 2,70) “se assume, de forma ligeiramente destacada, como a menor das preocupações em 2024“.
O estudo revela que 98% dos inquiridos considera que ainda existe margem para atuar nas políticas fiscais dirigidas às famílias e empresas, sendo que 69% destes afirma que “é necessário ponderar o mix das medidas para não comprometer a consolidação das contas públicas”.
Todavia, os empresários estão ligeiramente mais otimistas sobre a complexidade e eficiência do sistema fiscal português. Em 2023, 72% a concordavam que o sistema era complexo e ineficaz, tendo a percentagem diminuído para 70%. Em sentido inverso, a percentagem dos inquiridos que avaliam o sistema fiscal como complexo, mas eficaz, aumentou de 18% (OE2023) para 28%.
Em termos conjugados, “71% dos inquiridos consideram o sistema fiscal ineficaz (77% em 2023) e 98% qualificam-no como complexo (90% em 2023). Verifica-se assim, este ano, um manifesto incremento da perceção de eficácia e complexidade do sistema fiscal português”, refere.
“A tendência em observatórios de anos anteriores apontava para uma insatisfação generalizada das empresas portuguesas face à política fiscal, mas este ano observamos um passo no sentido inverso, com o sistema fiscal português a ser considerado como mais eficaz pelos inquiridos. Em relação a 2023, é um incremento de 10%”, destaca Luís Belo, partner e tax leader da Deloitte.
Empresas consideram IRS jovem ineficaz na retenção de talento
O anterior Governo reforçou, no Orçamento do Estado para 2024, o IRS Jovem por via do aumento dos limites e percentagens de isenção parcial, aplicável aos rendimentos das categorias A e B, auferidos por jovens entre os 18 e os 26 anos que não sejam considerados dependentes.
Questionados sobre como avaliam a eficácia desta medida para travar a fuga de talento, 79% dos inquiridos considera que o reforço do IRS Jovem atualmente em vigor “foi pouco ou nada eficaz” para esse objetivo, contra apenas 3% dos inquiridos a entenderem que esta medida foi muito eficaz para atingir tal objetivo.
Mais de metade (58%) dos inquiridos considera ainda que a redução temporária da taxa de IVA para 0% no cabaz alimentar de produtos básicos deveria ter sido mantida em vigor em 2024.
SIFIDE II lidera preferência nos incentivos fiscais
A maioria das empresas (64%) continuam a referir que concorreram a incentivos fiscais nos últimos anos e, das que responderam afirmativamente, 78% utilizaram o Sistema de Incentivos Fiscais à I&D Empresarial (SIFIDE II), um aumento de 13 pontos percentuais (pp.) face a 2022.
Este benefício é seguido pelo Regime Fiscal de Apoio ao Investimento (RFAI) (44%) e o Incentivo à capitalização de empresas (ICE) (40%), que “vê a sua relevância incrementar exponencialmente comparativamente a 2023, com um aumento de 32 pontos percentuais”.
Por outro lado, “os benefícios fiscais de natureza contratual ao investimento produtivo (9%) registaram uma quebra significativa face a 2023 (13 pontos percentuais), passando a figurar no último lugar dos incentivos fiscais elencados no estudo aos quais as empresas concorreram nos últimos anos”.
PRR foi escolha de metade das empresas candidatas a incentivos financeiros
Entre as empresas que concorreram a incentivos financeiros (46%), o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) foi o escolhido por 50%, seguindo-se o sistema de incentivos à investigação e ao desenvolvimento tecnológico (45%) e o sistema de incentivos à inovação produtiva (36%), que “mantêm o seu lugar no top 3 dos incentivos financeiros aos quais as empresas mais concorreram nos últimos anos”.
O estudo indica que para 89% dos empresários os incentivos atualmente existentes devem ser mantidos. Contudo, 73% defende que deveriam ser reforçados com novos incentivos, sobretudo nas áreas de investigação e desenvolvimento tecnológico e na inovação produtiva.
Questionados sobre quais as medidas que mais contribuiriam para a melhoria das relações entre os contribuintes e a Administração Fiscal, os empresários apontam a criação e generalização de gabinetes de apoio ao contribuintes, a “generalização do cumprimento das obrigações fiscais por meios eletrónicos, com despiste automático de erros” e a redução da carga fiscal.
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