Filipe Anacoreta Correia: “A mobilidade é a grande paixão, é o tema da cidade”
Os grandes investimentos de Lisboa na melhoria da mobilidade da cidade foram apontados por Filipe Anacoreta Correia, Vice-Presidente da Câmara de Lisboa, durante a conferência Outlook Auto.
Numa reflexão sobre o papel vital da mobilidade no desenvolvimento urbano, Filipe Anacoreta Correia, Vice-Presidente da Câmara de Lisboa, destacou a importância deste tema para a cidade de Lisboa. O vice-presidente frisou, durante o encerramento da conferência Outlook Auto, que hoje, mais do que questões de urbanismo ou licenciamento, os debates mais acesos nas grandes cidades giram em torno da mobilidade.
Numa conversa com António Costa, Diretor do ECO, o vice-presidente admitiu que esta é uma área que provoca polarização, com diversas soluções a serem testadas, desde a redução das emissões de carbono à reestruturação das frotas de transporte público.
"Todos os projetos que têm havido ligados à sustentabilidade, nomeadamente zonas de emissões reduzidas, são muito mais eficientes na dimensão ambiental, na renovação da frota, do que na redução do número de carros.”
Nesse sentido, destacou o compromisso da capital, que já se comprometeu a antecipar em 20 anos o objetivo de neutralidade carbónica, uma vez que quer alcançar essa meta até 2030, sendo a mobilidade sustentável o pilar desta transformação. No entanto, segundo Filipe Anacoreta Correia, apesar de progressos visíveis na qualidade da mobilidade e na redução das emissões, a diminuição do número de carros nas ruas ainda não é tão expressiva quanto o desejado, algo que se espelha em muitas outras cidades no mundo.
“Do acompanhamento que temos feito no âmbito do circuito das C40, das grandes cidades mundiais, aquilo que temos ouvido é que todos os projetos que têm havido ligados à sustentabilidade, nomeadamente zonas de emissões reduzidas, são muito mais eficientes na dimensão ambiental, na renovação da frota, e numa mobilidade mais sustentável, do que na redução do número de carros”, disse.
Investimento histórico no transporte público
O investimento que a Câmara de Lisboa tem feito no transporte público foi algo que o autarca também mencionou, nomeadamente os passes gratuitos para jovens e idosos, que já beneficiam mais de 110 mil pessoas, e que, ao mesmo tempo, promovem a sustentabilidade na capital. Filipe Anacoreta Correia destacou, ainda, que metade dos beneficiários destes passes não fazia parte do sistema anteriormente, o que representa um aumento significativo no uso dos transportes públicos.
“Estamos a fazer um investimento realmente sem precedentes, pelo menos nos últimos 15 anos, na renovação e no alargamento da frota dos autocarros. É um investimento superior a 220 milhões de euros até 2027. Nós precisamos de mais e melhor frota para alargar a oferta. E, por isso, o nosso objetivo é, até 2028, ter uma percentagem muito grande, com quase 90% de uma frota limpa“, revelou.
"Estamos a fazer um investimento realmente sem precedentes, pelo menos nos últimos 15 anos, na renovação e no alargamento da frota dos autocarros. É um investimento superior a 220 milhões de euros até 2027.”
O vice-presidente explicou que esta transformação está a ser feita sem o apoio do PRR (Plano de Recuperação e Resiliência), um cenário que difere de outras cidades europeias como Madrid, que conseguiu modernizar toda a sua frota com este financiamento. Mesmo assim, o autarca garantiu: “Aqui, em Portugal, não foi feita essa opção, e nós lamentamos, mas não deixamos de fazer esse investimento”.
Também a expansão da rede de mobilidade suave, através do sistema de bicicletas partilhadas Gira, faz parte desta aposta. Filipe Anacoreta Correia revelou que a rede e o número de bicicletas aumentaram mais de 50% desde o início do mandato, com o objetivo de cobrir as 24 freguesias. E uma medida que poderá ajudar a atingir este objetivo é a integração das bicicletas no passe navegante: “Para os residentes que têm o passe navegante, a Gira passa a estar incluída no passe. Portanto, nós estamos a dar cada vez mais argumentos às pessoas para andarem em transporte público, já que têm, até na última milha do destino final, modos complementares de mobilidade para poderem prescindir do carro”.
Outra inovação mencionada foi o projeto dos Parques de Navegantes, que incentiva os residentes a deixar os carros em parques de estacionamento nas periferias e a utilizar o transporte público até ao centro da cidade. Este conceito está em fase de teste em zonas como o Lumiar, com a possibilidade de expansão para a área metropolitana.
Carros vão sair de Lisboa?
Filipe Anacoreta Correia também respondeu à questão da possível proibição de carros em Lisboa, algo que refutou, argumentando que essa decisão já gerou resultados menos positivos noutras cidades europeias. “Houve cidades que procuraram chegar a um modelo quase persecutório em relação à utilização do carro. Mas aquilo que algumas dessas cidades nos indicam é que o resultado não foi muito feliz porque, hoje em dia, essa medida tornou-se muito pouco amiga dos residentes, que foram logo os primeiros a sofrer as consequências. A começar pelos obstáculos de acesso e de visitas, que conduziu a que muitas dessas cidades se tenham tornado bibelôs turísticos, sem grande vida. O nosso modelo vai precisamente noutro sentido”, revelou.
"A mobilidade é a grande paixão, é o tema da cidade.”
Em vez de “perseguir” o carro, o objetivo de Lisboa, segundo o autarca, é tornar determinadas zonas, como a Baixa, mais acessíveis para quem realmente precisa de estar lá, eliminando o tráfego de atravessamento. Para o vice-presidente, a ideia é “abrir” a cidade, preservando o património e garantindo que os espaços urbanos sejam vibrantes e habitáveis.
“Ao fim dois anos na mobilidade, já começo a ver algumas coisas a acontecerem. E acredito que, neste último ano, muitas dessas coisas vão começar a surgir. No fundo, isso significa que há sempre um lastro, ou seja, parte do próximo ano será um ano para concluir projetos que aprovámos, e será altura de os ver aparecer e, ao mesmo tempo, de planear todos os outros. Claramente, a mobilidade é a grande paixão, é o tema da cidade”, concluiu.
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