Banco de Portugal corta previsão de crescimento de 2% para 1,6% este ano

Instituição liderada por Centeno está mais pessimista do que Governo sobre evolução da economia este ano e alerta que política orçamental terá de ser ajustada numa fase de menor expansão económica.

O Banco de Portugal reviu em baixa a previsão de crescimento da economia para 1,6% este ano e 2,1% em 2025, mas prevê um aumento significativo do contributo do investimento nos próximos dois anos. No Boletim Económico de outubro, publicado esta terça-feira, a instituição liderada por Mário Centeno alerta que a política orçamental irá ter de ser ajustada numa fase de menor expansão económica, pelo que o compromisso com a redução do rácio da dívida pública deve manter-se.

O supervisor bancário cortou a projeção de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em 0,4 pontos percentuais (pp.) em 2024 e em 0,2 pp. em 2025, devido sobretudo à incorporação da nova série estatística, que levou também à revisão das contas nacionais pelo Instituto Nacional de Estatística (INE).

A nova previsão do Banco de Portugal torna-se mais pessimista para este ano do que a do Governo, que sinalizou aos partidos políticos esperar uma evolução do PIB em torno dos 2%, e alinha com a da Organização para a Cooperação Económica (OCDE). Já a Comissão Europeia prevê uma expansão de 1,7%, o Conselho das Finanças Públicas de 1,8% e o Fundo Monetário Internacional de 1,9%.

Fonte: Boletim Económico de outubro, Banco de Portugal

“Temos uma desaceleração do crescimento económico muito concentrada em 2024. Uma parte vem do comportamento da economia já registado no segundo trimestre e prolongando-se esse crescimento baixo no terceiro trimestre”, realça o governador durante a conferência de apresentação do relatório.

Segundo o BdP, no terceiro trimestre a evolução estimada reflete um abrandamento das exportações e do consumo privado. No entanto, espera um maior crescimento do PIB no quarto trimestre e no início de 2025, refletindo uma recuperação das exportações e uma aceleração do consumo privado.

Atividade económica deverá ser impulsionada pelo consumo privado e pelas exportações em 2024 e acelera em 2025 e 2026, refletindo o dinamismo do investimento.

Na globalidade, o BdP considera que “o dinamismo do rendimento disponível continuará a refletir uma evolução favorável do mercado de trabalho” e “o impacto das medidas orçamentais” e que “a transição gradual para taxas de juro mais baixas e as entradas de fundos europeus apoiarão um maior crescimento do investimento”.

“A dinâmica da economia portuguesa está no sentido da convergência com a área do euro. Portugal continua a ter perspetivas de crescimento superior à das que se registam para o conjunto da área do euro”, destacou Mário Centeno.

A atividade económica deverá ser impulsionada pelo consumo privado e pelas exportações em 2024 e acelera em 2025 e 2026, refletindo o dinamismo do investimento. Assim, o banco central aponta para um crescimento das exportações de 3,8% este ano e de 3,3% em 2025, do consumo privado de 2,5% e 2,3% em 2024 e 2025, respetivamente, e do investimento de 0,8% e 5,4%.

A dois dias da entrega do Orçamento do Estado para 2025 (OE2025) e na semana em que o Governo remete a Bruxelas o plano orçamental estrutural de médio prazo, o supervisor deixa também alertas sobre a política orçamental: “a sua orientação expansionista em todos os anos do horizonte de projeção, num contexto em que o PIB se encontra acima do seu potencial, gerará a necessidade de um ajustamento posterior numa fase menos favorável do ciclo económico“, refere.

Orientação expansionista em todos os anos do horizonte de projeção, num contexto em que o PIB se encontra acima do seu potencial, gerará a necessidade de um ajustamento posterior numa fase menos favorável do ciclo económico, alerta Banco de Portugal.

A instituição liderada por Mário Centeno volta a defender que “a redução sustentada do rácio da dívida pública não deverá abrandar o ritmo, pois representa um elemento fundamental para a estabilidade macroeconómica e para o crescimento das gerações presentes e futuras“.

Taxa de poupança das famílias acima de 11%

O Banco de Portugal prevê que a taxa de poupança se mantenha elevada, acima de 11%, reflexo das taxas de juro mais elevadas e comportamentos de precaução por parte das famílias. O aumento da poupança deverá por outro lado afetar o consumo privado, que cresce moderadamente face ao dinamismo do rendimento real em 2024 e de forma mais próxima em 2025 e 2026.

O supervisor aponta para um aumento do rendimento disponível de 6,6% em 2024, “uma taxa elevada em termos históricos, que resulta da situação favorável do mercado de trabalho — em termos de emprego e salários reais —, do aumento das pensões e outras transferências e do impacto da redução do IRS”.

Para os anos seguintes, prevê um crescimento mais contido do rendimento disponível (1,9%, em média), efeito da desaceleração da massa salarial e da dissipação dos efeitos das medidas orçamentais incluídas na projeção, “recomendável dada a necessidade de assegurar o equilíbrio das finanças públicas, que tem beneficiado nos últimos anos de elevados excedentes da Segurança Social”.

Fonte: Boletim Económico de outubro, Banco de Portugal

Riscos são equilibrados

O Banco de Portugal considera que os riscos associados às projeções são equilibrados, mantendo para a atividade económica do lado negativo os associados às tensões geopolíticas internacionais e ao cumprimento atempado das metas do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR).

Por outro lado, admite que o consumo privado pode aumentar acima do esperado, em reação ao crescimento projetado do rendimento das famílias.

“A resistência da economia aos choques recentes é reflexo do progresso verificado na redução de desequilíbrios macroeconómicos e outras fragilidades estruturais. Mas, no futuro próximo, haverá desafios importantes ― associados às transformações tecnológicas, às alterações geopolíticas e à gestão da transição climática”, prevê.

(Notícia atualizada às 11h48, com declarações do governador do Banco de Portugal)

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