IA pode deixar os mercados mais voláteis, opacos e expostos a ciberataques, alerta FMI

A Inteligência Artificial deverá ganhar peso nos mercados financeiros nos próximos anos. A utilização destes modelos deverá levar a mercados mais rápidos e eficientes, mas também criar novos riscos.

A maior utilização de modelos de Inteligência Artificial Generativa (GenIA) nos mercados de capitais poderá ajudar a reduzir os riscos à estabilidade financeira, mas também criar novos, alerta o Fundo Monetário Internacional (FMI). Maior volatilidade, mais opacidade, mais riscos de manipulação e maior exposição a ciberataques são os principais problemas destacados no mais recente relatório publicado pelo Fundo.

“Mais eficiente ou mais volátil? A adoção das mais recentes iterações de Inteligência Artificial
pelos mercados financeiros pode melhorar a gestão do risco e aprofundar a liquidez; mas também poderá tornar os mercados opacos, mais difíceis de monitorizar e mais vulneráveis ​​a ataques cibernéticos e riscos de manipulação“, sintetiza o documento publicado pelo FMI esta terça-feira.

Numa análise às implicações do uso de IA nos mercados de capitais, o FMI destaca que é esperada uma “expansão significativa do uso de modelos de GenIA“, com mais de metade dos gestores de investimento a admitirem que pretendem passar a utilizar estes modelos generativos no futuro.

O FMI destaca que a utilização desta tecnologia pode “causar grandes mudanças na estrutura do mercado através do maior uso e mais poderoso de negociação algorítmica e novas estratégias de negociação e investimento, que por sua vez podem aumentar o volume de negócios e correlações de ativos e impulsionam os preços para refletirem novas informações a uma velocidade cada vez maior”.

Ainda que a utilização de IA nos mercados seja, para já, limitada, os especialistas consideram que isso deverá mudar e “a dinâmica já mostra mudanças em alguns mercados consistentes com a adoção dessas novas tecnologias”.

Segundo o relatório tornado público esta terça-feira, estas “novas inovações provavelmente aumentarão a capacidade da IA ​​de reequilibrar rapidamente as carteiras de investimento, o que, por sua vez, levará a maiores volumes de negociação”, antecipando-se “que as negociações de alta frequência orientadas por IA se tornem mais predominantes, especialmente em classes de ativos líquidas como ações, títulos do governo e derivativos cotados”.

A expectativa é que haja “uma maior integração de IA sofisticada em decisões de investimento e negociação dentro de três a cinco anos, embora se espere que uma abordagem ‘humana no circuito’ persista, especialmente para grandes capitais decisões de alocação.”

Estratégias de investimento com Inteligência Artificial

Para o FMI, a maior utilizados destes modelos de IA tem vantagens e desvantagens. Por um lado, diz, a IA pode “reduzir os riscos para a estabilidade financeira, permitindo uma gestão de risco superior, aprofundando a liquidez do mercado e melhorando a monitorização do mercado tanto pelos participantes como pelos reguladores. Ao mesmo tempo, podem surgir novos riscos”:

  • Maior velocidade e volatilidade do mercado em momentos de stress, especialmente se todas as estratégias de negociação dos modelos de IA responderem a um choque de maneira semelhante ou forem encerradas em resposta a um imprevisto;
  • Maior opacidade e desafios na monitorização, na medida em que a IA estimula uma maior migração das atividades de investimento e market-making para fundos de cobertura de risco, e outros intermediários financeiros não bancários e cria incerteza sobre a forma como os modelos de IA utilizados por diferentes investidores e comerciantes podem interagir;
  • Maiores riscos operacionais como resultado da dependência de alguns provedores de serviços de IA que dominam o poder computacional e os grandes serviços de modelos de linguagem;
  • Maiores riscos de manipulação de mercado e ciberataques, particularmente em gerar fraude e desinformação nas redes sociais.

Tecnologia à prova de mini-crashs

Face à emergência destes novos desafios, as autoridades devem preparar-se para estas alterações potencialmente transformadoras dos mercados de capitais.

O FMI alerta que as “autoridades do setor financeiro e plataformas de negociação devem determinar se precisam projetar novos mecanismos de resposta à volatilidade – ou modificar os existentes de forma adequada – para responder a eventos de flash crash potencialmente originados em negociações orientadas por IA.”

“Da mesma forma, as autoridades do setor financeiro devem continuar a reforçar a supervisão e a regulação dos intermediários financeiros não bancários, exigindo-lhes que se identifiquem e divulguem informações relevantes; bem como exigir que as instituições financeiras mapeiem regularmente interdependências entre dados, modelos e infraestrutura tecnológica de suporte aos modelos de IA”, refere o mesmo relatório.

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