Falência da têxtil Coelima “faz a cama” aos bancos com perdas de 12,5 milhões

Rateio final mostra Caixa com maior valor em dívida após insolvência da histórica empresa de têxteis-lar de Guimarães. Estado fica também a “arder” através da Portugal Ventures e do Banco de Fomento.

Os credores da falida empresa de têxteis-lar Coelima preparam-se para receber 3,5 milhões da massa insolvente, de acordo com a proposta de rateio final que o administrador judicial Pedro Pidwell entregou esta semana no tribunal de Guimarães, consultada pelo ECO.

Apesar de receberem a “fatia de leão”, perto de 2,1 milhões de euros, este dinheiro cobrirá apenas 14,6% dos créditos garantidos do BCP, da Caixa Geral de Depósitos e do Novobanco sobre a histórica empresa vimaranense, fundada em 1922, que entrou em insolvência há mais de três anos. Ficarão por saldar 12,5 milhões.

Reclamando um crédito de 7,6 milhões de euros, o banco público terá direito a um pagamento de 1,1 milhões de euros, ficando ainda assim um valor em dívida de 6,5 milhões depois deste rateio. O administrador de insolvência propôs pagamentos de 702 mil euros ao BCP e de 333 mil euros ao Novobanco. Os dois bancos privados ficam a haver 4,1 milhões e 1,95 milhões dos créditos garantidos, respetivamente.

A distribuição prevê o pagamento da totalidade dos créditos dos trabalhadores, diretamente ou através do Fundo de Garantia Salarial, num valor que ascende a 58,8 mil euros. Entre crédito garantido e privilegiado, o Instituto da Segurança Social receberá um montante próximo de 350 mil euros.

Relativamente aos créditos garantidos por penhor a cinco sociedades estatais, num total de quase 2,5 milhões de euros, a distribuição proposta pelo administrador judicial entrega 194 mil euros. As mais expostas são a Portugal Ventures, que fica a “arder” acima de um milhão de euros neste processo, o Banco de Fomento (742 mil euros) e a Direção-Geral do Tesouro e Finanças (273 mil euros).

Finalmente, a quantia a ratear pelos credores comuns (e credores garantidos / privilegiados pela parte não satisfeita pelas garantias), entre os quais se encontram a EDP Comercial, a segura de crédito COSEC – entretanto comprada pela Allianz Trade -, a sociedade de advogados Cuatrecasas ou o Fundo Imobiliário Especial de Apoio às Empresas (FIEAE) fica pelos 715 mil euros, quando o valor que lhes foi reconhecido totalizava 30,5 milhões.

No âmbito do processo de insolvência, a centenária Coelima, que chegou a ser um colosso industrial com 3.500 trabalhadores e que à data da falência tinha apenas cerca de 250, acabou em junho de 2021 por ser vendida à Mabera, grupo têxtil do concelho vizinho de Vila Nova de Famalicão, por pouco mais de 3,7 milhões de euros. Um valor claramente insuficiente para satisfazer todos os credores, numa lista com perto de 500 entidades a reclamar créditos na ordem dos 50 milhões.

Foi a 14 de abril de 2021 que a empresa de Pevidém, que era ainda uma das maiores produtoras de roupa de cama do país, se apresentou à insolvência. A gestão invocou nessa altura uma quebra de vendas superior a 60% provocada pela pandemia, uma “pressão insustentável” sobre a tesouraria e a não aprovação das candidaturas que tinha apresentado às linhas Covid-19.

A têxtil minhota já tinha escapado a duas crises, em 1991 e em 2011, que ameaçaram a extinção do negócio. Na primeira foi resgatada pelo Governo de Cavaco Silva, em véspera de eleições, e a família fundadora (Coelho Lima) foi afastada da gestão. Na segunda ocasião, com a troika a entrar em Portugal, foi integrada num grupo (MoreTextile) que resultou da fusão com a JMA Felpos e a António Almeida & Filhos e cujo acionista principal era um fundo bancário (Fundo de Recuperação) gerido pela ECS Capital.

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