O que diz o médico que acompanha Ricardo Salgado há três anos?

Ricardo Salgado está em condições de ser julgado, ou até de cumprir pena de prisão? O médico que acompanha o ex-líder do BES respondeu a algumas das quetsões, em entrevista à SIC Notícias.

O médico neurologista que acompanha há três anos Ricardo Salgado, Joaquim Ferreira, afirmou que “a doença foi mais forte do que qualquer dúvida” quando questionado sobre o estado de saúde do ex-banqueiro, um dos principais arguidos do caso BES/GES, cujo julgamento começou na segunda-feira, dez anos após a queda do BES. Na segunda-feira, na primeira sessão do julgamento que coloca o ex-líder do BES no banco dos arguidos, Salgado apareceu, perante as câmaras de televisão e o país inteiro e demonstrou uma fragilidade e debilidade flagrante.

“Em parte, sou responsável pela aparição dele nesta sessão. Como médico, autorizei que acontecesse, [porém] podia passar um atestado médico. (…) Mas, se eu achasse que essa aparição viesse a gravar a doença, obviamente, eu não autorizaria isto”, começou por explicar o neurologista de Ricardo Salgado e autor de alguns dos relatórios médicos que foram usados pela defesa de Ricardo Salgado nos últimos meses, em entrevista na sexta-feira à noite, à SIC Notícias.

Por outro lado, à questão ‘se Salgado está em condições de ser julgado’, o especialista garantiu que nesta fase da doença, o antigo banqueiro “não vai trazer para o julgamento nenhuma informação válida, [dado que] não está capaz de emitir informação competente e informada”.

Impressionante é o facto de há dois ou três dias se questionava a veracidade de uma doença; como é que alguém que tem uma demência num estado avançado é obrigado a comparecer numa sessão judicial? Dois dias depois, questiona-se a adequação dessa pessoa que tem um quadro demencial ter entrado no trobunal pela porta e não pela garagem. A mudança de atitude da opinião pública foi notável”.

Joaquim Ferreira, neurologista de Ricardo Salgado

“Havia um risco, tal como aconteceu em audições anteriores, de haver desconforto. E quando há uma situação que gera desconforto, há um agravamento dos sintomas”, alertou o neurologista. Se alguém vai cumprir pena na prisão é para ser “penalizado” e “regenerado”, então “qual é o sentido de alguém que tem uma demência grave ser detido?”, perguntou o médico, respondendo logo de seguida que “não faz qualquer sentido”.

“Seria ótimo que fosse possível regenerar alguém com um quadro demencial grave. Significaria que a medicina tinha tido um enorme avanço”, sublinhou Joaquim Ferreira. Até que alguém que tenha um quadro da doença como tem Ricardo Salgado, precisa de cuidados redobrados, e na prisão não seria exceção. “Nesta fase, precisa de um cuidador de 24 horas por dia durante o dia e noite. Não tem autonomia para as atividades básicas da vida diária”, exemplificou o médico.

Joaquim Ferreira diz que nem se precisa de ir tão longe, basta perceber que “aquela pessoa [não] está habilitada a responder a perguntas minimamente complexas de forma competente”. O neurologista disse que Ricardo Salgado não está a exagerar nos sintomas do Alzheimer, garantindo que “ao fim de três anos, a doença agravou”.

TIAGO PETINGA/LUSATIAGO PETINGA/LUSA

“As pessoas com demência ficam mais esquecidas, baralham-se, fazem confusões, passam a andar de forma diferente, caem e têm alterações de comportamento”, referiu. Recorde-se que o Ministério Público pediu, esta sexta-feira, o estatuto de maior acompanhado para Ricardo Salgado. O pedido vai ser decidido pela juíza.

“É impressionante como é que há dois ou três dias se questionava a veracidade de uma doença; como é que alguém que tem uma demência num estado avançado é obrigado a comparecer numa sessão judicial? Dois dias depois questiona-se a adequação dessa pessoa que tem um quadro demencial a entrar pela porta”, declarou o neurologista que apontou que “a mudança de atitude foi notável”. O médico sublinhou ainda que este “não está capaz de emitir informação competente”.

O Ministério Público “reconheceu a situação” de incapacidade de Ricardo Salgado e requereu o regime de acompanhamento para o ex-líder do BES, no âmbito do julgamento do processo do BES/GES, que decorre. O regime do acompanhamento tem como objetivo “garantir o bem-estar, a recuperação, o pleno exercício dos seus direitos e a observância dos deveres do adulto, focando-se na pessoa e não apenas no seu património”. “Este regime limita-se ao mínimo necessário para que a autodeterminação e capacidades do beneficiário possam, dentro dos circunstancialismos, ser asseguradas; não haverá lugar a acompanhamento se os deveres de assistência e cooperação bastarem para a proteção da pessoa“, lê-se no site oficial do Ministério Público. Apenas por decisão judicial é que o acompanhamento cessa ou é alterado.

Ricardo Salgado está acusado de 62 crimes, alegadamente praticados entre 2009 e 2014, incluindo associação criminosa, corrupção ativa no setor privado, burla qualificada, infidelidade, manipulação de mercado, branqueamento de capitais e falsificação. A queda do GES causou prejuízos superiores a 11,8 mil milhões de euros.

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