Seguradores portugueses preparam-se para ir para o Espaço

A APS fez uma conferência anual do outro mundo. A nova era Espaço 2.0 foi detalhada por especialistas e a revelação é que a matéria segurável é infinita.

Compreender os novos riscos “despoletou uma viagem no espaço” sublinhou José Galamba de Oliveira, presidente da Associação Portuguesa de Seguradores (APS) na abertura da conferência anual desta organização que junta todas as companhias de seguros portuguesas, que se realizou em Lisboa na passada quinta-feira.

O Espaço foi debatido no Observatório de Marinha. José Galamba de Oliveira na abertura da Conferência.

O presidente da APS lembrou ser objetivo dos temas deste evento anual tratar o futuro dos seguros em todas as áreas. Para cumprir este propósito de levar os seguradores portugueses a pensar “fora da caixa”, a APS convidou protagonistas portugueses muito ativos na atividade para partilharem conhecimentos e experiência na conferência “O tempo do espaço”.

“A Space X mudou o paradigma do espaço”, foi uma das conclusões a que chegou Miguel Gonçalves, formador e comunicador de Ciência, conhecido pela sua presença habitual em programas de astronomia da RTP, que falou sobre” O Tempo dos Cosmos e o Desafio Tecnológico do Tempo Presente da Humanidade”.

Para Miguel Gonçalves, o Space X permitiu baixar os custos das operações no espaço de forma a permitir uma realidade de um Novo Espaço e a reordenação dos satélites. Lembrou que este se tornou num mercado potencial de 1 bilião de euros em negócios. Também referiu restrições ao afirmar que “Ir ao espaço não é ideal para a saúde”, ou premonições ao dizer que “a possibilidade de alguém morrer por queda de lixo espacial tem aumentado”.

Ricardo Conde, Presidente da Agência Espacial Portuguesa focou o tema “Portugal e o Espaço: oportunidades e riscos”, destacando que estamos num dos apenas 11 países que tem lei espacial.

A Agência Espacial Portuguesa ou Portugal Space tem sede na Ilha de Santa Maria e foi criada pelo governo português com colaboração do governo regional dos Açores para executar a Estratégia “Portugal Espaço 2030”, bem como para coordenar a participação portuguesa em várias organizações internacionais como a Agência Espacial Europeia (ESA, sigla em inglês).

Ricardo Conde apontou estar-se numa nova era, ‘Space Race 2.0′ ou ‘New Space Age’, que exige cooperação internacional existindo o perigo de a nova corrida ao espaço se tornar uma vontade de extensão territorial e de extração de recursos. Conde disse “podemos ir a Marte dentro de 40 anos, mas antes precisamos de garantir o ponto de partida evitando a destruição da terra”.

No entanto, foi mais positivo ao afirmar que “hoje temos o uso de tecnologia de espaço que nos garante mais 10% de eficiência agrícola e a possibilidade de maior disponibilidade de água no futuro”.

Na sua opinião também há limitações considerando que o “Espaço só é habitável se houver modificação genética nos humanos” e lembrou o lixo espacial: flutuam no espaço 29 mil fragmentos superiores a 10cm de diâmetro, 900 mil de 1 a 10 cm e milhões de detritos com menos de 1 cm, todos com capacidades destrutivas.

Margarida Corrêa de Aguiar, presidente da ASF, esteve presente a convite da APS.

“A cadeia de valor espacial” foi tema desenvolvido por José Neves, Presidente da AED (aeronáutica, Espaço, Defesa) Cluster Portugal, uma organização que envolve mais de 80 empresas entre um total de 140 entidades portuguesas, que trabalham nos setores da Aeronáutica, do Espaço e da Defesa.

É um conjunto de empresas, Institutos e Academia que partilham sinergias significativas em vários domínios industriais, de pesquisa e de engenharia, sendo exemplo a Airbus que conta com dois centros e duas mil pessoas em Portugal.

José Neves destacou nos seguros a corretora MDS “que acompanha o setor espacial desde o início”, setor em que já obtém um volume de negócios de 2,1 mil milhões de euros, sendo 90% resultantes de exportações.

O presidente da AED salientou ainda que a base de recursos humanos portugueses é de qualidade, mas não são necessários apenas investigadores, “temos de ter pessoas qualificadas para trabalhar no chão da fábrica”, como exigem por exemplo a Airbus e a Embraer.

“Portugal está a querer responder às necessidades da Europa em lançadores, em satélites com a NEO, em operações com a Geosat e em aplicações com a Newspace Portugal” indicou André Dias, Head of Space Unit – Digital da CEiiA ao abordar a “Inovação e a nova economia do Espaço”

O CEiiA (Centro para a Excelência e Inovação na Indústria Automóvel) é uma associação privada sem fins lucrativos e um centro de engenharia e inovação português criador de soluções tecnológicas para os setores da mobilidade, aeronáutica, automóvel, naval e energia.

André Dias lembrou aos seguradores que existem setores ideais para construírem fábricas no espaço, como a indústria farmacêutica, de semicondutores e de alimentos e nutrientes. Lembrou que haverá 14 estações espaciais e que as seguradoras devem preparar-se para o turismo espacial.

Prometeu o novo satélite português Geosat 2 para breve dizendo ainda que existem aplicações imediatas de, através do Espaço, monitorar ativos, permitir respostas às alterações climáticas e os seguros paramétricos com dados colhidos a partir do espaço.

Ricardo Gonçalves, Diretor do Centro de Inteligência Artificial e Analytics da Fidelidade trouxe uma contribuição prática focando “um espaço mais seguro e sustentável – contribuição dos dados para a prevenção, preparação, resposta e recuperação na gestão do risco de catástrofes”.

Afirmou que a Fidelidade é um utilizador intensivo do Copernicus, conseguindo mapear catástrofes com a geolocalização dos seus clientes, detetar e alertar antecipadamente permitindo uma prevenção de danos maiores. Deu vários exemplos de utilização do seu software em zonas de incêndios de Ourém e São Marcos da Serra e de sismos como ilha do Corvo. Conclui que esta prevenção e monitorização permite “serem proativos juntos dos clientes, avisando-os antecipadamente do que se poderá passar”.

Duarte Oom, Scientific Project Officer, do Joint Research Centre da Comissão Europeia explicou “o projeto europeu Copernicus: como os satélites podem apoiar a gestão de emergências”.

Fez a descrição do Copernicus, a componente de observação da Terra do Programa Espacial da União Europeia, onde se trabalha na deteção de incêndios mas que também analisa cheias e secas. Lembrou que o serviço do Copernicus pode ser ativado por diversas entidades diretamente, permitindo em real time acompanhar detalhadamente uma catástrofe, ilustrando uma colaboração com a EIOPA no que respeita à uniformização e tratamento de dados.

“O futuro e os desafios da segurança e do transporte espaciais” foi tema tratado por Inês D’Ávila, gestora de programas de Transporte e Segurança Espacial da Agência Espacial Portuguesa alertando que existem asteroides perigosos e que esses corpos de pelo menos um metro passam, em média, de duas em duas semanas junto à terra.

No entanto, referiu fases avançadas de testes para defletir ameaças planetárias, como desviar asteroides em rota de colisão com a Terra

Referiu ainda que o transporte é tema até pelo início do turismo espacial e pela inevitável necessidade de seguros. Acentuou que em torno da terra acumulam-se objetos e que há necessidade de os começar a recolher.

Concluiu com números reveladores. Desde o início da era espacial “foram lançados 19.590 objetos para o espaço, dos quais 13.230 ainda estão em órbita e 10.200 ainda a funcionar o que leva a órbitas congestionadas. “Se eu quisesse ir à Lua não sei se conseguiria passar entre tanto tráfego”, disse.

No final, a listagem de riscos a segurar é volumosa, vai para além de seguros de viagem ao espaço, é infinita a matéria segurável no futuro.

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