Barnier avisa que moção de censura tornará tudo mais difícil
O primeiro-ministro francês alertou ainda que a dívida francesa "é mais grave" e "todos terão de a pagar um dia".
O primeiro-ministro francês, Michel Barnier, advertiu esta terça-feira que uma moção de censura ao governo “tornará tudo mais difícil e mais grave”, na véspera da votação das iniciativas da esquerda e da extrema-direita que poderá derrubar o executivo.
“Há uma coisa de que tenho a certeza, e quero que se lembrem do que vos estou a dizer hoje, é que a censura, que é o tema do debate de amanhã [quarta-feira], tornará tudo mais difícil e mais grave”, disse Michel Barnier (centro-direita), durante o período de perguntas ao Governo na Assembleia Nacional francesa.
O chefe do executivo, em funções há três meses, acrescentou que “a situação é difícil em termos do plano orçamental e do plano financeiro” e “muito difícil no plano económico e social”. O primeiro-ministro francês insistiu ainda que “todos sabem que a situação é difícil”, alertando ainda que a dívida francesa “é mais grave” e “todos terão de a pagar um dia”.
Mais tarde, durante uma entrevista televisiva em direto de Matignon, Barnier disse que é “possível que haja um reflexo de responsabilidade” dos deputados para evitar derrubar o seu Governo. “Depende dos deputados, cada um dos quais tem uma responsabilidade perante o povo francês”, acrescentou.
O chefe do executivo advertiu que “os interesses do país estão em jogo”, admitindo uma “situação frágil e efémera” do seu governo minoritário. Sem o suporte necessário na Assembleia Nacional francesa, Barnier aprovou na segunda-feira o orçamento da Segurança Social através do artigo 49.3, que permite a aprovação sem votação, o que originou as duas moções de censura por parte da oposição.
Para que o país recupere a estabilidade política, talvez seja necessário “que [o Governo] continue”, disse o primeiro-ministro de centro-direita e antigo comissário europeu, apelando ao “respeito entre a classe política”.
“Não houve qualquer falha” nas negociações com as diferentes forças políticas, a extrema-direita União Nacional (RN) e a coligação de esquerda Nova Frente Popular (NFP), para a elaboração do orçamento de 2025, garantiu. A moção de censura “não é um voto a favor ou contra Barnier”, referiu, defendendo que “é um voto sobre um texto”, neste caso sobre o orçamento da Segurança Social, um projeto de lei para 2025 que “foi objeto de semanas e semanas de trabalho”.
“Os dourados que nos rodeiam, os veículos oficiais, os dourados da República, não me interessam, não é isso que está em causa, não sou eu que estou em causa. O que está a acontecer agora transcende-me”, afirmou. Os franceses “sentem que não deve haver caos” e “quase 18 milhões de franceses verão o seu imposto sobre o rendimento aumentar” se o projeto de lei for censurado, acrescentou.
“Não é por prazer que estou a apresentar um orçamento tão difícil”, sublinhou. Nomeado a 5 de setembro pelo Presidente francês, Emmanuel Macron, o primeiro-ministro de 73 anos, reconheceu que a situação é “sem precedentes” nos últimos 60 anos, devido à fragmentação da Assembleia Nacional (esquerda, centro-direita e extrema-direita).
“Quando cheguei aqui [ao gabinete no Matignon], há três meses, sabia que podia sair na manhã seguinte, porque é uma questão política muito complicada”, disse Barnier, acrescentando que “o momento é grave, é difícil, mas o desafio não é impossível”. Sobre a sua relação com Emmanuel Macron, com quem fala “todos os dias”, o chefe de Governo discordou dos apelos da oposição à demissão do Presidente francês, que “foi escolhido [em 2022] para servir” durante mais cinco anos.
Barnier, que no caso de ser derrubado pela Assembleia Nacional será o primeiro-ministro mais breve da V República desde 1958, afirmou que continuou a querer ouvir as propostas dos deputados para um “orçamento [do Estado] que não é perfeito”.
“Sempre disse que este texto podia ser melhorado, que o era, que não era definitivo e que o melhorámos. Ouvimos todos e fizemos progressos em muitos pontos”, afirmou o primeiro-ministro francês, apelando por “um pequeno esforço a todos”.
O Presidente francês afirmou esta terça que “não pode acreditar num voto de censura” do Governo, acrescentando que tem “confiança na coerência das pessoas” e que a sua prioridade é a estabilidade.
Na quarta-feira, a Assembleia Nacional vai debater e votar as moções de censura apresentadas pela NFP e pelo RN contra o Governo Barnier, que tem todas as hipóteses de ser aprovada, com a votação necessária de 288 deputados, ao alcance de uma aliança de circunstância entre a esquerda e a extrema-direita.
(Notícia atualizada às 21h05 com novas declarações de Barnier)
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