“Ainda não há uma vitória contra a inflação”, alerta Christine Lagarde
Apesar de reconhecer que "a inflação está no bom caminho para atingir o objetivo de 2% no médio prazo", a presidente do Banco Central Europeu alerta que o controlo dos preços não está garantido.
O Banco Central Europeu (BCE) anunciou esta quinta-feira um novo corte nas taxas de juro de referência, o quarto realizado este ano, desde o primeiro realizado em junho. No decorrer da conferência de imprensa após a comunicação da decisão do Conselho do BCE, Christine Lagarde revelou que a decisão de reduzir as taxas em 25 pontos base foi unânime, “embora tenha havido discussões sobre um corte mais agressivo de 50 pontos base.”
A presidente do BCE justificou a decisão do corte das taxas por “a inflação estar no bom caminho para atingir o objetivo de 2% no médio prazo”. No entanto, Lagarde fez questão de sublinhar que “ainda não há vitória contra a inflação”.
Além disso, a presidente do BCE deixou um alerta para o estado da economia europeia, notando que “a recuperação da economia está a ser mais lenta do que o esperado”, destacando que “o crescimento [económico] está a perder ímpeto”, as exportações estão a ter um desempenho “fraco” e “as empresas estão a reter investimentos” devido à incerteza económica.
Lagarde referiu também que o mercado de trabalho na Zona Euro continua resiliente, embora “a procura de mão-de-obra continue a enfraquecer”. Quanto à inflação, Lagarde prevê que “flutue próximo do nível atual no curto prazo”.
A presidente do BCE destacou que “a maioria das medidas de expectativas de inflação estão em torno de 2%”, o que é um sinal positivo. Contudo, alertou que existem riscos tanto ascendentes como descendentes para a inflação. “Os riscos descendentes para a inflação incluem a baixa confiança, o stress geopolítico e o baixo investimento. Por outro lado, os salários, os lucros e a geopolítica estão entre os riscos ascendentes”, explicou Lagarde.
Política monetária e perspetivas futuras
Lagarde revelou que os membros do Conselho do BCE não discutiram a taxa neutra na última reunião de 2024 esta quinta-feira. Apesar de notar que “a taxa neutra não pode ser determinada com exatidão”, Lagarde referiu que “a taxa neutra está provavelmente um pouco mais elevada do que anteriormente por múltiplas razões.”
A presidente do BCE considera que não é oportuno ter essa discussão agora, mas “será algo a ser debatido no futuro”, notando que as últimas projeções apontam para uma taxa neutra entre 1,75% e 2,5% “e quando lá chegarmos iremos debater isso mesmo.”
Apesar disso, o comunicado do Conselho do BCE sinaliza que poderá haver mais flexibilização monetária no futuro. Lagarde indicou isso mesmo, que “o objetivo de atingir a meta de inflação avançou um pouco para 2025”, sugerindo que o banco central poderá manter uma postura restritiva por mais tempo.
A presidente do BCE sublinhou também que “os custos laborais deverão abrandar” e que “os lucros das empresas deverão compensar parcialmente os custos laborais mais elevados”. Isto poderá ajudar a conter as pressões inflacionistas.
Lagarde também abordou os riscos para a estabilidade financeira, afirmando que “os riscos para a estabilidade financeira permanecem elevados”. No entanto, reiterou que “a política macroprudencial continua a ser a primeira linha de defesa contra a acumulação de vulnerabilidades financeiras”.
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