Exclusivo Grupo MDS já tem 70% do negócio de seguros fora de Portugal
O CEO José Manuel Dias da Fonseca explica a construção do grupo MDS como braço do grupo Ardonagh para crescer na Ibéria, África e América Latina. Vai chegar aos 3 mil milhões de negócios em 2025.
À margem do fórum “Construir o futuro através do Atlântico: Um Fórum para a Europa e as Américas”, iniciativa do Conselho da Diáspora Portuguesa (CDP), José Manuel Dias da Fonseca, CEO do grupo MDS, falou a ECOseguros sobre o futuro do grupo, que é hoje parte do britânico Ardonagh, um dos maiores corretores do mundo. Dias da Fonseca é também membro do Conselho Consultivo e ativista da CDP e foi entre Durão Barroso, Luís Montenegro e Marcelo Rebelo de Sousa que o fórum debateu avanços para a colaboração, pública e privada, entre a Europa e o continente americano.
Gostava de começar por aqui a propósito deste fórum. Até que ponto é importante para uma empresa portuguesa como a MDS estar próxima da diáspora portuguesa?
É uma organização do Conselho da Diáspora Portuguesa, de que eu faço parte como membro do Conselho Consultivo. Entre as suas iniciativas, para além de muitas outras, esteve a criação do Fórum Euro África. A África, como se imagina, é muito importante para a Europa e para Portugal em concreto. O Conselho da Diáspora decidiu alargar ou criar um novo fórum dirigido a Europa e Américas. As Américas também dizem muito a Portugal, não só o Brasil, mas a outras regiões das Américas e que tem muito a ver com a centralidade de Portugal, a centralidade do Atlântico. É um evento muito importante que junta uma centenas de pessoas e speakers de vários países das Américas e de Portugal.
Isso conduz à expansão da própria MDS. Como é que se articula a expansão da Ardonagh com a da MDS?
A Ardonagh é uma mega plataforma de distribuição de corretagem com marcas e operações em vários pontos do mundo. De uma forma simples, do ponto de vista do insurance brokerage, do retail, são quatro grandes regiões onde atua. A primeira é o Reino Unido (UK) onde é uma gigante e, se for gigante na UK, é gigante no mundo. Outra região é a APAC (Ásia Pacífico) que, no caso da Ardonagh, é outra operação gigantesca, com base na Austrália que é um mercado segurador maior que o país. A expansão asiática será a plataforma australiana. Uma terceira região é a Europa continental. E, depois, temos uma outra região que é muito a MDS, integrando a Ibéria, América Latina e África.
Qual a importância de ser a MDS a tratar destes mercados?
A responsabilidade da expansão internacional dentro desta zona não se deve apenas a serem países que falam a língua portuguesa e porque temos uma certa sensibilidade a África. Começa pela Ibéria. Em Espanha tínhamos uma parceria com a corretora Fillet Allard, um dos maiores corretores franceses, que é nosso amigo e membro da Brokerlink, e em que detínhamos 35% do capital. Mas agora, como dentro do projeto da Ardonagh, temos uma missão muito grande para Espanha em articulação com Portugal, essa parceria era mais difícil e portanto conversámos com a Fillet Allard e seguimos caminhos diferentes. Vendemos a nossa parte de 35%, arrancámos com uma operação em Espanha 100% MDS e fizemos primeira aquisição muito recentemente (a Cobian). Agora vamos inaugurar um escritório novo, temos uma equipa e a ambição é transformar a MDS se numa operação ibérica muito forte. Era uma das nossas ambições criar um projeto de crescimento acelerado em Espanha, que agora fica mais fácil, inseridos na Ardonagh.
Na América Latina o forte é o Brasil?
Na América Latina temos uma presença direta, forte no Brasil e no México e ambição de expandir para outros mercados que são nosso target para 2025. Podemos assim, falar de uma MDS Latam em conjunto com MDS Ibéria e MDS África. Hoje já somos um dos maiores operadores da América Latina, excluindo as grandes multinacionais, devemos ser os principais, porque sendo muito grande no Brasil, somos muito grandes na América Latina. No Brasil temos 1.800 pessoas depois da aquisição da D’Or consultadoria que concluímos em agosto. Estamos também no Chile.
Vamos ter por volta de 2,7 mil milhões de prémios intermediados este ano, seguramente que em 2025 passaremos com facilidade os 3 mil milhões, que é um número robusto
Vão continuar as aquisições nesses mercados cobertos pela MDS?
Seguem a mesma lógica da Ibéria. Hoje temos uma operação muito forte em Angola, estamos a crescer bem em Moçambique, mas encaramos investir noutros mercados, noutros países africanos não de língua portuguesa. E estas três regiões debaixo da marca MDS e com a equipas de gestão da MDS faz-nos ter por volta de 2,7 mil milhões de prémios intermediados, seguramente que em 2025 passaremos com facilidade os 3 mil milhões, que é um número robusto.
Tendencialmente, qual será o peso do mercado português no conjunto das operações da MDS?
Portugal tem cerca de 30% atualmente e, como o caminho é absolutamente internacional, tende a “piorar”, ou seja, a diminuir o seu peso.
O que torna o Brasil o mais interessante?
O Brasil é hoje a oitava economia do mundo. O mercado brasileiro é como Estados Unidos com mais pessoas, porque o mercado ainda é muito disperso, há milhares e milhares de brokers e o mercado ainda com uma penetração do seguro relativamente baixa. Portanto, há muito caminho a fazer, muito investimento estrangeiro e empresas fortíssimas. É um mercado que também está muito disperso regionalmente, que permite comprar em muitas regiões do país, não é tudo em São Paulo ou no Rio de Janeiro. Tem também muitos brokers especializados de nicho que cá também não há muito. Portanto, é um mercado muito importante para nós e não há muitos casos de investimento português que chegaram à posição que a MDS tem hoje no Brasil, sempre a ganhar dinheiro e sempre a correr bem.
É importante a Fidelidade estar também em África e América Latina?
Nós temos sempre uma relação muito próxima como no caso do Chile, Angola, e Moçambique. A Fidelidade não está em mercados cruciais para nós como o Brasil, e como o México mas, por exemplo, está na Colômbia, no Peru, na Bolívia e está no Chile. No Chile já colaboramos bastante.
Entre as recentes aquisições foram compradas pequenas participações de parceiros em algumas empresas portuguesas, mostrando uma vontade de deter 100% do capital. Por exemplo, na MDS Auto haverá vontade de adquirir os 50% do grupo Caetano?
Nesse caso não. É uma parceria que funciona muito bem. Regra geral compramos 100%, queremos controlo na maioria das vezes, mas pode haver opções de não controlar a 100%. Esta é a prática das nossas aquisições aqui ou em qualquer sítio do mundo. Na D’Or uma grande operação com 900 pessoas comprámos 100% porque o vendedor queria assim.
Não sendo potência, Portugal não é ameaça para ninguém. Temos alguma facilidade em unir, em ligar e ouvir, e um processo de internacionalização dá muito trabalho, porque é preciso ter uma atenção muito especial às culturas, às línguas, religiões, às cores.
Nas aquisições de empresas em Portugal parece interessante para a MDS ficar à frente das adquiridas, os donos vendem e saem?
Não, é mais complicado que isso. Quando compramos empresas ou carteiras temos uma preocupação muito grande de integrar bem. Comprar carteiras não é comprar prémios é também trazer equipas e quadros que vão criar valor para a MDS. Não só a MDS vai beneficiar disso, mas as próprias equipas vão beneficiar por fazerem parte da MDS. Em geral, as pessoas que se juntam a nós continuam a ter um papel muito importante nas suas regiões e com seus clientes e muitas vezes mudam de funções, alguns passam para funções nacionais da MDS.
Que tipo de mediadores ou corretores interessam?
Nós avaliamos critérios de dimensão, de geografia, de especialização mas, sobretudo, o critério principal são as pessoas, a qualidade e a integridade das pessoas.
Neste ambiente do Conselho da Diáspora Portuguesa, e com a sua experiência em negociar por todo o mundo, ser português num processo internacional é um ónus ou uma vantagem?
É definitivamente uma vantagem que nem sempre é aproveitada. Nós somos pequenos, eventualmente vistos com desconto por outros, mas é algo que podemos transformar numa vantagem. Não sendo potência, Portugal não é ameaça para ninguém. Temos alguma facilidade em unir, em ligar e ouvir, e um processo de internacionalização dá muito trabalho, porque é preciso ter uma atenção muito especial às culturas, às línguas, religiões, às cores. No caso da rede de corretagem Brokerslink , liderada por um português (que sou eu) , acho que isso funciona porque estamos a falar de 131 países e, portanto, nós temos todas as religiões, todas as línguas, todas as cores, todas as raças, toda a diversidade. E as pessoas são diferentes, os povos são diferentes, os povos dialogam de maneira diferente, comunicam de maneira diferente. Uns quase não comunicam, outros comunicam demais. Nós temos uma capacidade para ouvir, para entender e não para julgar. Portanto, desse ponto de vista, ser português uma grande vantagem. A outra vantagem, e que não era há 20 anos, é a boa reputação no país.
As equipas de gestão devem ser locais?
Temos sempre equipas locais. Não há portugueses a mandar em lado nenhum exceto em Portugal. No Brasil temos equipa brasileira, no Chile equipa chilena, no Chipre cipriotas, em Angola temos equipa africana, em Espanha temos equipa local. Temos 15 nacionalidades no grupo, nativos de dez línguas diferentes. Não quer dizer que não possa haver um português numa operação local, mas será um que “viva lá há 50 anos”. A nossa filosofia é investir muito em equipas muito fortes, com autonomia, com responsabilidade, e nós acompanharmos e apoiarmos no esforço, na integração no grupo, nos recursos do grupo, nas sinergias entre entre equipas.
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