BRANDS' ECO Faltam políticas públicas e incentivos à descarbonização do setor dos transportes
Combustíveis de origem renovável, como HVO e biometano, são soluções já disponíveis para a transição energética, mas é preciso regular a sua integração.
É um dos setores mais complexos para descarbonizar e, em simultâneo, o campeão das emissões de gases com efeitos de estufa (GEE), mas oferece igualmente oportunidades que, defende Duarte Cordeiro, “é preciso explorar”. Na opinião do ex-Ministro do Ambiente e atual consultor, que participou na Talk que se seguiu à apresentação do primeiro Relatório de Sustentabilidade do Grupo Paulo Duarte (GPD), esta sexta-feira no Estúdio do ECO, em Lisboa, tecnologia e falta de políticas públicas são desafios que, no setor dos transportes, podem transformar-se em vantagens competitivas.
O ex-governante recorda que este setor contribui com 28% dos GEE na Europa, com o transporte de mercadorias a representar um quarto desta pegada carbónica, tendo ultrapassado o setor energético que se encontra atualmente numa fase mais avançada de descarbonização. As boas notícias são, no entanto, as conclusões de um estudo do International Road Transport Union (IRU) que revelam que a eficiência contribuirá para 51% do caminho de redução de emissões do setor, enquanto a substituição tecnológica representará 49% deste percurso. “Reduzir custos operacionais e obter ganhos do ponto de vista carbónico são metas que podem ser rapidamente atingidas e criar, até, oportunidades, mas é preciso tecnologia e políticas públicas de apoio e incentivo à transformação”, aponta Duarte Cordeiro.
"Não são precisas políticas públicas para avançar, mas sim uma definição de políticas internas nas empresas do setor, orientadas para estas matérias”
Apoios que, na perspetiva dos empresários António e Gustavo Paulo Duarte, respetivamente Diretor-geral e CEO do GPD, que participaram igualmente nesta Talk, “não existem no setor dos transportes”. Os administradores recordam que 77% das mercadorias são transportadas por via rodoviária, pelo que “não se percebe esta falta de estratégia dos sucessivos governos portugueses”.
Apesar disso, acreditam que há medidas que são fáceis de tomar, com a ajuda da tecnologia. “Não são precisas políticas públicas para avançar, mas sim uma definição de políticas internas nas empresas do setor, orientadas para estas matérias”, defende Gustavo Paulo Duarte. Do lado da empresa que representa, o CEO garante que a missão passa por corresponder à expectativa de clientes e restantes stakeholders, contribuindo para os esforços de descarbonização de forma economicamente sustentável.
A crescente exigência do mercado levou o GPD a avançar, em 2024, com o seu primeiro Relatório de Sustentabilidade e com a Unidade de Estratégia de Sustentabilidade, que será “um modelo diferenciador na empresa”, reforça António Paulo Duarte. O momento coincidiu ainda com a deslocação da sede da empresa para a região da OTA, “uma mudança estratégica”, assegura o diretor-geral.
A nova localização, identificada como o ‘quilómetro zero’ do negócio da transportadora, permitirá poupar um milhão de quilómetros na pegada carbónica anual do Grupo cujas 2.000 viaturas percorrem, em média, 54 milhões de quilómetros a cada doze meses. “É mais um pequeno passo rumo à transição energética, num negócio em que a gestão tem de ser muito eficiente”, revela o responsável que acrescenta: “neste setor, com margens pequenas, tudo conta para tornar o negócio mais eficiente e sustentável”.
Reduzir 50% das emissões até 2050 é meta do setor
O setor dos transportes tem como meta reduzir 50% das emissões até 2050 e, na opinião de Duarte Cordeiro, há várias tecnologias que podem dar resposta a estas necessidades – a introdução do elétrico, a evolução nos combustíveis, ou a compensação e captura de carbono são alguns exemplos. Nestes últimos, o ex-governante lembra que já existem experiências “muito interessantes” de captura de carbono em camião, em países como os EUA ou a Suíça. “O carbono é matéria-prima para alguns setores pelo que capturar permite potenciar a economia circular”, salienta, reforçando que o tema da eficiência predomina no setor e “é uma oportunidade para ganhos rápidos”. Potenciar a introdução de mais tecnologias, com apoio de políticas públicas também contribuirá, na sua opinião, para acelerar este caminho e dinamizar as atividades de compensação de carbono.
Não apenas a tecnologia, mas toda a capacidade de inovação das empresas “serão igualmente elementos-chave para uma descarbonização mais rápida”, acredita Duarte Cordeiro. “O GPD é um exemplo de inovação e materializou recentemente essa preocupação ao adquirir uma empresa de software para explorar estes temas e também para apostar em projetos de captura de carbono”, reforça.
“O trabalho em parceria com as universidades é uma constante no GPD”, complementa António Paulo Duarte. A definição do quilómetro zero da empresa, exemplifica, resultou de uma parceria com o ISEL, bem como a introdução do projeto eco-drive – no qual a transportadora foi pioneira em 2015 – que surgiu do trabalho de um estagiário da FCT.
A propósito destas parcerias, Duarte Cordeiro congratula-se e sublinha a importância da criação de laboratórios colaborativos em vários setores, que aproximaram muito as universidades das empresas. “É importante manter esta dinâmica, que o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) ajudou através das Agendas Mobilizadoras”, afirma, acrescentando que Portugal tem uma oportunidade de fixar em território nacional alguns setores industriais que podem ser fabricantes com relevo neste setor como, por exemplo, combustíveis e automóveis. “O país pode beneficiar, mas precisa de mais Investigação & Desenvolvimento (I&D)”, conclui.
Assista à conversa completa aqui:
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