Honda e Nissan ‘trocam alianças’ mas Renault tem uma palavra a dizer

A fabricante francesa, principal acionista da Nissan, não se comprometeu com um voto favorável à fusão e diz que "irá considerar todas as opções".

A Renault ainda não decidiu o que vai fazer em relação ao negócio que deverá criar o terceiro maior fabricante automóvel do mundo. Enquanto principal acionista da Nissan, a multinacional francesa tem voto na matéria e, por enquanto, parece querer distanciar-se de uma tomada de posição sobre a fusão com a Honda, na qual a Mitsubishi estará também envolvida.

O grupo automóvel de Boulogne-Billancourt, horas após o anúncio da assinatura que dá início às negociações entre as empresas japonesas, disse apenas que “reconhece os anúncios feitos hoje pela Nissan e pela Honda” e lembrou que “ainda estão numa fase inicial”.

Como principal acionista da Nissan, o grupo Renault irá considerar todas as opções com base no melhor interesse do grupo e dos seus stakeholders” e “continua a executar a sua estratégia e a implementar projetos que criem valor para o grupo, incluindo projetos já lançados no âmbito da aliança” com a Nissan.

A Nissan e a Honda planeiam estabelecer, através de uma transferência conjunta de ações, uma holding que funcionará como casa-mãe de ambas. No entanto, a transação está sujeita a aprovação em assembleia geral de acionistas de cada empresa – portanto, ao voto da Renault – bem como às aprovações regulatórias necessárias (e comuns numa operação desta natureza).

Certo é que só daqui a meio ano as empresas preveem que se proceda à assinatura do acordo definitivo para a integração (incluindo o plano de transferência de ações), seguindo-se uma assembleia geral extraordinária apenas em abril de 2026.

Lights out na véspera da Consoada

Esta manhã foi rubricado o memorando de entendimento que dá a lights out [“início da corrida”] ao processo. Este negócio no setor automóvel, se for bem-sucedido, poderá ser o maior depois da fusão entre o grupo francês PSA e Fiat-Chrysler, que criou a Stellantis, em 2021. Isto porque, no ano passado, a Honda fez quatro milhões de carros e a Nissan produziu 3,4 milhões, enquanto a Mitsubishi Motors fabricou cerca de um milhão e, assim, iriam aglomerar todos estes números na nova holding.

Na terça-feira veio a público que a Honda e a Nissan estariam a preparar-se para iniciar negociações para uma eventual fusão. A junção de forças na indústria dos motores criaria um gigante avaliado em mais de 50 mil milhões de dólares (cerca de 480 mil milhões de euros) e permitiria que as duas empresas enfrentassem a gigante Toyota – que tem parcerias com as nipónicas Subaru, Suzuki e Mazda, a alemã Volkswagen e só em 2023 lançou 11,5 milhões de veículos no mercado – além das principais concorrentes internacionais, Tesla e BYD.

Inicialmente, a Bloomberg avançou que a fusão entre as fabricantes automóveis japonesas Honda e Nissan podia contar com mais uma empresa interessada, além da Mitsubishi: a principal parceira de produção da Apple, a Foxconn. Segundo publicações locais, a empresa taiwanesa, formalmente designada Hon Hai Precision Industry, estaria disponível para investir mais no mercado dos carros elétricos, depois dos investimentos realizados em fábricas destes veículos.

Carlos Ghosn lança críticas: Nissan está em “modo pânico”

Carlos Ghosn, ex-chairman da Nissan, foi uma das vozes críticas ao potencial negócio que tem estado a marcar a última semana no setor automóvel. O antigo presidente da Nissan, que foi acusado de crimes financeiros na empresa e acabou por fugir para o Líbano, considera que a fusão entre a Honda e a Nissan para competir no mercado de elétricos significa que a Nissan está em “modo pânico”.

“É um movimento de desespero (…). Não é um acordo pragmático porque, francamente, as sinergias entre as duas empresas são difíceis de encontrar”, afirmou Carlos Ghosn à Bloomberg Television. No entanto, tanto a Nissan como a Honda têm interesses em comum: crescer no mercado dos veículos elétricos, fazer frente à Toyota e às concorrentes internacionais, como Tesla e BYD.

Prestes a completar cinco anos desde que fugiu do Japão, a 29 de dezembro de 2019, o antigo presidente do conselho de administração da Nissan Carlos Ghosn deu esta segunda-feira uma conferência de imprensa e intensificou os alertas. “A primeira coisa para onde se olha quando se quer imaginar uma aliança ou parceria é a complementaridade entre os dois parceiros”, referiu o empresário franco-brasileiro de origem libanesa, mostrando dúvidas sobre essas complementaridades, quando questionado por videoconferência organizado pelo The Foreign Correspondents Club of Japan.

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