Inflação “mascara” aumento dos gastos das autarquias com Carnaval

De Torres Vedras à ilha da Madeira, os municípios estão a gastar mais com o Carnaval por causa da inflação. Verbas que esperam recuperar com o impacto económico gerado pela afluência dos foliões.

De Norte a Sul do país, incluindo a ilha da Madeira, há municípios a gastar mais dinheiro com as festividades do Carnaval devido ao aumento dos preços dos bens e serviços, a reboque da inflação. É o que acontece em Torres Vedras, que surge à cabeça dos concelhos com “o maior orçamento de sempre”: 1,1 milhões de euros, mais 170 mil euros do que os 930 mil euros gastos no último ano. Seguem-se a Madeira e Estarreja, com 515 mil euros e meio milhão de investimento, respetivamente.

Contactadas pelo ECO para aferir o impacto que estas festividades têm nas contas municipais ou do Governo Regional, no caso da Madeira, as entidades organizadoras são unânimes em apontar o dedo à difícil conjuntura económica nacional e internacional, que faz disparar os custos das matérias-primas, por exemplo.

“Neste ano, tal como no anterior, verificaram-se nos diversos eventos repercussões da inflação e aumento generalizado dos preços nos bens e serviços, havendo uma reflexão imediata destes fatores no orçamento”, afirma o secretário regional de Turismo e Cultura da Madeira, Eduardo Jesus, em declarações ao ECO/Local Online. Contudo, ressalva, “importa salientar os ajustes realizados relativamente aos apoios concedidos pela Secretaria Regional de Turismo e Cultura às trupes que desfilam no principal evento das Festas de Carnaval, o Grande Cortejo Alegórico”.

Neste ano, tal como no anterior, verificaram-se nos diversos eventos repercussões da inflação e aumento generalizado dos preços nos bens e serviços, havendo uma reflexão imediata destes fatores no orçamento.

Eduardo Jesus

Secretário regional de Turismo e Cultura do Governo da Madeira

Por tudo isto, completa Eduardo Jesus, “prevê-se um investimento do Governo Regional, através da Secretaria Regional de Turismo e Cultura, de 515 mil euros para as Festas de Carnaval 2024. Estamos perante um valor superior ao ano anterior, uma vez que o orçamentado para 2023 foi de 450 mil euros”.

O Carnaval é um dos pontos altos do calendário das festividades desta região insular, que arrasta milhares de turistas. Seja para o famoso Cortejo Alegórico ou para o satírico “Cortejo Trapalhão, inspirado no que era feito originalmente na Rua da Carreira na primeira metade do século XX — onde “a espontaneidade e criatividade dos participantes não tem limites, abarcando desde a sátira social e política, aos quadros tradicionais, e ao simples disfarce de caracterização”.

Carnaval na Madeira custa 515 mil euros em 2024.Francisco Correia 9 fevereiro 2023

o centenário Carnaval de Torres Vedras tem este ano “o maior orçamento de sempre, na ordem dos 1,1 milhões de euros“. Em parte por causa do “aumento dos preços de bens e serviços” resultante da atual conjuntura económica”, explana Rui Penetra, responsável pela empresa municipal Promotorres, que organiza a festividade. A que acresce o aumento do apoio à participação dos grupos organizados e do investimento em segurança e socorro”, completa.

Feitas as contas, a festividade carnavalesca envolve mais de 150 pessoas na organização e na produção, outras 74 na limpeza urbana, e mais de 1.500 profissionais entre forças de segurança e de socorro, calcula Rui Penetra. E arrasta milhares de pessoas para assistir aos desfiles de grupos e foliões nos corsos e às marchas luminosas ao ritmo do samba.

Já no ano passado, a presidente da câmara de Torres Vedras, Laura Rodrigues, se tinha queixado ao ECO/Local Online da difícil conjuntura económica por causa dos aumentos dos custos das matérias-primas.

Carnaval de Torres Vedras tem “o maior orçamento de sempre na ordem dos 1,1 milhões de euros”.9 fevereiro, 2024

Para muitos destes municípios o Carnaval é considerado um dos pontos altos das festividades locais e fazem, por isso, questão de garantir uma dotação em orçamento municipal. É o caso da Câmara Municipal de Loulé, que inscreveu 470 mil euros, mais 70 mil do que em 2023.

Também Estarreja destinou meio milhão de euros no Plano de Atividades Municipais do Orçamento para a edição deste ano. Neste caso, já abrange “o apoio municipal de 163.600,00 euros atribuído aos 13 grupos carnavalescos e às instituições do Carnaval Infantil para o desenvolvimento dos seus projetos”, assinala o autarca Diamantino Sabina.

Eleito pela Coligação PSD/CDS-PP “Sempre Mais”, o presidente de câmara de Estarreja adverte, contudo, que esta verba não inclui “o investimento dos grupos que têm o seu orçamento próprio que acresce aos valores atribuídos pelo município”.

Qual o impacto económico?

É ponto assente que as verbas atribuídas ao Carnaval assumem um peso nas contas municipais. Ainda assim, os autarcas são unânimes em antecipar um elevado retorno económico, em tempos conturbados. Elencam o forte contributo do Entrudo para o tecido económico da região, com despesas em estadias e alimentação dos milhares que visitam o território nesta altura do ano.

Em Torres Vedras, por exemplo, Rui Penetra, da empresa municipal Promotorres, estima “um impacto de mais de 12 milhões de euros na economia local. Abrange “desde estabelecimentos de restauração, hotelaria, pequeno comércio, lojas de tecidos, costureiras, retrosarias, entre outras áreas de negócio”.

O mesmo responsável antecipa a afluência, neste município da região do Oeste, de “mais de 500 mil foliões, maioritariamente da Grande Lisboa e região Centro, mas também de todo o país e do estrangeiro, beneficiando [esta localidade] da proximidade a Lisboa e ao aeroporto”.

Carnaval de Estarreja custa meio milhão de euros este ano e são esperadas 80 mil pessoas.09 fevereiro, 2024

Já em Estarreja são esperadas “80 mil pessoas durante o período de Carnaval, não só nos dias dos grandes corsos, mas também nas noites de folia”, antecipa o autarca Diamantino Sabina. E este ano há uma novidade: “O Carnaval de Estarreja 2024 é o primeiro em todo o mundo a fazer o caminho da inclusão através da cor, com a implementação do “código de identificação de cores para daltónicos ColorADD, na organização funcional e espacial do recinto dos desfiles”.

O autarca de Estarreja calcula, por isso, que as festividades carnavalescas tenham um impacto superior aos três milhões de euros ao nível do “turismo, comércio local e serviços”.

Mas este impacto económico no território não é específico das festas do Entrudo. Diamantino Sabina diz que “o Carnaval também gera impacto ao longo dos meses da sua preparação e organização, não só em termos económicos, mas também em termos culturais e sociais”.

Até porque, argumenta, “essa dinâmica envolve vários investimentos e recursos, nomeadamente dos grupos que contribuem para a atividade económica antes mesmo da celebração oficial e para ampliar o ciclo económico do Carnaval”. Só nos bastidores do Carnaval trabalham cerca de cinco mil pessoas.

O Carnaval também gera impacto ao longo dos meses da sua preparação e organização, não só em termos económicos, mas também em termos culturais e sociais.

Diamantino Sabina

Presidente da Câmara Municipal de Estarreja

Também o secretário regional de Turismo e Cultura da Madeira antecipa um enorme impacto económico na ilha sem, contudo, avançar valores. “A exemplo dos restantes eventos integrados no calendário de animação turística regional, as Festas de Carnaval têm um retorno que se traduz logo na taxa de ocupação/cama mais elevada — só em 2023 atingiu os 87% –, gerando impacto nas receitas”, calcula Eduardo Jesus.

Numa análise ao mês de fevereiro, a taxa na hotelaria rondou os 61%, reforçando, desta forma, o retorno deste evento medido através deste indicador turístico”, completa. Aliás, a Região Autónoma da Madeira dispõe de uma capacidade diária para acomodar cerca de 60 mil pessoas na hotelaria tradicional e no Alojamento Local.

Só na organização do Entrudo estão envolvidas cerca de 5.500 pessoas, das quais 5.000 são voluntários que participam nos vários cortejos, nomeadamente o Carnaval das Avenidas, na Placa Central da Avenida Arriaga, entre os dias 12 e 18 de fevereiro.

Carnaval de Loulé tem um orçamento de 470 mil euros.09 fevereiro, 2024

Loulé também deverá acolher cerca de 80 mil visitantes ao longo dos dias da festividade, sobretudo no Domingo Gordo e na terça-feira de Carnaval, “habitualmente dias com casa praticamente cheia”, sublinha o presidente da câmara deste concelho do Algarve, Vítor Aleixo.

“O Carnaval de Loulé constituiu o maior evento da época baixa do turismo algarvio e, nesse sentido, tem um impacto substancial na economia local, sobretudo pela dinâmica que gera no comércio local, na restauração, na hotelaria, nas pequenas economias de venda ambulante que se estabelecem nestes três dias”, sustenta o autarca de Loulé.

A folia também se faz em Vila Nova de Famalicão, a Norte do país, mas “de forma mais espontânea e comunitária, que tem como ponto alto a noite de Carnaval, de segunda para terça-feira, em que milhares de pessoas se deslocam à cidade para participar numa autêntica festa de rua que tem ganho cada vez mais adeptos nos últimos anos”, descreve a autarquia. Tornou-se um dos eventos mais turísticos, a par das Festas Antoninas, com grande impacto económico para a restauração, bares, cafés e comércio local.

O evento conta com um investimento municipal na ordem dos 173 mil euros, um acréscimo próximo de 16 mil euros em relação a 2023, calcula ao ECO/Local Online a autarquia famalicense.

Câmara de Vila Nova de Famalicão investe 173 mil euros no Carnaval.09 fevereiro, 2024

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Comissão Europeia aplaude acordo sobre reforma das regras orçamentais

  • Lusa
  • 10 Fevereiro 2024

A Comissão Europeia considera o acordo alcançado sobre a reforma das regras orçamentais, a "mais ambiciosa e abrangente" sobre a governação económica do bloco "desde a crise económica e financeira".

A Comissão Europeia congratulou-se este sábado com o acordo alcançado entre o Parlamento Europeu e o Conselho sobre a reforma das regras orçamentais, a “mais ambiciosa e abrangente” sobre a governação económica do bloco “desde a crise económica e financeira”.

O Parlamento Europeu e os Estados-membros da União Europeia (UE) chegaram a acordo, esta madrugada, sobre uma reforma das regras orçamentais, destinada a garantir a recuperação das finanças públicas, preservando simultaneamente o investimento.

Segundo a eurodeputada portuguesa Margarida Marques (grupo Socialistas e Democratas), correlatora da iniciativa, “as novas regras darão mais espaço para o investimento, flexibilidade para os Estados-Membros suavizarem os seus ajustamentos e reforçarão a dimensão social“.

“Com uma abordagem caso a caso e a médio prazo, associada a uma maior apropriação, os Estados-Membros estarão mais bem equipados para evitar políticas de austeridade”, afirmou, citada num comunicado do Parlamento Europeu.

O texto aprovado moderniza o Pacto de Estabilidade, criado no final da década de 1990, que limita o défice da administração pública de cada país a 3% do produto interno bruto (PIB) e da dívida a 60%.

Discutido há mais de dois anos, o texto é criticado pela complexidade e considerado pela esquerda como uma ferramenta para instalar a austeridade na Europa, de acordo com a agência de notícias France-Presse (AFP).

“Era muito necessário um novo quadro de governação económica. Assumimos a nossa responsabilidade, assegurando que as novas regras orçamentais são sólidas e credíveis, ao mesmo tempo que permitem espaço para os investimentos necessários”, considerou a também correlatora Esther De Lange (Partido Popular Europeu, dos Países Baixos).

Segundo a Comissão, que apresentou as suas propostas de reforma em abril de 2023, “os principais objetivos do quadro são reforçar a sustentabilidade da dívida dos Estados-membros e promover o crescimento sustentável e inclusivo em todos os Estados-membros através de reformas favoráveis ao crescimento e de investimentos prioritários”.

A UE, acrescenta, ficará “mais competitiva e mais bem preparada para os desafios futuros, apoiando os progressos no sentido de uma economia verde, digital, inclusiva e resiliente”.

A Comissão sublinha que as reformas “corrigem as deficiências do quadro atual”, ao torná-lo “mais simples, mais transparente e eficaz, com uma maior apropriação nacional e uma melhor aplicação”.

“Têm em conta a necessidade de reduzir os níveis crescentes da dívida pública, nomeadamente em resultado da pandemia de covid-19, de uma forma realista, gradual e sustentada. O novo quadro baseia-se igualmente nos ensinamentos retirados da resposta política da UE à crise financeira, em que a falta de investimento impediu uma rápida recuperação económica”, acrescenta.

As novas regras “vão contribuir para o equilíbrio e a viabilidade das finanças públicas, para as reformas estruturais, para a promoção de investimentos, para o crescimento e para a criação de emprego na UE”, afirmou na rede social X a presidência belga do Conselho da UE, após a aprovação do acordo, no final de uma intensa negociação de 16 horas, para que o texto possa ainda ser votado na sessão plenária de Estrasburgo, na primavera, antes da pausa parlamentar que antecede as eleições europeias de junho.

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Freguesias esperam formalização de acesso a 100 milhões de fundos comunitários

  • Lusa
  • 10 Fevereiro 2024

As freguesias esperam a formalização do acesso a pelo menos 100 milhões de euros dos fundos de coesão a que poderão concorrer pela primeira vez no quadro comunitário de apoio PT2030.

As freguesias esperam a formalização do acesso a pelo menos 100 milhões de euros dos fundos de coesão a que poderão concorrer pela primeira vez no quadro comunitário de apoio PT2030, revelou o presidente da Anafre, Jorge Veloso.

De acordo com o presidente da Associação Nacional de Freguesias (Anafre), entidade que assinala no domingo 35 anos, só falta regulamentar a forma de acesso das freguesias a esta verba, que lhes foi disponibilizada pelo atual Governo socialista.

Em declarações à Lusa, o autarca admitiu que a queda do atual Governo veio atrasar alguns temas que já estavam a ser desenvolvidos e negociados, mas mostrou “confiança” de que o próximo executivo não vai fazer ’tábua rasa’ do trabalho feito.

“A verba está definida. […] Há aqui ainda alguma indefinição, em algumas situações que nós queremos ver clarificadas, mas o período não é muito próprio para isso. Sabemos que, enquanto não houver um novo Governo, as coisas não andarão”, disse.

Segundo Jorge Veloso (PS), é preciso definir, por exemplo, como poderão apresentar as candidaturas e como vai ser feita a distribuição do valor, se através das Comunidades Intermunicipais (CIM) ou através das Comissões de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR).

Os projetos que as freguesias poderão candidatar serão financiados em 85%, com uma comparticipação de 15% por parte das autarquias.

As juntas poderão candidatar intervenções no território, como requalificação de edifícios, mas “nunca grandes projetos”.

“Um grupo de freguesias pode apresentar um projeto que seja comum a essas freguesias. E quando um projeto pode servir mais do que uma comunidade, é certo e sabido que terá mais hipóteses de ser aprovado”, explicou.

A Anafre espera ainda continuar a desenvolver com o próximo Governo “algumas questões pendentes” relativamente ao Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) e à criação de “espaços cidadão” em mais de 400 freguesias, o que já está aprovado, mas faltam abrir as candidaturas para a sua instalação.

O dirigente considerou como prioridades as propostas apresentadas pela Anafre para a revisão da Lei das Finanças Locais (LFL), nomeadamente um aumento da participação das freguesias nos impostos recolhidos pelo Estado, dos atuais 2,5% para 3,5%.

“Será um crescimento de 1% que representa muito dinheiro, na ordem dos 140 milhões de euros para distribuir pelas freguesias”, disse.

A Anafre também reivindica que as freguesias paguem uma taxa mínima de IVA, uma vez que atualmente pagam “quase tudo a 23%”, em equipamentos, matérias-primas e nomeadamente produtos adquiridos no âmbito da ação social, como alimentos.

“A nossa proposta é a redução do IVA, tal como acontece nas IPSS [Instituições Particulares de Solidariedade Social], e até nalgumas situações que o IVA seja mesmo zero”, realçou, sublinhando que há juntas que se queixam de que o que recebem através do Fundo de Financiamento de Freguesias, no Orçamento do Estado, é muitas vezes “praticamente absorvido pelo IVA”.

Outra prioridade é o aumento da participação na cobrança do IMI urbano, do qual atualmente as freguesias recebem 1%, mas pretendem receber 3%.

“É para negociar. Se passar para 2%, quer dizer que teremos o dobro daquilo que estamos a receber neste momento”, disse.

A reversão da reforma administrativa para as freguesias agregadas em 2013 foi outro assunto que a dissolução da Assembleia da República veio suspender, e que espera agora por novo parlamento.

“Estamos a falar de 180 projetos de lei, que espero que até ao último semestre deste ano possam ser terminados” para que nas autárquicas de 2025 já esteja em vigor o novo mapa administrativo, salientou.

A Anafre vai assinalar o 35.º aniversário no Entroncamento, Santarém, no domingo, numa sessão solene com a participação do professor Cândido de Oliveira, com a intervenção “As Freguesias: Passado, Presente e Desafios Futuros”.

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Fundadores do Grupo Primavera lançam fundação de três milhões de euros

José Dionísio e Jorge Batista estão a lançar um novo projeto juntos, após trinta anos na Primavera, a empresa que criaram e venderam em 2021 ao fundo Oakley, e da qual saíram em outubro.

José Dionísio e Jorge Batista, os fundadores do Grupo Primavera, empresa líder em soluções de software empresarial, entretanto vendida e integrada no gigante global Cegid, têm um novo projeto. Depois de décadas no negócio de gestão de software, a dupla de empresários vai lançar a Fundação Primavera, dedicada a financiar projetos para apoiar idosos e crianças em situações vulneráveis, com um capital inicial de três milhões de euros.

Fizemos o maior negócio a nível de tecnológicas em Portugal. Não faz sentido que não continuássemos a fazer alguma coisa”, explica José Dionísio, em entrevista ao ECO. Lado a lado com Jorge Batista, o parceiro de sempre, Dionísio mostra que a aliança de uma vida se mantém firme e realça que “juntos podemos chegar mais longe”.

Depois de três décadas dedicadas ao Primavera — o grupo de soluções de software para empresas que José Dionísio e Jorge Batista criaram em 1993, e que hoje integra um dos maiores players globais do setor, após a venda ao fundo britânico Oakley Capital Investments, em 2021, e a consequente integração no grupo francês Cegid, em 2022 –, a dupla está agora a dar os primeiros passos na formação da sua Fundação, após terem saído da gestão do agora Cegid Primavera, no final de outubro.

“Não queríamos criar nada que fosse nosso, queríamos fazer nascer alguma coisa que continuasse, com a família ou não mais próxima num conselho de estratégia, mas que tivesse toda uma direção executiva amanhã que não tem nada a ver connosco”, explica Dionísio, justificando a escolha da criação de uma Fundação. “As fundações a partir do momento que são criadas têm vida própria. Deixam de ser do doador, o conselho de administração é senhor dos destinos da fundação e de gerir o património“, completa Jorge Batista.

José Dionísio (E) e Jorge Batista (D), fundadores do grupo PrimaveraRicardo Castelo/ECO

Com um capital de três milhões de euros, financiado em igual parte pelas duas famílias, que inclui a mulher e os três filhos de José Dionísio e de Jorge Batista – “todos quiseram fazer parte da criação deste projeto”, diz Dionísio. O projeto pretende dar resposta a problemas de idosos em situação de carência, relacionados com “o seu isolamento, com a sua solidão”.

Por outro lado, a Fundação Primavera também vai procurar dirigir-se a problemas de crianças, também em situação de carência, assim como questões relacionadas com África, uma vez que ambos têm relação com este continente: Dionísio nasceu em Moçambique e Jorge Batista em Angola.

O terreno de jogo onde queremos jogar é um terreno de inovação. Não queremos criar uma fundação para ser mais uma fundação. Não queremos promover estudos, mais literatura.

José Dionísio

Empresário e Fundador do Grupo Primavera

“O terreno de jogo onde queremos jogar é um terreno de inovação. Não queremos criar uma fundação para ser mais uma fundação. Não queremos promover estudos, mais literatura“, realça José Dionísio. O objetivo é chegar “mesmo às pessoas e sentirmos as coisas a acontecer no terreno, junto das pessoas que precisam”.

Para isso, José e Jorge vão procurar deitar a mão a projetos assentes na tecnologia focados em chegar a “milhares de pessoas”. “Há muitas respostas que são dadas locais e que cobrem necessidade de 20, 30 ou 40 pessoas, nós vamos atrás de soluções que à partida terão que deitar mão da tecnologia para chegar a milhares de pessoas“, explica José Dionísio.

Para já, a dupla ainda não tem soluções, mas “vamos rodear-nos de pessoas que percebem destas questões e criar condições para que os empreendedores sociais possam aparecer ao melhor nível para jogar o jogo deste terreno“.

Temos que encontrar os problemas que sejam transversais a toda esta população e perceber aqueles que, através da tecnologia, conseguiremos resolver mais facilmente.

Jorge Batista

Empresário e Fundador do Grupo Primavera

Temos que encontrar os problemas que sejam transversais a toda esta população e perceber aqueles que, através da tecnologia, conseguiremos resolver mais facilmente“, destaca Jorge Batista.

De acordo com José Dionísio, isto “vai requerer investimentos e projetos que queremos que sejam apoiados por outros”. “A ideia é usar as nossas pessoas, no sentido de outros doadores aparecerem, até porque a Fundação precisa de ganhar sustentabilidade financeira para durar muitos anos, ganhar o seu património” e precisa “ter uma receita recorrente para poder exercer o seu trabalho dia a dia”.

“Se fizermos as coisas bem feitas e formos capazes de reportar corretamente para a sociedade será mais fácil encontrar outras organizações que queiram ajudar no próximo projeto”, acrescenta Jorge Batista.

Os próximos meses serão para constituir os vários órgãos da Fundação e esperar a sua aprovação em Conselho de Ministros, o que está dependente da tomada de posse do novo Executivo. “Estamos à espera de seis meses. Agosto é para banhos, por isso estamos a apontar para julho ou setembro”, conclui José Dionísio.

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Empresas de hoje são criadas a pensar no “exit”, dizem fundadores do Grupo Primavera

A venda da Primavera protagonizou o maior negócio no setor tecnológico em Portugal, dizem os fundadores. José Dionísio e Jorge Batista, que levaram 30 anos a vender, criticam modelo de ganhos rápidos.

A partir de Braga, José Dionísio e Jorge Batista criaram a Primavera, líder no setor de soluções de software para empresas, que atualmente faz parte de um dos gigantes do setor a nível global. Trinta anos depois, e concluído, há cerca de três meses, o processo de saída definitivo da empresa — sempre disseram que não seria um negócio familiar –, a dupla faz o paralelismo com a cultura empresarial de hoje, sobretudo no setor tecnológico. E o que veem é muito diferente: agora, as empresas são criadas a pensar no “exit.

“Há uma grande diferença das empresas constituídas agora para terem sucesso e as que se constituíam há muito tempo atrás”, começa por referir Jorge Batista, um dos fundadores do Grupo Primavera, uma das empresas tecnológicas com maior sucesso no país. Para o empresário, as empresas “que são constituídas agora são muito pensadas para vender. Parece que os empreendedores não pensam noutra coisa a não ser no exit. Há 30 anos criavam-se empresas para criar valor.”

José Dionísio, o seu parceiro de negócios, concorda: “A partir do momento em que entra o capital de alguém de fora, capital de risco, é para daí a quatro anos sair com uma grande vantagem. É para haver um exit. E depois outro exit daí a quatro anos.” Para José Dionísio, este modelo é alimentado, desde logo, pelo capital destas empresas tecnológicas ser na sua maioria estrangeiro.

A partir do momento em que entra o capital de alguém de fora, capital de risco, é para daí a quatro anos sair com uma grande vantagem. É para haver um exit. E depois outro exit daí a quatro anos.

José Dionísio

Empresário e Fundador do Grupo Primavera

“Uma empresa que vá mostrando que está a crescer muito, aparece logo um fundo que a quer comprar. Os fundos estão a adquirir as melhores empresas portuguesas em todos os setores. A concentração está a ser feita em capital que vem de fundos”, justifica. Um tipo de financiamento que está a dominar o mercado e a alterar a lógica empresarial: “Vejo-me rodeado de fundos. Não há outro dinheiro. Não se fala de ir buscar dinheiro ao banco, a uma pessoa que tem posses”.

Para Dionísio, este modelo empresarial “gera uma economia menos respeitadora das pessoas, não se admite tantas quebras no negócio ou nos rácios, porque daqui a quatro anos ‘tenho que ter tudo muito bonitinho para vender’.” E, “no meio disto tudo, há muito trambolhão, muito desastre, muito dinheiro perdido. Há uma tendência de gerir o dinheiro dos outros, isto é muito diferente de gerir o próprio dinheiro.”

A comentar a recente crise na Farfetch, José Dionísio reconhece que “o que aconteceu [com a Farfetch] é fruto dessa lógica, em que tudo pode acontecer”. “Se o capital vem dos EUA, lá de fora, a forma como se olha para o capital não é a [lógica] da terra”, reconhece. No final, “as empresas nascem, crescem, ou são vendidas ou morrem“.

De Braga para o mundo

E foi também isso que aconteceu com a sua Primavera, do José Dionísio e do Jorge Batista, a empresa que criaram em 1993, em Braga, e venderam em 2021. Depois disso ficaram ainda mais dois anos na empresa, a liderar uma integração ibérica, e, um ano após a venda ao fundo britânico Oakley Capital Investments, testemunharam a integração no Grupo Cegid, um dos gigantes de software mundial.

Saíram da gestão da nova empresa, a Cegid Primavera, no final do passado mês de outubro, mas mantêm-se acionistas, com uma percentagem de capital “residual” num grupo que hoje vale milhões de milhões. O Grupo Primavera foi “um projeto construído muito na base da inovação, diferenciação, chegar primeiro e de forma diferente”, explica Jorge Batista, acrescentando que foi, contudo, “um projeto construído sempre pensando que não seria um projeto familiar” e, em determinado momento da sua existência, seria vendido.

Esse momento chegou há dois anos. “Em 2021 aparece uma proposta que nos tirou do sério por vários motivos. Era um projeto que nos permitia dar continuidade a tudo que queríamos – uma organização que apostou no modelo de negócio indireto, que apostou na tecnologia, com canal de parceiros muito forte. Essa organização precisava de mercados, estava limitada ao mercado português e africanos“, destaca Jorge Batista. “Precisava explodir“, complementa José Dionísio.

Além disso, “a Oakley lançou-nos o desafio de participarmos num projeto de consolidação na Península Ibérica. Não só isso nos permitia amplificar o mercado cinco vezes, pelo menos, como nos permitia também levar toda a nossa tecnologia, modelos de negócio, frameworks de trabalho, e pô-los ao serviço de um projeto ibérico”, conta Jorge Batista.

“O projeto era aliciante, estávamos a aprender muito, nos últimos nove meses antes da venda e no primeiro ano. Fomos jogar numa Liga de Campeões e perceber este setor noutra forma”, enquanto administradores do grupo ibérico, acrescenta José Dionísio. A par desta experiência internacional, coube a Jorge e a José “adaptar a Primavera no grupo”. Um processo que deram por terminado em outubro, com a saída de funções executivas, mas mantendo interesses no capital. “Somos acionistas passivos, mas continuamos a ter interesses na Cegid“, refere José Dionísio.

José Dionísio (D) e Jorge Batista (E), fundadores do grupo PrimaveraRicardo Castelo/ECO

Até chegar à integração da Primavera na Cegid levou quase três décadas. Amigos desde os tempos da universidade, colegas de casa e parceiros nos negócios — agora seguem juntos na criação da Fundação Primavera — Jorge e José identificaram uma oportunidade de negócio e no espaço de poucos meses lançaram uma empresa.

A grande oportunidade [para lançar a Primavera] é o facto de haver uma grande disrupção tecnológica nesta altura, entre 1990 e 1995, o aparecimento do sistema operativo Windows. Isso deu-nos o mote para fazermos o projeto, para fazermos soluções de software para as empresas baseadas neste sistema operativo Windows“, explica Jorge Batista, remontando às bases da criação do Grupo Primavera. Mas, primeiro foi preciso confirmar que estavam no caminho certo.

“Fizemos uma viagem a Paris de carro, dois dias para cada lado. Paris era um centro de conhecimento da tecnologia na Europa. Quase tudo o que era novidade se mostrava nas feiras em Paris”, conta Jorge, acrescentando que, após terem marcado presença neste evento e marcado reuniões com empresas francesas, confirmaram que estavam “no bom caminho”.

Daí até lançarem a empresa foi um salto. “Quando regressámos, ficámos sem grandes dúvidas de que tínhamos uma boa oportunidade. Fechámo-nos três ou quatro meses a fazer o primeiro produto: gestão de contabilidade para profissionais liberais. E, em janeiro, abrimos a porta e começámos o nosso processo de comercialização”, recorda.

O facto do primeiro produto criado pela empresa ser um bestseller” – no primeiro ano vendeu cerca de 2.000 cópias, com uma faturação de cerca de 100 mil euros – serviu de alavanca à Primavera para crescer e lançar novos produtos.

Nos primeiros quatro anos tivemos a sorte de estar sozinhos no mercado – ninguém acreditava muito no Windows a não ser nós próprios – e isso permitiu-nos construir um núcleo de produtos muito forte que permitia completar todas as listas de tarefas dentro de uma empresa.

Jorge Batista

Empresário e Fundador do Grupo Primavera

“Nos primeiros quatro anos tivemos a sorte de estar sozinhos no mercado — ninguém acreditava muito no Windows a não ser nós próprios — e isso permitiu-nos construir um núcleo de produtos muito forte que permitia completar todas as listas de tarefas dentro de uma empresa“, refere Jorge Batista, adiantando que os primeiros “quatro anos ficaram muito associados a uma liderança da Primavera nesta área que era nova”.

“Apareceu-nos esta janela, que é o Windows, como há uns anos apareceu outra janela que é o software na web, e está a abrir-se agora esta da Inteligência Artificial”, refere José Dionísio, acrescentando que este foi um “projeto [feito] por duas pessoas que não tinham meios financeiros, tinham conhecimento” e tinham, sobretudo, um grande entendimento entre si.

“Há uma química, uma relação entre os dois”, realça José Dionísio, lembrando, porém, que para que tudo corresse bem instituíram regras, algumas quase estatutárias, como manter fora da organização família e amigos – “nem o contabilista era amigo”. “Nem sempre foram flores”, brinca Jorge Batista.

Segundo José Dionísio, privilegiaram “uma gestão muito colaborativa, que é muito distinta das multinacionais, que é mais diretiva”, chamando muitas pessoas a dar o seu contributo para a decisão. “18 pessoas tinham interesse acionista.”

“Procuramos gerir a organização de uma forma mais profissional ainda, fazendo com que pequenos acionistas sentissem que tinham um papel na organização”, acrescenta Jorge Batista, realçando que “esses acionistas também eram quadros da organização e participavam da decisão. Fomos construindo um núcleo de decisão bastante coeso, muito alinhado na estratégia e capaz de nadar sozinho.” E foi essa Primavera que entregaram, em 2021, à Oakley. Uma empresa com cerca de 350 pessoas e 40 mil associações em Portugal e nos PALOP a usar os seus produtos.

Segue-se agora outra Primavera, que vai abrir a janela da filantropia, através da Fundação que ambos estão a constituir e que vai arrancar com três milhões de euros, tendo como foco combater os problemas de idosos e crianças em situações de vulnerabilidade.

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Embaixador chinês defende Huawei em Portugal e rejeita “mentalidade de Guerra Fria”

  • Lusa
  • 10 Fevereiro 2024

O Embaixador da China em Portugal, Zhao Bentang, defendeu o papel da chinesa Huawei na tecnologia portuguesa 5G e rejeitou uma "mentalidade de Guerra Fria".

O Embaixador da China em Portugal, Zhao Bentang, defendeu o papel da chinesa Huawei, considerada pelas autoridades como de alto risco para desenvolvimento das telecomunicações 5G, na tecnologia portuguesa e rejeitou uma “mentalidade de Guerra Fria” na questão.

Em entrevista à agência Lusa, o diplomata disse que o 5G da Huawei começou em 2003 e com a empresa Altice houve uma “cooperação importante”, resultando em que Portugal disponha dessa tecnologia.

E “nunca correu perigo, nunca teve problemas de confidencialidade”, frisou o diplomata.

“Tal como em outras áreas, a cooperação de tecnologia ajudou ao desenvolvimento de Portugal e também beneficia a parte chinesa. São projetos muito evidentes de benefício mútuo”, afirmou Zhao Bentang.

“Tratar estes temas com uma mentalidade de Guerra Fria ou intervir de uma maneira forçosa é como uma violação de regras internacionais, uma violação de benefício de outros”, sublinhou.

“Não acredito que beneficie Portugal ou a China. Estamos totalmente contra e opomo-nos a isso. Sempre quisemos comunicar e coordenar para que as cooperações corram bem”, concluiu o embaixador à Lusa, na resposta a dúvidas levantadas sobre tecnologia chinesa.

Em setembro de 2023, a Comissão Europeia disse caber aos Estados-membros da União Europeia (UE) decidir que fabricantes excluir do desenvolvimento das redes móveis de quinta geração (5G).

“Desde o primeiro dia, em que pusemos em prática a chamada ‘caixa de ferramentas’ sobre o 5G, obviamente não mencionámos nenhuma empresa, mas mencionámos o risco que qualquer país deve evitar ao selecionar ou ter as suas empresas a selecionar os fornecedores e, claro, a decisão foi tomada por eles [Portugal]”, declarou o comissário europeu do Mercado Interno, Thierry Breton.

O comissário disse que “a Huawei tem algumas partes de equipamento que não têm qualquer problema, mas outras podem ter algum problema e cabe aos Estados-membros decidir”.

Dias antes das declarações do comissário europeu, a Huawei tinha confirmado a apresentação de uma “ação administrativa no Tribunal Administrativo de Círculo de Lisboa contra a deliberação 1/2023 e documentos relacionados relativos aos equipamentos 5G, emitidos pela Comissão de Avaliação de Segurança (CAS)”.

Em maio, a CAS, no âmbito do Conselho Superior de Segurança do Ciberespaço, divulgou uma deliberação sobre o “alto risco” para a segurança das redes e de serviços 5G do uso de equipamentos de fornecedores que, entre outros critérios, sejam de fora da UE, NATO ou OCDE e que “o ordenamento jurídico do país em que está domiciliado” ou ligado “permita que o Governo exerça controlo, interferência ou pressão sobre as suas atividades a operar em países terceiros”.

Assumida como uma prioridade europeia, a aposta no 5G já motivou também preocupações com a cibersegurança, com a Huawei a estar no centro de polémica por alegada espionagem em equipamentos 5G, o que a tecnológica tem vindo a rejeitar, reiterando a falta de provas.

À Lusa, o embaixador chinês em Portugal indicou como a “China advoga por uma globalização económica de benefícios mútuos e mais inclusiva e a cooperação tecnológica ajuda e beneficia as duas partes”.

Quando se comemoram 45 anos das relações diplomáticas entre os dois países, o diplomata destacou também como as empresas chinesas entraram em Portugal depois da crise financeira, “num momento muito difícil”, sempre com tónica na cooperação e para “ajudar a sair da crise”.

“Os líderes portugueses sempre lembram esta história” com a cooperação inicialmente a basear-se, sobretudo, em setores tradicionais como “finanças, bancários, energias”, frisou.

Mas o foco mudou para “novas áreas de tecnologia, da inovação, de educação e de recursos renováveis” como carros elétricos, baterias de lítio, e “também se está a estudar construir um centro de investigação conjunta de saúde”, adiantou.

“Já com novos conceitos desse desenvolvimento económico, temos novas áreas de cooperação”, resumiu.

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Centeno vê juros a descerem para 2%, mas alerta para risco de BCE “fazer demais”

  • ECO
  • 10 Fevereiro 2024

O governador do Banco de Portugal alertou, no entanto, para o risco de o BCE "fazer demais" e levar a inflação para abaixo da meta.

O Banco Central Europeu vai descer as taxas de juro de forma sustentada quando a inflação rondar os 2%, mas tem de ter cuidado “para não fazer demais”, pois seria indesejável ir além dessa meta, afirmou este sábado, Mário Centeno, em entrevista ao Dinheiro Vivo. Para o governador, também os juros deverão estabilizar em torno dos 2%.

“A política monetária deve estar calibrada para não fazer demais. Porque se fizermos demais, podemos ter um efeito perverso na inflação, ela descer para lá dos 2%, e isso é algo indesejável”, afirmou o governador do Banco de Portugal.

“Por isso também temos de ter alguma paciência“, disse, explicando que quando o BCE se começar a aproximar dos 2%, é natural que o ritmo de redução da inflação, ele próprio, fique menos acentuado.

Vamos convergir para 2% no tal médio prazo, estando já hoje abaixo de 3%, e já não é o primeiro número de inflação abaixo de 3% que temos, mas essa convergência torna-se mais lenta”, adiantou.

Mário Centeno disse ainda que espera que se aproveite a geração mais qualificada de sempre e que os próximos governos mantenham “a alta qualidade das políticas públicas que vigorou até aqui”.

Por fim, Centeno disse que não depende dele um segundo mandato após 2025, mas que o banco tem muito para fazer. “Se for comigo como governador e se for essa a situação, excelente, acho que esta tarefa nunca está terminada”, concluiu Centeno.

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Medidas de coação dos suspeitos de corrupção na Madeira conhecidas na quarta-feira

  • Lusa
  • 9 Fevereiro 2024

Na quarta-feira, dia previsto para serem conhecidas as medidas de coação no caso da Madeira, fará três semanas desde que os três arguidos foram detidos no Funchal.

As medidas de coação dos três detidos no âmbito da investigação por suspeitas de corrupção na Madeira, entre os quais o ex-presidente da Câmara do Funchal Pedro Calado, serão conhecidas na quarta-feira, disse esta sexta-feira um funcionário judicial. A informação foi dada aos jornalistas que se encontravam junto ao Tribunal Central de Instrução Criminal, no Campus de Justiça, em Lisboa, onde decorreram os interrogatórios aos três detidos.

Segundo a mesma fonte, a sessão onde irão ser conhecidas as medidas de coação de Pedro Calado, Avelino Farinha, líder do grupo de construção AFA, e Custódio Correia, principal acionista do grupo ligado à construção civil Socicorreia, foi marcada para as 15:00 de quarta-feira. Nesse dia fará três semanas desde que os três arguidos foram detidos no Funchal.

Esta sexta de manhã, o Ministério Público pediu a prisão preventiva para Pedro Calado, Avelino Farinha e Custódio Correia, detidos desde 24 de janeiro. À saída do tribunal, onde o Ministério Público e os defensores dos arguidos fizeram as suas alegações, Paulo Sá e Cunha, advogado do ex-presidente da Câmara do Funchal, recusou antecipar qual será a decisão do juiz na quarta-feira, mas voltou a considerar não ter “nenhum cabimento a prisão preventiva” dos suspeitos.

Questionado sobre o tempo que está a levar toda esta fase do processo, já que os arguidos estão detidos desde 24 de janeiro, Paulo Sá e Cunha salientou que se “resultar em proveito das defesas”, não será “tempo perdido”, apesar de ser “tempo que é penoso” para quem está privado da liberdade.

Em 24 de janeiro, a Polícia Judiciária (PJ) realizou cerca de 130 buscas domiciliárias e não domiciliárias sobretudo na Madeira, mas também nos Açores e em várias zonas do continente, no âmbito de um processo que investiga suspeitas de corrupção ativa e passiva, participação económica em negócio, prevaricação, recebimento ou oferta indevidos de vantagem, abuso de poderes e tráfico de influência.

Na sequência das buscas, a PJ deteve o então presidente da Câmara do Funchal Pedro Calado (PSD), que renunciou ao mandato, Avelino Farinha e Custódio Correia. A operação também atingiu o ex-presidente do Governo Regional da Madeira Miguel Albuquerque (PSD), que foi constituído arguido e renunciou ao cargo, o que foi formalmente aceite pelo representante da República na segunda-feira e publicado em Diário da República no mesmo dia.

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André Jordan, o “empreendedor inato” de “gosto requintado”

  • Ana Petronilho
  • 9 Fevereiro 2024

Trabalhou em nove países e viveu em “cinco ou seis”, mas foi em Portugal que viveu 50 anos. Com 90 anos bem vividos Jordan deixa um legado "inapagável" no turismo de "cabeça fresca até ao fim".

Já passava há muito a idade da reforma, mas nem por isso André Jordan calçou as pantufas e se desligou para deixar de estar atento ao mundo do turismo e do que ia acontecendo pelo Algarve. Quem o conhecia diz ao ECO que os 90 anos do empresário luso-brasileiro foram bem vividos deixando um legado de vários empreendimentos chave para o turismo nacional que fundou, idealizou e promoveu, como a Quinta do Lago, o Belas Clube de Campo e o Vilamoura XXI.

Tinha “uma cabeça extraordinária até ao fim, a 100%, ainda com ideias de projetos”, contam ao ECO vários amigos e empresários do setor que destacam a veia “inata de empreendedor” e um “gosto requintado” daquele que é considerado como o pai do turismo nacional.

É o caso de Francisco Calheiros, presidente da Confederação do Turismo, que conheceu André Jordan há 40 anos e com quem construiu uma amizade que se prolongou até hoje. É sem dúvidas que vinca, ao ECO, que o empresário luso-brasileiro teve “uma intuição nata” e foi “o senhor turismo” em Portugal.

Entre os vários episódios, guarda na memória um dos tempos em que conheceu André Jordan, no final dos anos 80, quando o patrão do turismo estava ainda “a dar os primeiros passos” no setor. “Estávamos a reunir com o governo da altura para discutir vários assuntos e o André Jordan fez uma intervenção que me deixou impressionado quando o ouvi: chamou à atenção, com a leveza do sotaque brasileiro, para a falta de indicações e de sinalização nas estradas, a frisar que era muito difícil aos turistas se deslocarem sem sinais em locais que não conhecem. Ele sabia tudo de turismo.”

Uma admiração por André Jordan que guarda até aos dias de hoje, que vê como um “empreendedor nato” e como um visionário, lembrando que o empresário luso-brasileiro pensou e começou a construir a Quinta do Lago, ainda antes do 25 de Abril de 1974, “num terreno onde não havia nada” e quando o turismo em Portugal “era incipiente”. “Não era fácil ter aquela visão”, remata ainda o presidente da CTP.

Em entrevista ao Público em 2018, André Jordan conta que comprou os terrenos da Quinta do Lago a Pinto de Magalhães, o banqueiro do Porto ligado à origem da Sonae, e garantiu que “sempre” foi “muito feliz lá”, mesmo durante a época em que o projeto foi intervencionado pelo Estado, no pós-25 de Abril.

E é essa forte ligação ao Algarve que Helder Martins, o presidente da Associação dos Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve (AHETA), recorda ao ECO. “Assumiu-se como louletano e como algarvio há 20 anos e conseguiu comprar à junta de freguesia uma sepultura no cemitério de Almancil que estava lotado”, conta Helder Martins para quem esta vontade é o espelho do amor do empresário pela região sul do país. “Até para morrer há burocracia“, lamentava-se em entrevista ao Negócios, em 2018.

Sem medo da morte e como não queria deixar nada ao acaso, o pai do turismo português já tinha há duas décadas o seu jazigo, desenhado por um arquiteto amigo. “Uma coisa muito simples, moderna”. As chaves já as tinha entregue ao filho, que mora no Algarve. E cumprindo com a vontade de André Jordan é mesmo neste cemitério que o empresário será sepultado na segunda-feira, depois de celebrada uma missa de corpo presente na Igreja Paroquial da Nossa Senhora de Fátima, em Almancil, marcada para as 16 horas.

Helder Martins recorda ainda ao ECO o último encontro com o empresário, que tratava apenas por André, que decorreu há um ano, pelo verão, quando almoçaram e conversaram durante “largas horas” sobre o Algarve. “Tinha a cabeça fresquíssima”, diz o representante dos hoteleiros no Algarve que conheceu André Jordan há 30 anos, na génese da Quinta do Lago.

Já o presidente e fundador do segundo maior grupo hoteleiro do país, o Vila Galé, lembra a “extraordinária e perspicaz visão” de André Jordan que também conhece há 30 anos. No campo profissional, Jorge Rebelo de Almeida, salienta ao ECO, o “excelente” papel de Relações Públicas de Jordan que “fez muito pela imagem de Portugal”, sobretudo no imobiliário onde deu “um grande contributo” ao país.

O mesmo diz o Turismo de Portugal que vê em Jordan “um homem de pensamento e de ação” que deixa um legado “inapagável” com “obra feita de visão estratégica, modernidade e excelência, que muito honra e valoriza a nossa oferta turística no contexto mundial”.

O caminho para Portugal

Nasceu a 10 de setembro de 1933 em Lviv, na Ucrânia — cidade que à data era polaca e tinha o nome Lwów –, no seio de uma família de judeus abastados, produtores de petróleo.

Saiu da Polónia em 1939 com a família, aos seis anos de idade, para fugir à invasão nazi. Trabalhou em nove países e viveu em “cinco ou seis”, do Brasil aos Estados Unidos, da Argentina a Porto Rico, Bahamas, Paris ou Londres, mas foi no Algarve que se afirmou, tendo vivido em Portugal mais de 50 anos.

Passou por Nova Iorque, onde, em 1968, após a morte do pai, se tornou diretor de desenvolvimento internacional da Levitt & Sons, que à data era o mais importante promotor imobiliário residencial nos EUA. Passagem que o marcou a nível político e profissional, com os EUA na Era do New Deal, de Franklin Roosevelt, dos valores sociais-democráticos, da economia da livre empresa.

Jordan chegou, então, a Portugal em 1971, deixando para trás a família no Brasil e o seu cão que se chamava Tostão. Foi por essa altura que criou, no Algarve, a Quinta do Lago, o primeiro empreendimento de turismo residencial de luxo do país ligado ao golfe, que acabou por vender no final da década de 80. “Ainda hoje quando vou à Quinta do Lago olho para aquilo e penso: Como é que eu fiz isto tudo sem dinheiro?”, contou o empresário, em 2017, numa entrevista ao Diário de Notícias.

Mais tarde, em 1991, André Jordan criou um novo projeto de 400 hectares (o equivalente a mais de 400 campos de futebol) na região de Lisboa, o Belas Clube de Campo, que foi palco de provas internacional de golfe e que, em 2019, foi alvo de um investimento de 500 milhões de euros por parte do André Jordan Group e do Oaktree Capital Management.

Em 1995, André Jordan comprou a Lusotur, proprietária do Vilamoura XXI, o maior complexo residencial e de lazer na Europa, com uma área de 18 quilómetros quadrados, uma área que ultrapassa o Mónaco. Esta empresa foi vendida a investidores espanhóis, Prasa, em 2006, por 360 milhões de euros, tendo vendido, posteriormente a Lusotur Golfes por 120 milhões de euros, segundo a Lusa, citada pelo Público.

O “bon vivant” que foi casado com uma princesa do Liechenstein

No campo pessoal, Francisco Calheiros recorda “o bom humor” e o “gosto requintado” do “bon vivant” com quem bebia cocktails. “Vou sentir saudades dos nossos almoços, onde passávamos horas a falar sobre turismo”, disse o presidente da CTP.

Já Helder Martins lembra a “sinceridade” e a “leveza” de Jordan que via como “um cidadão do mundo” e com quem as conversas “eram uma lição de vida, porque para ele a palavra quantidade nunca existia, mas sim a qualidade”.

Conhecido como um galã e boémio, André Jordan foi casado quatro vezes, a primeira com uma princesa do Liechtenstein, a mãe dos seus dois filhos mais velhos. “Três das minhas mulheres continuam boas amigas minhas. O outro casamento foi a única relação que tive com alguém que foi má. A única pessoa má de todas aquelas com quem estive envolvido na vida. Muitas dessas minhas amigas passam por Lisboa e telefonam-me, mas não me querem ver. Não querem ser vistas, melhor dizendo. É o envelhecimento”, dizia numa entrevista ao Expresso.

Filho de um pai maçon, com ligações a Salazar, Jordan chegou a conhecer o ditador pessoalmente, após este lhe ter escrito uma carta pessoalmente para dar as condolências pelo falecimento do seu pai. “O Salazar tinha uma espécie de atração pelos opostos. O meu pai era um bon vivant, um homem de amores, um homem de grandes gestos. E ele achava graça a isso. Fez vários comentários sobre essas características dele, que fascinavam as pessoas. Estava muito relaxado. Ele tinha muito carisma. Tinha uma voz feia”, afirmou na mesma entrevista.

A ligação do pai ao regime levou-o, após o 25 de abril, a sair do país. Voltaria mais tarde para prosseguir os seus projetos. Mas nem sempre o turismo foi a sua paixão. Quando regressou ao Brasil com 17 anos para viver com o seu pai, Jordan ainda tentou a sua sorte no jornalismo, no Diário Carioca. “Fui para ‘foca’, o estagiário. Cheguei lá, menino rico e americanizado. Os jornalistas eram todos supremamente tesos, não tinham um tostão e olharam para mim com o maior desprezo possível. Mandavam-me para a rua, depois eu entregava os textos ao chefe de redação e ele dizia-me: “Pode deixar aí.” Acordava de manhã cedinho para comprar o jornal, mas os meus textos nunca eram publicados”, contou à Visão. Assim continuou até ter sido despedido.

Ficou o sonho do jornalismo, nasceu a paixão pelo turismo.

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Inspeção-geral da Saúde abre processo sobre baixas passadas a polícias

  • Lusa
  • 9 Fevereiro 2024

"O processo de inspeção tem como finalidade verificar a regularidade dos certificados de incapacidade temporária para o trabalho emitidos aos elementos do corpo profissional da PSP", refere a IGAS.

A Inspeção-Geral das Atividades em Saúde (IGAS) abriu um processo de inspeção para verificar a regularidade das baixas passadas aos polícias que faltaram a três jogos de futebol, nomeadamente o Famalicão-Sporting, anunciou esya sexta-feira a entidade.

“O processo de inspeção tem como finalidade verificar a regularidade dos certificados de incapacidade temporária para o trabalho emitidos aos elementos do corpo profissional da PSP”, refere a IGAS, numa resposta escrita à Lusa.

Adianta ainda que a realização do processo de inspeção, determinado por despacho do Inspetor-Geral, será articulada com a Inspeção-Geral da Administração Interna (IGAI).

A IGAS refere que o processo de inspeção foi aberto na sequência das notícias publicadas em órgãos de comunicação social sobre o adiamento de três jogos de futebol organizados pela Liga Portuguesa de Futebol Profissional (Liga Portugal) no passado sábado e segunda-feira.

Segundo as notícias, sublinha, “alguns elementos do corpo profissional da Polícia de Segurança Pública (PSP) destacados para esses jogos de futebol não teriam comparecido nos respetivos locais de trabalho por motivo de doença”.

“Tendo sido levantada a suspeita de os certificados de incapacidade temporária apresentados por esses profissionais terem sido emitidos de forma irregular, informa-se que, por despacho do Inspetor-Geral, de 8 de fevereiro, foi determinada a abertura de um processo de inspeção”.

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IL acusa PAN de ter estado ao lado de Costa, Sousa Real critica “ilusão liberal”

  • Lusa
  • 9 Fevereiro 2024

No frente a frente, houve discordância Rui Rocha e Inês Sousa Real em quase todos os temas – ambiente, energia nuclear ou impostos – sendo a exceção a recuperação do tempo de serviço dos docentes.

O presidente da IL acusou esta sexta-feira o PAN de ter estado “sempre ao lado” de António Costa nos orçamentos, tendo Inês Sousa Real criticado a “ilusão liberal” de um “parque de diversões” que não é acessível a todos.

No debate na SIC Notícias para as eleições legislativas entre o líder da IL, Rui Rocha, e a porta-voz do PAN, Inês Sousa Real, houve discordância em quase todos os temas – ambiente, energia nuclear ou impostos – sendo a exceção a recuperação do tempo de serviço dos professores, sobre a qual ambos concordaram que primeiro é preciso saber quanto vai custar, aguardando pelas contas da Unidade Técnica de Apoio Orçamental (UTAO).

Rui Rocha, que criticou o facto do PAN ainda não ter programa eleitoral apresentado e, por isso, não poder conhecer as suas propostas antes deste debate, tentou colar Inês Sousa Real à governação socialista. “Esteve sempre ao lado de António Costa na viabilização dos orçamentos do Estado, desde 2019, que trouxeram o país a esta situação”, criticou.

Já Inês Sousa Real apontou à “grande ilusão liberal” que considera ser a proposta que o partido de Rui Rocha traz ao país. “O bilhete para este parque de diversões que vocês tanto têm propagandeado, até nos próprios debates, é um bilhete que não está ao acesso de todos e, portanto, é aqui que o estado social tem que intervir porque de facto o liberalismo põe em causa o estado social de direito”, condenou a porta-voz do PAN.

O debate começou com um tema de atualidade que diz respeito a outras eleições, as dos Açores, no dia em que se soube que o PS vai votar contra o programa do Governo da coligação PSD/CDS/PPM, tendo Inês Sousa Real afirmado que o PAN “não dá cartas em branco a ninguém” e que respeita a autonomia regional na decisão que irá tomar sobre um eventual acordo com a coligação de direita.

Já Rui Rocha repetiu a ideia que tinha defendido na noite eleitoral de domingo e deixou claro que a IL vai avaliar “medida a medida e orçamento a orçamento” com “sentido de responsabilidade”, sublinhando que “a solução de um Governo minoritário é possível quer no quadro regional, quer no quadro nacional”.

Confrontado pela moderadora sobre a posição da IL quanto à emergência climática, Rui Rocha explicou que se esta designação for usada para “visões proibicionistas”, os liberais não estão disponíveis, mas assegurou que o partido tem soluções para uma discussão que “deve ser tida no sentido de trazer crescimento económico, com tecnologia e com futuro”.

O líder da IL aproveitou o momento para anunciar – e mostrar em estúdio – um manifesto do partido para um crescimento sustentável e deu exemplos de algumas medidas propostas. Foi neste momento que a porta-voz do PAN introduziu o tema da energia nuclear, considerando que “Portugal tem um problema estrutural com a seca” e não se pode “depender da água para o arrefecimento”, sendo esta uma solução que pode fazer sentido em “alguns países, mas em Portugal não”.

Na resposta, Rui Rocha afirmou que Portugal tem ótimas condições para energias limpas, mas precisa sempre de uma energia de base para as intermitências, sendo as opções a energia nuclear e o gás. “Não excluímos essa possibilidade do nuclear, mas há um problema de viabilidade económica”, disse, explicando que se esta existir, a IL defende esta solução.

Na questão da fiscalidade IL e PAN voltaram a estar em lados opostos, explicando o líder da IL que a proposta para que se chegue a um salário médio líquido de 1.500 euros até ao final da legislatura se consegue com um “misto de crescimento económico e descida de impostos”. Para fixar os jovens em Portugal, os liberais propõem, para a aquisição da habitação, “eliminar o IMT e o imposto de solo” e também creches e saúde para os filhos.

o PAN vai propor, no programa que ainda não é conhecido, atualizar os escalões do IRS à taxa da inflação e que o salário mínimo nacional cresça até ao final da legislatura até aos 1.100 euros.

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Direção-Geral do Consumidor deteta irregularidades em publicidade de influenciadores

  • Lusa
  • 9 Fevereiro 2024

As mensagens irregulares não identificavam a relação comercial entre influenciador e 76 empresas ou marcas publicitadas, tendo a DGC instaurado processos de contraordenação.

A Direção-Geral do Consumidor (DGC) fiscalizou a publicidade de influenciadores na rede social Instagram, tendo detetado irregularidades em 102 das 366 mensagens analisadas, anunciou esta sexta-feira a entidade numa nota à imprensa.

As mensagens irregulares não identificavam a relação comercial entre influenciador e 76 empresas ou marcas publicitadas, tendo a DGC instaurado processos de contraordenação.

A ação de fiscalização da DGC – que analisou 366 mensagens de 20 influenciadores a publicitar 137 empresas ou marcas – visou verificar o cumprimento da legislação que obriga à identificação “clara e inequívoca” da relação comercial entre o influenciador e a marca ou empresa publicitada.

Na nota, a Direção-Geral do Consumidor sublinha que “as comunicações que envolvam conteúdos comerciais, ainda que indiretos, como a promoção de produtos ou serviços de uma marca numa publicação que gere receitas ou outros tipos de benefícios, devem ser divulgados como uma atividade publicitária”.

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