CEO da BP foi demitido em 2023 por causa de relações pessoais com quadros da petrolífera
Em 2023, o CEO da BP demitiu-se depois de reconhecer que não tinha sido transparente sobre relações pessoais com quadros da companhia. Agora, é o CEO da Galp sob investigação interna.
Em maio de 2022, a petrolífera BP recebeu denúncias anónimas sobre relacionamentos do CEO, Bernard Looney, com colegas de trabalho, a investigação interna correu os seus trâmites sem consequências, mas no dia 13 de setembro de 2023, o gestor acabou por demitir-se com efeitos imediatos do gigante petrolífero após novas informações sobre relações amorosas e a confissão, do próprio, de que não teria sido “totalmente transparente” sobre o que tinha comunicado à companhia. Este é, talvez, o caso mais mediático do mundo empresarial em tempos recentes e que levou à demissão do próprio CEO.
Como o ECO revelou em exclusivo, a Comissão de Ética e Conduta da Galp Energia está a investigar uma denúncia relativa ao presidente executivo Filipe Silva. Estarão em análise alegados conflitos de interesse por causa de um relacionamento próximo e pessoal, mantido em segredo, com uma diretora de topo da companhia que depende hierarquicamente do gestor. “Sim, tive conhecimento da denúncia, mas não conheço o teor da mesma e assim que tiver conhecimento dela apenas a discutirei com a Comissão de Ética“, afirmou Filipe Silva em resposta por escrito ao ECO, sem dar quaisquer outros pormenores.
Os temas de conflitos de interesse são, cada vez mais, presentes e exigidos nas empresas, particularmente nas empresas cotadas, obrigadas hoje por razões de compliance, a terem códigos de ética e conduta que determinam os passos a dar em caso de potencial conflito de interesse. E que abrangem todos os trabalhadores, incluindo todos os membros do Conselho de Administração, como o presidente do conselho e o Chief Executive Officer (CEO). Como reconhecia, em resposta por escrito ao ECO, a presidente do conselho de administração da Galp, Paula Amorim. “A Presidente do Conselho de Administração reitera o compromisso da Galp no cumprimento do Código de Ética e Conduta, atuando por isso, sempre que aplicável e nos termos das disposições legais e estatutárias”.
Em 2019, foi o CEO da Mcdonalds, Steve Easterbrook, a ser despedido por ter tido relações íntimas com uma trabalhadora do grupo de distribuição alimentar. Primeiro, saiu por ter tido uma relação, não física e consensual, com uma trabalhadora, retendo milhões de dólares de prémios e ações. Mais tarde, em julho de 2020, depois de outra denúncia anónima, a companhia confirmou que Easterbrook tinha mentido sobre a extensão das suas relações íntimas com uma outra trabalhadora.
Em 2016, António Horta-Osório também foi obrigado a explicar-se perante todos os trabalhadores do Lloyds Bank, depois das dúvidas suscitadas, e investigadas, sobre a utilização de fundos do banco inglês, que tinha recebido apoios dos contribuintes, para fins pessoais. As investigações mostraram que não tinha havido utilização indevida de despesas pagas pela instituição financeira a que presidia, mas o banqueiro acabou por admitir os efeitos reputacionais negativos da divulgação de informações sobre a sua vida privada, e alegações de uma relação próxima com uma antiga adjunta de Tony Blair. “A minha vida pessoal é, obviamente, uma questão privada, tal como acontece com qualquer outra pessoa. Contudo, lamento profundamente ser a causa de tanta publicidade negativa e do dano causado à reputação do grupo. Isso desviou a atenção do excelente trabalho que realizam diariamente para os nossos clientes e dos grandes feitos alcançados nos últimos cinco anos“, escreveu o banqueiro num email aos 75 mil trabalhadores. Horta Osório manteve-se em funções e cumpriu o objetivo principal: Devolver aos contribuintes ingleses a totalidade do dinheiro que tinham investido no banco, para o salvar da bancarrota.
O caso da Galp Energia, ainda sob investigação interna, resulta de uma denúncia anónima, feita à Comissão de Ética e Conduta da companhia, órgão independente que reporta a sua atuação ao Conselho Fiscal. É o Código de Ética e Conduta a definir os termos da própria Comissão: “A Comissão de Ética e Conduta constitui a estrutura interna que, com independência e imparcialidade, é responsável pelo acompanhamento da aplicação e interpretação do código, nos termos definidos em norma internas”.
O que diz o Código de Conduta da Galp Energia? Identifica, primeiro, o que são conflitos de interesse: “Um conflito de interesses surge quando os nossos interesses pessoais, sejam eles financeiros, profissionais, familiares, políticos ou outros, ou os interesses de alguém com quem temos um relacionamento próximo, influenciam ou podem ser percecionados como influenciadores do exercício objetivo dos nossos deveres e responsabilidades profissionais”.
No Código de Ética e Conduta da Galp, não há nenhuma referência explícita a situações de relacionamentos próximos e pessoais, sendo omissos sobre a comunicação e participação de situações como a de uma relação afetiva, mas há um ponto explícito sobre conflitos de interesse:
- “Reconhecemos situações que podem originar conflitos de interesses. A Galp dispõe de normas, procedimentos e mecanismos que visam a prevenção, deteção e tratamento de conflitos que possam surgir entre os interesses particulares das pessoas da Galp, em benefício próprio ou de terceiros, e o cumprimento das suas funções na Galp. As pessoas da Galp têm a obrigação de reconhecer quando estejam, possam vir a estar ou possam ser percecionados como estando perante uma situação que configure conflito de interesses. Nas circunstâncias em que identifiquem estar perante um conflito de interesses, devem reportar através da plataforma existente para o efeito, por forma a que sejam tomadas as medidas que permitam eliminar ou gerir tais conflitos…”
É neste quadro que a Comissão de Ética da Galp está a investigar o caso, resultado de uma denúncia anónima. As mesmas fontes revelam ao ECO que Filipe Silva não terá comunicado este relacionamento pessoal à comissão e, de acordo com a denúncia apresentada, serão identificadas dúvidas sobre “a integridade das decisões tomadas” pelo gestor, disse uma fonte conhecedora do processo ao ECO.
A Galp, refira-se, tem uma linha dedicada ao reporte interno. A OpenGalp é a linha de ética da Galp que pode ser usada para “Comunicar eventuais desvios ao código”, “Reportar suspeitas de irregularidades” e “Reportar outro tipo de comportamentos que, não estando especificados no presente código, possam de igual forma colocar em causa a boa imagem, reputação, idoneidade e património da Galp”, lê-se no site da petrolífera.
(Notícia atualizada com informação sobre o CEO da Mcdonalds, Steve Easterbrook.
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