“Europa arrisca-se a ficar (outra vez) para trás” se não apostar na IA, alerta Carlos Oliveira
Presidente do CNCTI lamenta que a prioridade da UE na IA seja primeiro a regulamentação e depois a tecnologia, alertando que esta visão ameaça agravar o 'gap' da competitividade com EUA e China.
O mercado global da inteligência artificial (IA) deu largos passos nos últimos anos e tudo indica que a tendência se deverá manter nos próximos tempos. A evolução é de tal forma acelerada que “a pior IA é a de hoje porque amanhã já será melhor”, considerou o presidente do Conselho Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (CNCTI) de Portugal, Carlos Oliveira.
Durante a sua intervenção, naquela que foi a primeira de três sessões no Estúdio ECO, em parceria com a PwC, dedicadas ao relatório de Mário Draghi, o documento desenhado para a Europa mitigar a perda de competitividade das últimas duas décadas, Carlos Oliveira defendeu que o bloco europeu deve aproveitar esta tecnologia para reduzir este gap na inovação, sugerindo que a solução deve passar por priorizar o desenvolvimento desta tecnologia a nível europeu, flexibilizando a regulamentação e legislação e tornando as condições de investimento mais atrativas, evitando que as empresas que operam neste setor “fujam” para outros mercados.
Segundo o presidente do CNCTI, a IA deve ser encarada como “uma revolução que acontece em tempo real, e que vai alterar a sociedade a todos os níveis“, desde a forma como as pessoas interagem entre si, no dia-a-dia, passando pela organização e desenvolvimento das empresas e até à própria organização e relação entre os países. E por isso a Europa deve precaver-se.
“Arriscamo-nos a ficar para trás na aposta em inteligência artificial, como nas [revoluções] anteriores“, lamentou, referindo a título de exemplo a forma como os Estados Unidos lideraram o desenvolvimento da internet, no início da década de 2000.
“Vimos para onde a Europa continuou e agora estamos a ver como os Estados Unidos e a China estão a avançar, enquanto por cá ficámos os últimos quatro anos a discutir o AI Act“, o primeiro pacote legislativo no mundo que define regras para a inteligência artificial no bloco europeu e que visa salvaguardar direitos fundamentais no espaço comunitário.
Embora a legislação tenha sido encarada como um passo fundamental na regulamentação da IA, aos olhos de Carlos Oliveira não é claro qual será a sua eficácia. “Falamos de uma regulamentação que nem se sabe bem para que servirá e que se aplica a 27 países, e não a um só país, e que está a acelerar a uma velocidade imensa”, acrescenta.
O presidente da CNCTI lamenta que a estratégia da Europa para a IA seja primeiro as regras e depois a tecnologia, não estando a ser valorizado o “papel em branco” que esta solução traz consigo.
“A IA vem trazer uma oportunidade imensa de se repensar tudo, o que é impossível e que passa a ser possível. E na Europa começamos a conversa pelo sítio errado: o que é que não posso fazer“, diz. “Estamos a criar amarras artificiais”, lamenta.
O Relatório Draghi sobre o futuro da competitividade europeia foi apresentado em setembro e trouxe um diagnóstico em forma de sobressalto acerca do que espera o Velho Continente se não mudar de rumo. O ECO, em parceria com a PwC, vai realizar uma série de debates acerca dos temas mais importantes apontados pelo documento. Depois do arranque esta quinta-feira, seguir-se-ão as conferências dedicadas à Indústria Verde e Segurança e Defesa.
Assine o ECO Premium
No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.
De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.
Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.
Comentários ({{ total }})
“Europa arrisca-se a ficar (outra vez) para trás” se não apostar na IA, alerta Carlos Oliveira
{{ noCommentsLabel }}