Von der Leyen chama Trump: “Estamos prontos para negociar”

Comissão Europeia ainda não agendou uma reunião com Trump mas mantém-se disponível para dialogar com os EUA. No entanto, deixa um aviso: "Vamos defender os nossos interesses", disse, em Davos.

Um dia depois de Donald Trump ter tomado posse como 47.º Presidente dos Estados Unidos e já ter sinalizado a intenção de avançar com tarifas aduaneiras contra o México e Canadá, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, mostrou-se disponível para dialogar e negociar” com a nova Administração norte-americana.

A nossa prioridade será dialogar rapidamente, discutir interesses comuns e estar prontos para negociar” referiu a presidente da Comissão Europeia num discurso no Fórum Mundial Económico, em Davos, esta terça-feira.

Embora disponível, Von der Leyen deixou, no entanto, um aviso: “Vamos ser pragmáticos mas iremos sempre defender os nossos princípios, os nossos interesses e respeitar os nossos valores”, garantiu a presidente da Comissão Europeia naquela que foi a sua primeira intervenção pública depois de ter estado a recuperar de uma pneumonia severa em Hannover, na Alemanha.

A mensagem de Von der Leyen surge um dia depois de Donald Trump ter ameaçado o comércio internacional com tarifas se os países não incrementarem as compras de petróleo e gás natural aos EUA — sobretudo a União Europeia que procura desvincular-se do fornecimento de energia russa e tem apostado no abastecimento norte-americano, em alternativa. Von der Leyen já se tinha disponibilizado para reforçar este fornecimento, justificando ser uma alternativa “mais barata”.

No entanto, o contacto entre os dois blocos ainda está por acontecer. A porta-voz da Comissão Europeia, Paula Pinho ter revelou esta segunda-feira numa conferência de imprensa, em Bruxelas, que embora o executivo comunitário tenha feito “várias tentativas para agendar uma reunião” entre a Comissão e a administração Trump, “ainda não existe uma data” para o tal encontro. Bruxelas mantém-se ainda assim convicta de que tal irá acontecer nas próximas semanas, tendo a presidente felicitado Donald Trump pelo novo mandato na Casa Branca, esta segunda-feira.

Durante o discurso em Davos, Ursula von der Leyen referiu ainda que o comércio entre o bloco e os Estados Unidos representa um volume de negócios de 1,5 biliões de euros, “cerca de 30% do comércio mundial”, alertando, por isso, “estar muito em jogo”.

Nenhuma outra economia está tão integrada como estamos. De todos os ativos americanos no estrangeiro, dois terços estão na Europa e os EUA fornecem 50% do nosso gás natural liquefeito (GNL). As empresas europeias contratam cerca de 3,5 milhões de americanos, e outros milhões de empregos dependem do comércio com Europa”, declarou Von der Leyen.

Mas a presidente da Comissão Europeia deixou ainda uma nota a Donald Trump que, no primeiro dia do mandato, avançou com uma série de ordens executivas, algumas para reverter as políticas do seu antecessor, Joe Biden. Entre elas, retirar os Estados Unidos ao Acordo de Paris.

“O Acordo de Paris continua a ser a nossa melhor esperança para a humanidade. A Europa vai manter-se comprometida e vai trabalhar com todas as nações que queiram proteger a natureza e parar o aquecimento global“, defendeu.

A intervenção de Ursula Von der Leyen também se focou na mudança de paradigma da geopolítica mundial, salientando que “as regras do jogo estão a mudar“.

“Não devemos tomar nada por garantindo e embora parte da União Europeia não esteja preparada, nós [Comissão Europeia] estamos prontos para lidar com isso”, proferiu, acrescentando que para o bloco europeu continuar a “defender” os seus valores “num mundo em constante mudança”, os 27 têm de “mudar a forma como atuam”.

“Temos de aproveitar as novas oportunidades onde quer que elas surjam“, defendeu, assegurando que a Europa vai continuar a cooperar não só com os seus parceiros, “mas com qualquer país” que partilhe os mesmos interesses.

“A nossa mensagem é simples: se há benefícios mútuos, estamos prontos para dialogar“, disse, referindo os novos acordos comerciais acordados com a América do Sul (Mercosul) e a Suíça, e, futuramente com a Índia, “o maior país e a maior democracia do mundo”, e a China, apesar das tensões comerciais.

“Estamos preparados para continuar as nossas discussões construtivas com a China para encontrar soluções que sirvam os nossos interesses comuns”, disse recordando que este ano assinala-se o 50º aniversário desde de que os dois blocos iniciaram as suas relações comerciais. “Esta na hora de encontrar uma relação mais equilibrada com a China” vincou.

Bruxelas apresenta Bússola para a Competitividade na próxima semana

Depois de um adiamento por motivos de saúde da chefe dos 27, a Comissão Europeia dará a conhecer a estratégia para reforçar a competitividade e inovação na União Europeia na próxima semana, um documento que tem por base o relatório de Mario Draghi, entregue a Bruxelas em setembro de 2024.

“Para sustentar o nosso crescimento no próximo quarto de século, a Europa tem de mudar de velocidade. Foi por esta razão que pedi a Mario Draghi que apresentasse um relatório sobre a competitividade europeia”, referiu Von der Leyen ainda durante o seu discuro, dando nota de que o roteiro a apresentar será executado nos próximos cinco anos.

“A tónica será colocada no aumento da produtividade, colmatando o défice de inovação. Um plano conjunto para a descarbonização e a competitividade para ultrapassar a escassez de competências e de mão-de-obra e reduzir a burocracia”, explicou Von der Leyen, sublinhando que o roteiro vai procurar “tornar o crescimento mais rápido, mais limpo e mais equitativo, assegurando que todos os europeus possam beneficiar da evolução tecnológica”.

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