Preço do lítio pressionado em 2025. China e Trump ditam excesso de oferta

O abrandamento económico na China e produção acentuada de lítio, assim como o travão de Trump nos incentivos verdes, estão a pressionar os preços do lítio, que devem manter-se ou até descer em 2025.

Os preços do lítio chegam a 2025 com uma tendência negativa, depois de uma quebra de mais de 20% em 2024, que afastou os preços do pico de 2022. O excesso de oferta atual e a redução na procura faz com que a evolução dos preços deste metal ao longo do presente ano não seja promissora, assinalam os analistas contactados pelo ECO/Capital Verde, embora possa verificar-se um futuro mais risonho a longo prazo.

Espera-se um ano de consolidação de preços, sem aumentos significativos, ou até mesmo com uma pequena descida, devido ao excesso de oferta e à desaceleração da procura”, prevê o representante de contas da ActivTrades, Henrique Valente.

Apesar do abrandamento nas vendas de veículos elétricos na China nos últimos dois anos, as mineiras de lítio continuam a operar, evitando fechar instalações para preservar a sua quota de mercado e manter relações estratégicas com governos e fabricantes de baterias, justificando a queda de preços em 2024, observa Paulo Rosa, economista sénior do Banco Carregosa. “Essa manutenção da produção excessiva mantém a oferta elevada, pressionando os preços eventualmente em 2025“, conclui.

Assistiu-se a uma desvalorização do lítio superior a 20% em 2024, relata o Banco Carregosa, que deteta uma “forte volatilidade no preço do carbonato de lítio” nos últimos anos. “Tem sido visível um claro excesso de oferta que conduziu os preços a uma queda superior a 80% desde os máximos de 2022“, acrescenta Henrique Tomé, analista na XTB.

Em 2022, o preço do lítio ultrapassou os 70.000 dólares por tonelada, disparando a par da procura de veículos elétricos e dos avanços no armazenamento de energia, mas caiu mais de 80% nos dois anos seguintes, para cerca de 10.000 dólares.

O caso do lítio ilustra o clássico ciclo das matérias-primas, explica Henrique Valente. Uma mudança estrutural, neste caso a orientação para a aposta em veículos elétricos, provoca uma subida acentuada nos preços de uma matéria-prima. Este aumento atrai novos investimentos, mas há um desfasamento entre os sinais de preço, que são imediatos, e a expansão da oferta, que depende da construção de infraestruturas, estudos de impacto ambiental e processos de licenciamento.

“Durante este intervalo, o desequilíbrio entre a oferta e a procura contribui para a escalada de preços. Quando a nova oferta chega ao mercado, ocorre uma correção seguida de uma desalavancagem generalizada do setor”, conclui o analista da ActivTrades.

China, Trump e outros pesos pesados ‘esmagam’ o lítio

“O lítio continuará a ser considerado o ‘ouro branco’ da transição energética”, assume Henrique Valente, olhando à escassez de alternativas viáveis. No entanto, os analistas apontam vários fatores que afetam, negativamente, os preços deste metal precioso.

O excesso de oferta de lítio proveniente da China é apontado pela ActivTrades como uma das principais pressões sobre o preço da matéria-prima. Prevê-se uma acumulação de inventários até 2027, aponta Valente. Mas também têm existido desenvolvimentos relevantes fora do gigante asiático. Paulo Rosa assinala que, no Chile, está prevista uma duplicação da produção de lítio na próxima década. Em paralelo, a brasileira Rio Tinto ampliou a sua presença no mercado, ao adquirir a Arcadium Lithium, nos Estados Unidos, por 6,7 mil milhões de dólares. Além disso, investiu mais de 2,5 mil milhões de dólares para expandir a capacidade do projeto Rincon, localizado na Argentina.

Por outro lado, “a aceleração da procura, impulsionada pela transição energética, não será tão imediata como inicialmente antecipada“, escreve a ActivTrades, assinalando a desaceleração na adoção de veículos elétricos “em mercados chave”.

Nos Estados Unidos, o presidente Donald Trump prometeu reduzir os incentivos à produção e adoção de veículos elétricos. Já a desaceleração do crescimento económico na China prejudica a venda de elétricos neste país, aponta o Banco Carregosa. Trump tem ainda adotado uma postura cética em relação às energias renováveis, o que prejudica o lítio na medida em que o armazenamento também é aplicável ao sistema elétrico, relembra a XTB.

“Se esta abordagem se materializar durante a sua governação, teria um impacto negativo nos investimentos no setor a curto prazo, retardando o seu desenvolvimento”, prevê a ActivTrades. O esperado reforço do investimento na exploração de combustíveis fósseis também poderá levar a uma desvalorização maior do lítio, acrescenta Henrique Tomé.

A par destas dificuldades, o Banco Carregosa destaca eventuais avanços na tecnologia das baterias, que podem aumentar a eficiência e levar a uma redução do uso de lítio, moderando o crescimento da procura. Novas alternativas, como baterias de íons de sódio, ou “baterias de sal”, podem também fazer sombra ao ouro branco.

Contudo, nem tudo são pressões negativas. A refrear o excesso de procura podem vir a estar questões ambientais, geopolíticas e atrasos em projetos de mineração, acrescenta Paulo Rosa. “A longo prazo, a procura pelo lítio deverá continuar a crescer, movida pela crescente necessidade de baterias e pela transição para a eletrificação“, perspetiva ainda a ActivTrades. Este aumento também deve ser reforçado pelas metas de redução de emissões de carbono, pelo papel ativo dos governos na subsidiação e promoção das energias renováveis.

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