Tarifas de 10%? “Seria desastroso para os EUA, não vai acontecer”, diz UBS
Por outro lado, se Trump deportar 20 milhões de pessoas como chegou a anunciar, a economia americana entrará em recessão, avisa o economista-chefe do UBS, Paul Donovan.
Impor tarifas de 10% sobre todas as importações “seria desastroso” para os EUA, considera o economista-chefe do UBS, Paul Donovan, que alerta ainda que, se o recém-empossado Presidente Donald Trump deportar 20 milhões de pessoas, irá atirar a economia americana para a recessão.
“A determinado momento, o Presidente Trump falou em tarifas de 10% para tudo o que fosse comprado pelos EUA. Não acho que isso vai acontecer, porque seria desastroso e iria haver muito lobby contra”, sublinha Paul Donovan num encontro com os jornalistas em Lisboa.
O economista também não antecipa que Trump venha a impor tarifas de 25% sobre o México e Canadá, como tem repetidamente dito. “A principal razão para isso é que os dois países quase apenas vendem e alimentos e combustíveis. Os consumidores não sentem os preços das televisões, mas sentem os preços dos alimentos e dos combustíveis, o dano político seria maior”, explica.
Em relação à China, Paul Donovan vê as tarifas triplicaram para 30%, ainda assim a metade dos 60% anunciados por Trump. “Isso vai ter implicações económicas, mas as tarifas seletivas são possíveis de serem contornadas”, frisa o economista do banco suíço.
Deu o exemplo do que se passou no primeiro mandato de Trump. “Até 2018, as importações dos EUA eram 15% mais em valor do que as exportações e isso reflete os custos de transporte dos bens. Isso é perfeitamente normal. Mas, a partir de 2018, algo muito estranho aconteceu. A China está agora a vender mais do que os EUA estão a comprar. As exportações da China estão 19% mais elevadas dos que as importações dos EUA. Isso não faz sentido. Ou os bens estão a perder-se no fundo do mar, ou a china está a ter novas rotas para vender aos EUA, através do Vietname ou México”, explica.
“Com o tempo, as tarifas seletivas tornar-se-ão menos efetivas”, aponta.
20 milhões de deportados atira EUA para recessão
Quanto à política de migração, Paul Donovan também considera que a ideia de deportar 20 milhões de pessoas vai ter um custo económico elevado: “O Presidente Trump falou em deportar entre 10 milhões a 20 milhões de pessoas. Seria um mix de imigrantes ilegais e cidadãos. Se isso acontecer, será muito grave”.
O economista lembrou que no mandato de Joe Biden foram deportadas cinco milhões de pessoas, “uma média de 1,2 milhões por ano”. “Mas Biden estava a falar de pessoas que estavam na fronteira e que foram deportadas. Trump está a falar de retirar pessoas que estão profundamente incorporadas na economia, e isso tem consequências económicas diferentes”, sinaliza.
Donovan recorda que em qualquer país os migrantes legais ou ilegais tendem a ir para áreas do mercado de trabalho onde há escassez de mão-de-obra, pois é onde é mais fácil encontrar emprego. “Se fores imigrante ilegal, vais procurar uma área onde há uma escassez ainda maior, porque aí o empregador não faz questões. O empregador está contente apenas por ter trabalhadores”, diz.
O problema é que, se tirarmos essas pessoas do mercado, “a cadeia de abastecimento quebra, e isso cria muitas disrupções na economia”. “Se deportarem 20 milhões de trabalhadores migrantes num ano, os EUA irão entrar em recessão seguramente”, atira Paul Donovan.
Para o responsável do UBS, não vamos ter mudanças significativas na política de migração. “Vamos ter essencialmente o mesmo, mas com mais notícias da Fox News. É a narrativa que vai interessar, mais do que os números”, refere.
“Se virmos 1,2 milhões de pessoas serem deportadas este ano, não irá mudar economicamente. Mas se estiver em grande destaque na Fox News, isso muda politicamente, muda a narrativa, mas nada muda do ponto de vista económico”, observa Paul Donovan.
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