Da regulamentação ao financiamento: as tendências ESG para 2025

O Conselho Empresarial para o Desenvolvimento Sustentável, a Euronext e o Financial Times debruçam-se sobre as principais influências no mundo do ESG que se esperam para 2025.

O BCSD, a Euronext e o Financial Times entram numa sala para falar sobre as tendências de sustentabilidade ambiental, social e de governança (ESG) para 2025. Trump é o nome mais repetido. Competitividade é outro termo a ecoar constantemente. E há ainda ‘salpicos’ de inteligência artificial e economia circular. No entanto, as questões ligadas à regulação do reporte de sustentabilidade e ao financiamento são mesmo as mais sublinhadas na conversa.

Estas informações foram partilhadas no evento online “Tendências ESG 2025”, organizado pelo Conselho Empresarial para o Desenvolvimento Sustentável (BCSD, na sigla em inglês), que decorreu na manhã desta terça-feira.

A primeira tendência identificada pelo BCSD para 2025 é um foco na regulamentação, transparência e relatórios de sustentabilidade. Tiago Carrilho, diretor de Conhecimento e Formação do BCSD Portugal, salienta que o reporte “vai ganhar profundidade” com a aplicação da nova Diretiva de Reporte Corporativo de Sustentabilidade (CSRD) e a transposição desta para a lei nacional. Isto terá impacto no greenwashing e na litigância relacionada com o mesmo, prevê. Ao mesmo tempo, a diretiva de dever de diligência (CSDDD) exigirá às empresas que reavaliem as suas cadeias de valor.

O retorno de Trump está a dar mais força àquelas vozes que querem um recuo no enquadramento [legal] de sustentabilidade na Europa“, afirma Philippa Nuttall, editora da publicação Sustainability Views, do Financial Times. Uma pressão que se coloca a par do Relatório Draghi, lançado no ano passado, e a respetiva preocupação com a competitividade da Europa. A viragem à direita nas várias eleições que aconteceram no ano passado, assim como problemas políticos internos em França e na Alemanha podem também ter uma influência negativa.

A mesma sublinha que se espera um esforço de simplificação, o qual deverá ser anunciado no próximo dia 26 de fevereiro, dentro do pacote de simplificação Omnibus, depois de, em novembro do ano passado, ter sido anunciado na Declaração de Budapeste que os líderes da União Europeia pretendem reduzir os encargos administrativos e regulamentares, em particular para as pequenas e médias empresas.

Ainda está para ser visto o quanto a União Europeia será robusta na defesa de que estas regras [de sustentabilidade] são boas para os negócios se bem implementadas“, conclui, olhando à realidade europeia. Contudo, ressalva que “as linhas de reporte são variadas, mas estão a tornar-se globais”.

Financiamento com recuos, mas também avanços

Uma segunda tendência é o “investimento na mitigação e adaptação às alterações climáticas”, tendo em conta os desastres climáticos cada vez mais frequentes, assinala Carrilho. Neste ponto, o diretor de Conhecimento do BCSD identifica uma “fusão” da agenda climática com a da biodiversidade, que vê como cada vez mais interligadas, embora a ação climática passe mais por uma cooperação global, enquanto a biodiversidade pede esforços mais regionais, localizados.

Em termos de financiamento, Philippa Nuttall assinala que a saída dos EUA do Acordo de Paris tem grandes implicações, já que é menos um grande contribuidor para os fundos climáticos. A par do travão que as mais recentes ordens executivas colocam no Inflation Reduction Act, o mega pacote de apoios à transição energética criado pela administração de Joe Biden. Este ano é, portanto, “mais vital do que qualquer outro” no que diz respeito ao contributo do mundo financeiro para a sustentabilidade, refere.

Isabel Ucha, CEO da Euronext em Portugal, observa que o mercado de instrumentos financeiros ligados à sustentabilidade arrancou nos últimos seis a sete anos, sendo que 2023 e 2024 “foram anos de alguma estabilização”. A Euronext tem vindo a desenvolver um “conjunto alargado” de índices de mercado focados em temas de sustentabilidade, como a água, resíduos, mas também sociais e de governança, um “mecanismo extraordinariamente poderoso para angariar capital”. Em Portugal, destaca as emissões de dívida verde por parte das empresas.

Estamos convencidos que, apesar de alguns avanços e recuos que estas temáticas possam ter, há uma tendência estrutural muito forte na necessidade de fazer evoluir estas temáticas“, indica a CEO da Euronext. Neste sentido, considera que é importante identificar as medidas que tem mais poder de impulsionar esta agenda, um trabalho que a Euronext faz e sobre o qual dialoga com os legisladores, de forma a promover maior eficácia.

Em terceiro lugar, e numa ótica de maior governança, “a incerteza climática e social exigirá que os membros não-executivos dos conselhos de administração das empresas adotem uma perspetiva de longo prazo“, assinala Tiago Carrilho. O mesmo, vê ainda uma “convergência da sustentabilidade e da inteligência artificial“, com esta última a tornar-se “essencial”, ao automatizar relatórios complexos e melhorando a qualidade dos dados. Isto, sem descurar que o uso crescente desta tecnologia traz desafios, como o aumento do consumo energético e o impacto social no emprego, “exigindo a adoção de tecnologias mais eficientes e programas de requalificação profissional”.

Em quinto lugar, “existe um enorme défice de competências verdes no mercado para fazer a transição necessária, mas isso poderá e deverá ser aproveitado pelas organizações para dotar os colaboradores de novas competências”, defende o BCSD. Por fim, “a transição para uma economia circular continuará a ganhar força“, impulsionada pela necessidade de preservar recursos naturais e reduzir emissões de carbono, prevê a mesma entidade. Investir no design de produtos mais sustentáveis, focados na reutilização, reciclagem e eliminação de resíduos fará parte da tendência, assim como modelos de negócio baseados na partilha e reutilização, como serviços de subscrição.

Estas tendências são chave para a construção da resiliência futura das empresas, pelo que devem ser tomadas decisões firmes por parte das equipas de gestão e administração”, afirma Tiago Carrilho. Por seu lado, a editora da Sustainability Views acredita que “estamos num ponto de não retorno” no que toca a transição verde. “A transição está aí, e o momentum vai continuar. O problema é a que velocidade”, alerta.

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