“A estabilidade de preços é mais crucial do que nunca”, defende Christine Lagarde
A presidente do BCE alerta que os riscos geopolíticos atingiram níveis não vistos desde a Guerra Fria e os choques sob a economia são "mais incertos, maiores e possivelmente mais persistentes".
Christine Lagarde, presidente do Banco Central Europeu (BCE), alertou esta quarta-feira para os desafios que a incerteza geopolítica coloca à política monetária e sublinhou que o compromisso com a estabilidade dos preços é agora “mais importante do que nunca”.
Num discurso proferido no 25.º encontro “ECB and Its Watchers”, organizado pela Universidade Goethe em Frankfurt, Christine Lagarde sublinhou que o BCE terá de manter uma “agilidade para responder a novos choques”, embora sempre dentro de “um quadro bem definido que limite reações de curto prazo e discricionariedade descontrolada”.
A presidente do BCE reconheceu que o contexto atual está profundamente alterado, marcado por incertezas geopolíticas crescentes e riscos económicos mais elevados que alavancam as incertezas. “Certezas estabelecidas sobre a ordem internacional foram postas em causa. Algumas alianças tornaram-se tensas”, afirmou Christine Lagarde, destacando que os indicadores de risco geopolítico estão em níveis nunca vistos desde a Guerra Fria, excetuando períodos de guerra ou grandes ataques terroristas.
Se as expectativas de inflação estivessem tão mal ancoradas como na década de 1970, as taxas diretoras teriam de ter subido para 8% no pico do recente ciclo de aperto para controlar a inflação.
No seu discurso desta quarta-feira, Christine Lagarde explicou que o atual ambiente económico é caracterizado por choques “mais incertos, maiores e possivelmente mais persistentes”. A presidente do BCE enfatizou que estes novos choques têm origem principalmente no comércio internacional, na defesa e nas alterações climáticas.
Além disso, alertou para uma possível mudança na magnitude dos choques inflacionistas: “A inflação reage desproporcionalmente mais forte a grandes choques, enquanto pequenos choques não desencadeiam reações significativas.”
Christine Lagarde destacou também o papel crucial das expectativas de inflação na política monetária do BCE. Segundo a presidente da instituição responsável pela política monetária do Eurosistema, “se as expectativas de inflação estivessem tão mal ancoradas como na década de 1970, as taxas diretoras teriam de ter subido para 8% no pico do recente ciclo de aperto para controlar a inflação” — um cenário que teria custos muito elevados para a economia.
Neste contexto mais volátil e incerto, Christine Lagarde voltou a defender que o BCE não pode comprometer-se antecipadamente com um determinado caminho das taxas de juro: “Quando o tamanho e distribuição dos choques tornam-se altamente incertos, não podemos fornecer certezas comprometendo-nos com uma trajetória específica das taxas”. Em vez disso, afirmou ser essencial fornecer clareza sobre como o BCE reagirá perante diferentes cenários: “Mesmo quando não podemos fornecer certezas sobre o rumo das taxas de juro, podemos fornecer clareza sobre a nossa função de reação”.
Esta postura está alinhada com o comunicado da última reunião do BCE, realizada a 6 de março, em que é referido explicitamente que o Conselho do BCE não se compromete antecipadamente com um determinado rumo das taxas de juro futuras. A mesma mensagem foi passada e reforçada com Christine Lagarde na conferência de imprensa após a reunião do BCE, sublinhando que há riscos e incertezas “enormes” e “em todo o lado” que impedem a instituição de se comprometer sobre o ritmo das próximas descidas.
Christine Lagarde deixa claro que o caminho da política monetária será pautado por uma gestão prudente e adaptativa, evitando compromissos rígidos quanto à evolução futura das taxas de juro. Ao reforçar a importância das expectativas de inflação bem ancoradas e de uma comunicação transparente sobre as suas decisões, a líder do BCE procura assegurar a confiança dos mercados e minimizar os custos económicos associados aos choques inflacionistas.
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