Banco de Portugal revê em ligeira alta crescimento deste ano para 2,3%
Estimativa fixa-se uma décima acima da estimativa de dezembro e duas décimas acima da previsão oficial do Ministério das Finanças. Porém, para 2026 prevê uma desaceleração do crescimento.
O Banco de Portugal (BdP) está ligeiramente mais otimista sobre o desempenho da economia portuguesa este ano, prevendo agora um crescimento de 2,3%. As previsões constam do “Boletim Económico de março”, no qual a instituição liderada por Mário Centeno revê, contudo, em baixa de uma décima a estimativa para o próximo ano.
A previsão do regulador para este ano fixa-se uma décima acima dos 2,2% avançados em dezembro e mais duas décimas do que a previsão oficial do Ministério das Finanças. No entanto, o ministro das Finanças, Joaquim Miranda Sarmento, disse recentemente acreditar que o crescimento poderá ascender a 2,5% em 2025.
Após a aceleração do crescimento este ano face aos 1,9% registados no ano passado, deverá voltar a desacelerar em 2026, para 2,1%, e novamente em 2027, para 1,7%, prevê o BdP.
“O crescimento económico em 2025–26 beneficia do alívio das condições financeiras e tem subjacente uma aceleração da procura externa e uma execução dos fundos europeus mais concentrada agora em 2026″, explica o supervisor.
O menor crescimento em 2027 é justificado, segundo o BdP, em larga medida, pelo fim do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR). Por sua vez, o consumo e o investimento poderão beneficiar de um aumento da confiança, mas “a sua concretização exige uma redução da incerteza interna e externa”.

Por seu lado, a inflação (medida pelo Índice Harmonizado de Preços no Consumidor) deverá reduzir-se para 2,3% em 2025 e situar-se em 2% em 2026 e 2027.
Contudo, as previsões estão rodeadas de incerteza. Segundo o BdP, os riscos adversos em torno da projeção para a atividade acentuaram-se e prevalece uma incerteza elevada sobre a evolução da economia mundial.
Para além dos fatores de risco já existentes — relacionados com a invasão militar da Ucrânia pela Rússia e os conflitos no Médio Oriente — surgiram novos fatores, com destaque para as alterações na orientação de política geoestratégica e comercial nos EUA.
“Para além dos fatores de risco já existentes — relacionados com a invasão militar da Ucrânia pela Rússia e os conflitos no Médio Oriente — surgiram novos fatores, com destaque para as alterações na orientação de política geoestratégica e comercial nos EUA“, aponta.
A instituição liderada por Mário Centeno alerta que “a materialização destes riscos pode conduzir a subidas de preços das matérias-primas, disrupções nas cadeias de abastecimento, menor crescimento do comércio mundial e variações cambiais marcadas, com impacto desestabilizador sobre a atividade“.
“Esta incerteza pode levar os agentes económicos a adiar ou cancelar decisões de investimento, a aumentar a poupança por motivos de precaução ou a exigir prémios de risco mais elevados, reduzindo o preço dos ativos e aumentando os custos de financiamento”, adverte.
O BdP destaca ainda que “a materialização de um cenário de aumento de tarifas pelos EUA às importações da UE, envolvendo retaliação e aumento da incerteza/redução da confiança, teria um impacto negativo relevante na atividade económica em Portugal”.
Rendimento nominal deve reduzir-se 1,2% no primeiro trimestre
O Banco de Portugal destaca o papel que o consumo privado teve no crescimento económico de 2024, nomeadamente na reta final do ano, refletindo “a aceleração significativa do rendimento disponível no quarto trimestre”, com uma variação em cadeia estimada de 5%.
O regulador assinala que esta evolução resultou sobretudo das alterações ao IRS com efeitos retroativos, refletidas nas tabelas de retenção específicas em setembro e outubro, e ao pagamento do suplemento extraordinário de pensão em outubro, estimando que, no conjunto, estas medidas de política orçamental representaram um aumento de cerca de dois mil milhões de euros no rendimento das famílias, equivalendo a quase 4% do rendimento trimestral.
Porém, prevê que, no primeiro trimestre de 2025, o rendimento disponível nominal deverá reduzir-se 1,2%, revertendo assim parcialmente o aumento do quarto trimestre, com consequências para o consumo privado, que deverá retrair-se.
“O consumo privado deverá ser também condicionado no segundo trimestre pelo impacto da redução prevista nos reembolsos do IRS, resultante das menores retenções na fonte ocorridas em setembro e outubro de 2024“, aponta.
Deste modo, estima que um crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), em cadeia, de 0,2% no primeiro trimestre, de 0,4% no segundo trimestre e de 0,5% nos trimestres seguintes. “Estas variações em cadeia do PIB em 2025 são inferiores às projetadas em dezembro, pelo que a revisão em alta da taxa anual do PIB em 2025 reflete o maior efeito de arrastamento do crescimento no quarto trimestre de 2024”, explica.
Na fotografia global, espera que após um aumento de 3,2% em 2024, o consumo privado cresce 2,8% em 2025 e 1,8% em 2026 e 2027. Já para as exportações prevê um crescimento a uma taxa média de 2,9% em 2025–27, inferior à dos últimos anos, “num contexto de aceleração esperada da procura externa e menores ganhos de quota”.
(Notícia atualizada às 11h24)
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