Com novas eleições à porta, CEO da Sonae diz que 2025 é “um ano perdido para Portugal”

Cláudia Azevedo considera que "os portugueses estão um bocado fartos das polémicas que envolvem a política". Investimento do grupo em 2024 “dificilmente será replicável tão cedo”, reconhece.

A CEO da Sonae, Cláudia Azevedo, considera que o quadro de instabilidade política no país, com novas eleições legislativas antecipadas, vai resultar num “ano perdido” para Portugal. A empresária disse ainda que “os portugueses estão um bocado fartos das polémicas que envolvem a política” e que cabe aos políticos governar, algo que não têm feito.

“Vamos ter novas eleições, depois formar novo Governo, depois há autárquicas [no outono]. É um ano perdido para Portugal e é um ano em que Portugal tinha muito para fazer“, disse a líder da dona do Continente durante a conferência de imprensa de apresentação de resultados de 2024.

Vamos ter novas eleições, depois formar novo Governo, depois há autárquicas [no outono]. É um ano perdido para Portugal e é um ano em que Portugal tinha muito para fazer.

Cláudia Azevedo

CEO da Sonae

Questionada sobre a crise política no país, Cláudia Azevedo lembrou que há precisamente um ano, após a eleição de Luís Montenegro como primeiro-ministro, tinha defendido que os políticos teriam de se focar nas pessoas e governar para elas. “Não me parece que este ano tenha contribuído para isso”, completou, sendo a situação agravada pelo nível de incerteza global.

“Os portugueses estão um bocado fartos das polémicas que envolvem a política”, reforçou a empresária nortenha. “Ouvir [os debates na] Assembleia da República através da televisão é uma coisa que não recomendamos a ninguém. A prioridade é governar; não entrar em polémica uns com os outros”, criticou. “Os pequenos casos não acrescentam valor nenhum à sociedade”, acrescentou.

Apresentação dos resultados de 2023 do grupo Sonae - 13MAR24
Cláudia Azevedo, CEO da Sonae, na apresentação dos resultados de 2023 do grupoRicardo Castelo/ECO

Quanto à situação internacional, a empresária destacou que é “difícil” fazer previsões sobre evolução dos preços, porque todos os dias há alguma novidade, adiantou, referindo-se aos anúncios de tarifas que chegam dos EUA. Ainda assim, Cláudia Azevedo garantiu que os supermercados Continente, detidos pelo grupo, “tudo farão para ter os melhores preços”.

Sobre as tarifas, o CFO João Dolores diz que “ninguém sabe muito bem o que vai acontecer”, mas que com a aplicação de taxas aduaneiras “haverá certamente impacto à escala global“. Mas “neste momento não estamos a sentir nenhum impacto ao nível da sociedade”, garantiu. “O Continente tem feito um trabalho de apoio à produção nacional, o que mitiga a dependência de fatores externos”, salvaguardou a CEO da empresa da Maia.

Otimismo para 2025, mas investimento “dificilmente replicável tão cedo”

Em termos globais, “num mundo muito incerto, vemos o mundo com muito otimismo na Sonae”, disse ainda a empresária. Depois de um ano que qualificou como “memorável”, em que a empresa atingiu um volume de negócios de quase 10 mil milhões de euros e um EBITDA acima de mil milhões, com um investimento recorde, onde a empresa investiu 1,6 mil milhões de euros, reservando 1,1 mil milhões deste valor a aquisições, Cláudia Azevedo diz que 2024 “foi um ano recorde, dificilmente replicável tão cedo”.

“Vamos ter um forte investimento nos nossos negócios e os nossos negócios atuais já incluem aquisições de 2024”, como a Musti ou a Druni, esclareceu a líder da Sonae.

Quanto a novas aquisições, depois de um ano em que a companhia concluiu a aquisição da Musti, num investimento de 700 milhões, a compra de 89% da Diorren por 160,5 milhões e a “combinação dos negócios” da Druni e da Arenal Perfumarias, não se antecipa outro grande negócio em 2025. “Não estou a prever uma aquisição num setor e numa geografia completamente diferente“, adiantou, destacando, porém, que para manter a liderança “implica um forte investimento anual”.

A CEO da Sonae destacou ainda que a dívida aumentou em 2024 – triplicou para 1,6 mil milhões – e “num mundo muito instável, temos que ser mais conservadores desse lado“.

Portefólio reforçado com aquisições

Na apresentação dos indicadores económicos, João Dolores, CFO da empresa, realçou que “foram resultados extraordinários, com recordes a todos os níveis”. “Este ano foi um ano particularmente importante no reforço do nosso portfólio”, justificou.

O responsável detalhou que a aquisição da Druni foi um “investimento muito importante”, no valor de 266 milhões de euros, explicando que “o segundo investimento mais importante foi na Musti“, naquele que foi “o maior investimento que fizemos até à data num único ativo”, de 700 milhões. “É uma plataforma muito importante, com muito potencial de expansão internacional”, acrescentou.

Foi um ano intenso do ponto de vista de investimento e de reforço de portefólio. Dá-nos muita confiança para enfrentar futuro.

João Dolores

CFO da Sonae

João Dolores referiu ainda que “o terceiro investimento foram os investimentos que a Sparkfood fez, com destaque para investimento em França”, com a aquisição da BCF Life Sciences (BCF) por 160 milhões de euros.

Outro investimento destacado pelo administrador financeiro foi a compra da Claranet pela NOS; já em 2025. Trata-se de um negócio que “vem mudar o perfil de negócio da Nos neste segmento [das empresas]. São 1000 pessoas que se juntam à família da Nos”.

“Foi um ano intenso do ponto de vista de investimento e de reforço de portefólio. Dá-nos muita confiança para enfrentar futuro“, concluiu.

Margem pressionada na Worten

Em relação aos vários segmentos de negócio, o administrador financeiro destacou que a MC teve um “ano extraordinário”, suportado pelo setor alimentar, com o Continente a apresentar um “desempenho muito forte”.

O setor alimentar registou um volume de negócios de 6,5 mil milhões de volume de negócios, o que representa um crescimento homólogo de 7,1%, num ano em que abriu 25 novas lojas, elevando o número de espaços abertos para 68.

João Dolores destacou que mesmo num contexto de baixa inflação, com uma inflação de 1% no mercado alimentar, o grupo expandiu a posição de liderança em Portugal

O segmento de saúde, beleza e bem-estar fechou 2024 com um volume de negócios de 1,1 mil milhões, o que representa um crescimento de 9,8% excluindo a Druni, com o setor a apresentar vendas online de 109 milhões.

“A Worten teve um ano muito positivo, com reforço da liderança no mercado português, num mercado super concorrencial”, acrescentou João Dolores. O CFO disse ainda que a empresa se tem afirmado neste que é um setor muito digital, com as vendas online a subirem 18,4% para 310 milhões. Pesam mais de 20% total.

Apesar de considerar que a Worten fechou o exercício com bons resultados, João Dolores reconheceu que a empresa registou uma “margem um pouco pressionada pela inflação que sentimos nos custos“, apresentando uma margem EBITDA de 5,6%.

Em termos globais, este foi um “crescimento muito forte”, sintetizou. “Crescemos melhorando a rentabilidade operacional. Só com esta saúde financeira conseguimos continuar a investir”, concluiu.

(Notícia atualizada pela última vez às 12:30)

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