Rui Rocha demite-se da presidência da Iniciativa Liberal. Mas vai “andar por aqui”

Há dois anos como presidente, Rocha demite-se "para renovação de ciclo político", confirmou o ECO junto do partido. Contudo, assumirá o lugar no novo Parlamento. Partido segue para eleições internas.

Rui Rocha, líder da Iniciativa Liberal, demitiu-se do lugar “para renovação do ciclo político”, apurou o ECO junto do partido. Apesar da possibilidade deixada pelos estatutos de subida de um vice-presidente, o ECO sabe que a comissão executiva seguirá Rocha, pelo que haverá eleições internas.

O sucessor de João Cotrim Figueiredo na presidência da IL enviou um email aos seus colegas de partido indicando a decisão, informação avançada pelo Observador e já confirmada pelo ECO. Sem ser detalhado nas razões da demissão, Rocha admite que, com estas legislativas, abria-se “um ciclo político com enormes desafios e para o qual a Iniciativa Liberal não parte com a preponderância de um peso eleitoral pelo qual lutámos e todos desejávamos”. E assume ter “integral responsabilidade nisso”.

Ao ECO, Bernardo Blanco, figura de destaque do partido, agradece ao líder demissionário “pelo trabalho que desempenhou com muito sacrifico pessoal”. Agora, diz, “é tempo do partido passar por uma reflexão estratégica para perceber como pode crescer para resultados perto dos dois dígitos, como teve nas eleições europeias. Somos um partido exigente”. Olhando já para uma futura liderança, Bernardo Blanco afirma que o partido tem “várias pessoas capazes para assumir a liderança e certamente nos próximos dias haverá novidades. Parece-me desejável que haja uma candidatura agregadora, dado que há autárquicas daqui a poucos meses e queremos obviamente ter bons resultados”.

Entre as reações que já vieram a público está a do deputado liberal Mário Amorim Lopes, que no X deixa elogios ao colega de bancada e agora presidente demissionário, enaltecendo que este foi “ímpar e inexcedível a liderar o partido”.

 

Crescimento aquém da dinâmica da direita em Portugal

No email, o líder demissionário escreve: “Durante os quase dois anos e meio em que tive a honra de exercer a função de Presidente da Comissão Executiva, a Iniciativa Liberal defendeu um Portugal mais livre em quatro eleições regionais (Açores e Madeira), umas eleições europeias e duas eleições legislativas a que se somaram ainda as eleições internas de 2023 e 2025″.

Adicionalmente, escreve que “a Iniciativa Liberal passou a estar representada em todos os parlamentos, obteve o seu melhor resultado de sempre em eleições de âmbito nacional nas Europeias de 2024 e o melhor resultado de sempre em legislativas em número de votos, em percentagem e em número de mandatos nas eleições de 2025“.

Nas últimas legislativas, realizadas a 18 de maio, a Iniciativa Liberal foi a quarta força partidária mais votada, com 5,4%, correspondentes a 338.664 votos, o que lhe assegurou nove deputados para a Assembleia da República. Entre eles, o próprio Rui Rocha, que afirma que irá assumir o lugar em São Bento.

No seu percurso em legislativas desde a criação em 2017, a Iniciativa Liberal tem um crescendo contínuo de votação e evoluiu do deputado único em 2019 até aos atuais nove, depois de em 2022 e 2024 ter alcançado oito lugares na Assembleia da República. Contudo, num contexto de subida exponencial da direita em Portugal, sobretudo à luz da dimensão da ascensão do Chega, o crescimento da IL é bastante comedido.

Aquando do último resultado expressivo da esquerda, na maioria absoluta do PS de António Costa em 2022, PSD e Chega, somados, tinham 84 lugares em São Bento. Nessas mesmas eleições, a IL disparava de um para oito deputados. Três anos decorridos e com duas chamadas às urnas pelo meio, os eleitores elevaram os partidos de Luís Montenegro e André Ventura para 147 deputados, numa subida de quase 60%. Já o partido de Rui Rocha ganhou apenas um lugar.

O email indica, precisamente, que “com as eleições legislativas de 2025 abre-se um novo ciclo político que se inicia com uma representação parlamentar significativamente diferente”.

A última das grandes decisões do agora demissionário presidente foi o sentido de voto aquando da moção de confiança apresentada pelo PSD de Luís Montenegro, a qual resultaria num chumbo que levaria à queda do Executivo e marcação de legislativas, das quais resultou a configuração da Assembleia tal como tomará posse na próxima terça-feira. Na altura, a 11 de março, a IL afirmou-se enquanto única força partidária a votar ao lado da coligação PSD/CDS, o que não impediu o chumbo.

No email em que agora apresenta a demissão de líder, Rocha considera que tomou “as decisões certas nos momentos mais críticos”.

Recorde-se que Rui Rocha foi reeleito para um segundo mandato na IL há menos de quatro meses, tendo alcançado 73,4% dos votos, contra 26,6% do conselheiro nacional Rui Malheiro. Em janeiro de 2023, o Rocha chegou à liderança com 51,7%, ficando Carla Castro a uma curta distância, com 44% dos votos dos membros do partido.

No artigo 27.º dos estatutos da IL estão definidos os critérios de substituição numa situação de “renúncia ou impedimento definitivo”. No caso do presidente da Comissão Executiva, lugar ocupado por Rui Rocha, “assumirá o cargo um vice-presidente por ordem da lista que a elegeu; a impossibilidade desta substituição implica a demissão da Comissão Executiva e a convocação de uma Convenção Nacional para eleição de nova Comissão Executiva, mantendo-se entretanto a cessante em funções de gestão corrente e sob a coordenação do Secretário-geral”. Contudo, confome o ECO apurou, a comissão executiva irá sair.

 

Leia aqui a mensagem de Rui Rocha, enviada aos membros da IL:

Liberais,

Durante os quase dois anos e meio em que tive a honra de exercer a função de Presidente da Comissão Executiva, a Iniciativa Liberal defendeu um Portugal mais livre em quatro eleições regionais (Açores e Madeira), umas eleições europeias e duas eleições legislativas a que se somaram ainda as eleições internas de 2023 e 2025.

Vivemos em dois anos e meio todos estes desafios que, noutras circunstâncias, partidos e lideranças provavelmente só teriam de enfrentar em períodos de tempo bem mais alargados, correspondentes a uma ou mesmo a duas legislaturas.

Nesse período, a Iniciativa Liberal passou a estar representada em todos os parlamentos, obteve o seu melhor resultado de sempre em eleições de âmbito nacional nas Europeias de 2024 e o melhor resultado de sempre em legislativas em número de votos, em percentagem e em número de mandatos nas eleições de 2025. Ao mesmo tempo, o partido deu passos claros no sentido de uma gestão mais profissional, com reforço das equipas e novas ferramentas, crescendo quer em número de núcleos, quer de membros.

Ao longo deste tempo como Presidente da Comissão Executiva a minha prioridade permanente foi a de garantir a autonomia estratégica, política e financeira da Iniciativa Liberal.

Foi por isso que recusámos sempre qualquer possibilidade de integrar coligações pré-eleitorais, apresentando-nos a todas essas eleições com a nossa visão, as nossas propostas e as nossas pessoas. Foi por isso que nos apresentámos a essas eleições com as nossas bandeiras, como único partido que confia nas pessoas e recusa uma visão dirigista, estatista e despesista do país. Foi por isso que recusámos integrar o governo em 2024, constatando que não estavam garantidas as condições para executar uma agenda reformista. Foi por isso que garantimos a atividade do partido com total equilíbrio financeiro e sem endividamento.

E, olhando para estes últimos meses, estou mesmo convencido que tomámos as decisões certas nos momentos mais críticos. Tomámos a decisão certa na discussão da moção de confiança, fizemos uma boa campanha eleitoral, apresentámos as nossas propostas com uma visão positiva para o país, representámos bem os nossos eleitores, estivemos à altura das circunstâncias.

Todavia, com as eleições legislativas de 2025 abre-se um novo ciclo político que se inicia com uma representação parlamentar significativamente diferente. Um ciclo político com enormes desafios e para o qual a Iniciativa Liberal não parte, reconhecendo a minha integral responsabilidade nisso, com a preponderância de um peso eleitoral pelo qual lutámos e todos desejávamos.

Desta vez foi Liberal para mais portugueses, mas ainda não os suficientes. Ainda não os suficientes para acelerarmos Portugal conforme queríamos e era tão necessário. A exigência que sempre apliquei na minha ação pessoal, profissional e política não me permite ignorar este facto e impõe que decida em conformidade.

A minha intenção sempre foi a de servir a Iniciativa Liberal. Foi assim quando, ainda recém-entrado no partido prescindia das minhas horas de almoço, das noites ou de fins de semana para colaborar com a equipa de comunicação. Foi assim quando assumi responsabilidades em diferentes órgãos locais e nacionais da Iniciativa Liberal. Foi assim como cabeça de lista pelo círculo de Braga em 2022. Foi assim enquanto Presidente da Comissão Executiva.

Tudo o que fiz foi pelo partido, fiz tudo pelo partido e fiz tudo com total desprendimento.

E com esse mesmo desprendimento de quem nunca esteve “agarrado” a qualquer lugar, depois de uma profunda reflexão, decidi apresentar a minha demissão nesta data. Servir o partido, neste momento, significa abrir a oportunidade para uma discussão interna sobre os caminhos futuros da Iniciativa Liberal, a visão estratégica mais adequada para o novo cenário político e uma nova liderança.

Agradeço profundamente às Comissões Executivas que liderei, a todos os que me acompanharam, à Iniciativa Liberal e a todos os portugueses que confiaram em nós. Foi uma honra servir a Iniciativa Liberal e, com isso, Portugal.

Pela minha parte, continuarei “a andar por aqui”. Assumirei o mandato de deputado na Assembleia da República e contribuirei como membro de base da Iniciativa Liberal em todos os combates onde possa ser útil ao partido e ao país.

Em poucos anos, já marcámos profundamente a política portuguesa. Mas estou certo que para Portugal e para a Iniciativa Liberal o melhor ainda está para vir.

Viva a Iniciativa Liberal, viva Portugal!

 

Notícia atualizada às 19h15 com a transcrição do email e às 19h40 com declarações de Bernardo Blanco

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