Relocalizar investimentos nos EUA? “Empresas não vão voltar”, antecipa Coface

Políticas "erráticas" de Trump não favorecem investimentos de 10 ou 20 anos, diz a Coface. Para a seguradora, estamos perante um processo de reconfiguração do comércio mundial, para fugir às tarifas.

A economia global enfrenta um período de forte imprevisibilidade, com os países confrontados com as tarifas mais elevadas dos últimos 100 anos, o que vai abrandar o crescimento da economia global para 2,2% em 2025, antecipa a Coface. Perante um ambiente marcado por “muita, mas mesmo muita” incerteza, a seguradora de crédito acredita que “as empresas não vão voltar para os EUA”. Vão sim procurar outros mercados para fugir às taxas aduaneiras, promovendo uma reconfiguração do comércio mundial.

Temos de estar preparados para que haja mais tarifas” e “os EUA não vão ter acordos com todos os países“, avisa Bruno de Moura Fernandes, head of macroeconomic research da Coface, na conferência Risco País, organizada pela seguradora especializada em proteger as empresas contra o risco de incumprimento financeiro por parte dos seus clientes, que está a decorrer esta terça-feira na Fundação António Cupertino de Miranda, no Porto, e que coincide com o 25º aniversário em Portugal.

Para o especialista, este ambiente de forte incerteza, marcado pelos avanços e recuos na política comercial norte-americana e nas negociações, vai afastar as empresas dos EUA: “As empresas não vão voltar para os EUA”.

“As empresas não vão relocalizar massivamente nos EUA. As políticas muito erráticas de Trump não vão favorecer um investimento de 10, 15, 20 anos“, reforça Bruno de Moura Fernandes, acrescentando que as indústrias “vão desviar para outros mercados” para evitar as tarifas.

Bruno de Moura Fernandes diz que países vão procurar outros mercados, promovendo uma nova configuração do comércio mundial.

O head of macroeconomic research da Coface acredita que vamos assistir a um “processo de reconfiguração do comércio mundial e maior concorrência asiática”, nomeadamente da China, explicando que os países vão procurar outros mercados, o que vai levar a que haja maior concorrência quer no mercado de exportação, quer no mercado nacional de cada país.

O responsável considera que esta alteração já está a ter impacto na economia americana, citando a perda de confiança sobre integridade das instituições americanas e sobre economia americana. “Já há este impacto na economia”, refere, acrescentando que o primeiro efeito desta situação será na economia – seguradora reviu em baixa as estimativas para os EUA em 2025 e 2026.

Em segundo lugar, a Coface estima um preço do petróleo mais baixo – em torno dos 60 dólares –, fruto da maior oferta e menor procura. Já na Europa, a expectativa é que o preço do gás permaneça alto na Europa, o que classifica como “uma das dificuldades para indústria europeia”, que ainda não recuperou desde o ano passado.

A pesar no outro lado da balança, Bruno de Moura Fernandes refere os custos de financiamento na região, antecipando que o “BCE vai baixar juros mais uma ou duas vezes este ano“.

Para o responsável da Coface, a economia – e as empresas – poderão beneficiar com “a reviravolta fiscal” na Alemanha: “Até que enfim que os alemães percebem que 60% do PIB não é nada e decidiram gastar”, realça, destacando os elevados planos de investimento previstos pela Alemanha em despesas militares.

“Já no ano que vem, os alemães vão gastar muito mais em despesas militares”, o que “vai beneficiar a indústria alemã e também do resto da Europa“, nota o especialista.

Luís Tomé, professor catedrático e diretor do departamento de relações internacionais na Universidade Autónoma de Lisboa, concorda que “neste momento não sabemos para onde vamos” e ainda só levamos quatro meses de administração de Donald Trump

“Nos dois primeiros anos vai tentar implementar toda a sua agenda. Para mim é claro que com Trump os EUA transformaram-se numa democracia iliberal”, defende, acrescentando que o presidente dos EUA tem a “tentação de governar por decreto”.

Esta administração assume como objetivo não manter a ordem liberal, mas desfazê-la, porque é uma arma contra os EUA”, reitera, apontando vários riscos geopolíticos que têm vindo a escalar, desde a guerra na Ucrânia, ao conflito entre o Paquistão e a Índia, ou a tensão entre a China e Taiwan.

Para Luís Tomé, o que Trump fez foi trazer “mais imprevisibilidade sobre mais incertezas”. Uma ideia partilhada por Cláudia Vasconcelos, country manager da Coface em Portugal, que destaca que, este ano, há “incerteza tal, que é sempre atípico” e há “sempre eventos que não tinham sido antecipados”.

“O desafio que se coloca às empresas é gerir este desafio da incerteza e é importante que estejam as mais informadas possível”, remata.

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