Ciclones do Porto ‘atingem’ sueca Sunds com partículas industriais
Pedro Araújo e Romualdo Salcedo vendem Advanced Cyclone Systems à Sunds Fibertech. Com projetos em 43 países e vendas de 7 milhões, serve gigantes como a ArcelorMittal, Sonae Arauco, Merck ou Nestlé.
A sueca Sunds Fibertech é a nova dona da Advanced Cyclone Systems (ACS), empresa do Porto que desenvolve soluções de separação gás/sólido baseadas em ciclones industriais de alta eficiência, que permitem o controlo de emissões de partículas e a recuperação de produto em diversos processos industriais, e que conta com clientes nos setores da madeira, energia, alimentar, química ou farmacêutica.
Pedro Araújo, que vai continuar à frente da empresa, conta ao ECO que, embora a empresa portuguesa já estivesse “no radar” do grupo sueco, o interesse despertou com o fornecimento de um sistema da ACS para um cliente comum na Malásia. A aquisição é encarada como uma oportunidade para acelerar o crescimento em áreas estratégicas, com destaque para os painéis de madeira, onde enfrentava até agora “importantes barreiras à entrada”.
Com sede e escritório no Porto, onde trabalham 17 pessoas, a empresa fundada em 2008 tem uma subsidiária no Brasil com seis funcionários distribuídos entre Vitória (Espírito Santo) e Campinas (São Paulo). No portefólio soma projetos em 43 países, com mais de 450 sistemas instalados, e este ano prevê faturar 7 milhões de euros em termos consolidados. Mais de 90% fora de Portugal, sobretudo no Brasil, França, Espanha, EUA e Canadá.
É uma oportunidade de aceleração do crescimento em áreas estratégicas, com destaque para o setor dos painéis de madeira, onde já tínhamos projetos de sucesso, mas enfrentávamos importantes barreiras à entrada.
“A visão da Sunds passa por criar um portefólio robusto e sinérgico de soluções tecnológicas para a indústria dos painéis de madeira e outros setores industriais. Com a ACS reforça o seu bundle tecnológico, juntando à sua oferta uma solução diferenciada de controlo de partículas, resolvendo problemas complicados de forma mais eficaz, simples e com menos consumo energético”, descreve o CEO.
Além disso, perspetiva o desenvolvimento conjunto de novas tecnologias em áreas adjacentes ou melhorados com a separação de partículas, como sistemas de recuperação de energia, painéis reciclados ou a captura de carbono, em que os ciclones portuenses têm “aplicabilidade comprovada”. Por outro lado, abrem-se para a ACS um “canal de vendas muito mais alargado” e “portas” em novos mercados onde já está presente a empresa de Timrå, liderada por Lars Eklund.
Da faculdade às maiores fábricas do mundo
Tudo começou na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP), onde o professor Romualdo Salcedo começou a estudar a tecnologia de ciclones há cerca de 30 anos. Foi no campus, como aluno de Engenharia e Gestão Industrial, que Pedro Araújo a conheceu. A ACS surgiu em maio de 2008 com estes dois sócios e o apoio do CoHitec, um programa da Cotec Portugal, e quando o atual CEO estava a fazer um MBA na Universidade Nova de Lisboa.
A empresa contou com o investimento da Espírito Santo Ventures na fase de arranque e depois com um “transformacional” da Armilar Venture Partners. À data da venda, efetivada a 27 de maio e que contou com a assessoria jurídica da Morais Leitão, Romualdo Salcedo e Pedro Araújo eram os únicos acionistas, esclarece o CEO, sem revelar o valor da transação alegando cláusulas de confidencialidade.

Apesar de terem vendido 100% do capital da ACS, os antigos acionistas e alguns colaboradores tornaram-se investidores na Sunds Fibertech, o que “[reforça] o compromisso com a nova etapa” da empresa. “O objetivo é claro: continuar a crescer e a desenvolver tecnologia de ponta, com mais recursos financeiros, comerciais e humanos, mantendo a nossa identidade, marca e autonomia nas restantes áreas de negócio”, frisa Pedro Araújo.
No setor dos painéis de madeira, em que a equipa terá “algum reforço” com a aquisição por parte do grupo nórdico, um dos principais clientes é a Sonae Arauco. Na lista de projetos estão igualmente outros grupos conhecidos à escala internacional, como a Valmet (papel), ArcelorMittal (aço), HeidelbergCement (cimento), BASF (recuperação química), Hovione, Merck e Teva (farmacêutico) ou Nestlé e Mondelez (alimentar).
Se na madeira e biomassa o foco está no controlo de emissões em caldeiras e secadores, no caso das indústrias farmacêutica, alimentar e química atua na recuperação de pós em processos de secagem e atomização, para aumentar a eficiência produtiva e evitar perdas de produto. Já na área da energia e nas indústrias intensivas (aço e cimento) aplica soluções de alta temperatura para captura de carbono em contextos de transição energética, como faz na Methane Pyrolysis, participada por Bill Gates, onde captura carbono sólido proveniente da gaseificação de metano.
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