Inflação abrandou. Mas ainda se lembra dos preços há quatro anos?
Inflação está no valor mais baixo em três anos. Os preços abrandam, mas não vão descer. Será que ainda se lembra de quanto pagava pelo arroz, pelo azeite e pelos ovos no início de 2022? Recorde aqui.
Depois de anos marcados por agravamentos nos preços, a inflação na Zona Euro tem vindo a desacelerar desde o ano passado, alcançando agora mínimos de três anos. Significa que os preços estão a abrandar, não que voltaram aos níveis em que estavam no início de 2022, antes da guerra na Ucrânia. Será que ainda se lembra de quanto pagava por um quilo de arroz? E meia dúzia de ovos, ou uma garrafa de azeite?
A inflação homóloga da Zona Euro baixou para 1,9% em maio, ficando abaixo do objetivo de 2% do Banco Central Europeu, mostrou uma estimativa rápida divulgada na semana passada pelo Eurostat. Em Portugal, a evolução do Índice Harmonizado dos Preços no Consumidor (IHPC) situou-se em 1,7%, abaixo da taxa de 3,8% do mês homólogo e dos 2,1% registados em abril.
Este processo de desinflação já era antecipado, mas tem vindo a ganhar expressão, dando margem ao BCE para continuar a cortar juros. Só que a fatura do supermercado não está a descer. Bem pelo contrário. A maioria dos alimentos está hoje mais cara do que no início de 2022, antes do início do conflito na Ucrânia.
Olhando para os preços de um cabaz com 63 produtos alimentares essenciais compilados pela Deco desde o dia 5 de janeiro de 2022, (quase) todos os produtos custam atualmente mais do que há três anos. E as diferenças não são pequenas.

A carne de novilho para cozer é o produto cujo preço mais subiu. Em pouco mais de um ano, o custo quase duplicou, com o preço do quilo a passar de 5,82 euros para 11,49 euros. Trata-se de uma subida de 97,45%.
Os ovos, que têm sido tão falados nos últimos tempos, por estarem a faltar nalgumas prateleiras dos supermercados devido às quebras no fornecimento por causa da gripe das aves, são outro dos produtos que mais pesam na carteira das famílias. Enquanto no início de 2022, meia dúzia de ovos custava 1,14 euros, hoje precisa pagar 2,03 euros para comprar o mesmo produto. É quase mais 78%.
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Produtos básicos para preparar uma refeição, como arroz, batata, carne, peixe, ou enlatados registam subidas que variam entre os 40% e os 65%. No caso do arroz agulha, o preço do quilo subiu 47 cêntimos, para 1,62 euros.
Tomar o pequeno-almoço também ficou (muito mais) caro nos últimos anos. Os cereais de pequeno-almoço (integrais, ou flocos de cereais) viram os preços disparar mais de 55% e um litro de leite meio gordo custa hoje em média 97 cêntimos, mais 29 cêntimos, ou 43%, do que no início de 2022. Para quem gosta de beber o seu café, o preço também amargou. Segundo o levantamento da Deco, o café torrado moído está agora 58% mais caro, tendo subido de 2,99 euros para 4,73 euros.

Em termos absolutos, a maior subida, a seguir ao novilho, foi protagonizada pelo bacalhau graúdo. Este peixe tão apreciado pelos portugueses, sobretudo no Natal, viu o custo disparar mais de cinco euros, para 15,61 euros. É um aumento de 47%. Nos últimos três anos, a garrafa de azeite passou de custar 4,46 euros para 6,57 euros, o que representa um agravamento de 47%.
Do cabaz de 63 produtos essenciais seguidos pela Deco, apenas dois – curgete e óleo alimentar – ficaram mais baratos. No caso da curgete, o preço baixou 30% para 1,72 euros por um quilo, enquanto a garrafa de óleo de um litro custa menos 9%: 2,09 euros.
Em termos globais, o preço do cabaz subiu de 187,70 euros, no início de 2022, para 239,27 euros, no final de maio. Ou seja, as pessoas têm hoje que pagar mais 51,57 euros (27,5%) pelos mesmos produtos que compravam há três anos.
Apesar da descida da inflação não se refletir nos preços praticados nos supermercados, o índice de preços deverá continuar a baixar nos próximos meses.
BCE vê ajustamento mais rápido

O Banco Central Europeu, que voltou a cortar as taxas de juro na região em 25 pontos base na semana passada, reviu em baixa as suas estimativas para a inflação. O banco central, liderado por Christine Lagarde, projeta agora uma inflação de 2% para este ano face à projeção anterior de 2,3%. Para 2026 e 2027 projeta aumentos de preços em termos homólogos de 1,6% e 2% respetivamente (quando em março previa 1,9% e 2%).
O banco central justificou que “as revisões em baixa em relação às projeções de março, de 0,3 pontos percentuais tanto para 2025 como para 2026, refletem principalmente pressupostos mais baixos para os preços da energia e um euro mais forte“.
Apesar das perspetivas mais otimistas em relação ao ajustamento da inflação, a presidente do BCE alertou que “as perspetivas para a inflação na zona euro são mais incertas do que o habitual”, apontando para a guerra comercial. “De momento enfrentamos uma incerteza significativa — poderá ler na declaração sobre a política monetária, penso que mencionamos a incerteza nove ou dez vezes”.
A União Europeia e os EUA acordaram prolongar as negociações, numa tentativa de chegar a um entendimento sobre as tarifas. Contudo, continua tudo em aberto em relação a um acordo comercial entre as duas regiões.
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