O que se sabe sobre o novo dispositivo secreto da OpenAI?
Jony Ive, lendário designer da Apple, e Sam Altman, 'pai' do ChatGPT, estão a desenvolver um dispositivo físico inovador com inteligência artificial (IA). O projeto está envolto em grande secretismo.

O que estarão a cozinhar Sam Altman e Jony Ive, respetivamente o ‘pai’ do ChatGPT e o homem que desenhou o iPhone? Em maio, a OpenAI anunciou a compra da io, a startup de hardware fundada pelo veterano da Apple e amigo de Steve Jobs. Segundo Altman, a parceria fará nascer “a peça de tecnologia mais incrível que o mundo já viu”. Nada mais, nada menos.
Os dois começaram a colaborar em segredo há cerca de dois anos, partilhando uma visão comum sobre o caminho que deve seguir a tecnologia. No final do ano passado, a OpenAI assumiu uma posição inicial de 23% na io. Agora, absorve a startup na totalidade, por uma quantia total de 6,5 mil milhões de dólares (quase 5,7 mil milhões de euros), no maior negócio em que já esteve envolvida. No pipeline está uma nova “família de produtos” com inteligência artificial (IA).
“O Jony ligou-me um dia e disse ‘este é o melhor trabalho que a nossa equipa alguma vez fez'”, diz Sam Altman num vídeo que acompanha o anúncio da colaboração. “O Jony fez o iPhone, o Jony fez o MacBook Pro. É difícil de bater essas coisas”, acrescenta o CEO da OpenAI, assumindo-se muito entusiasmado com o protótipo desenvolvido pela io que só “recentemente” pôde “levar para casa” para testar.
“Os produtos que usamos hoje para entregar e para nos conectarmos a tecnologia além da imaginação têm décadas. Por isso, é de senso comum pelo menos pensar que de certeza que existe algo para lá destes produtos legacy“, afirma, por seu turno, o lendário designer da Apple, que deixou a tecnológica em 2019. “Tenho um sentimento crescente de que tudo o que aprendi ao longo dos últimos 30 anos me levaram até este momento”, acrescenta Ive. “Eu senti que o meu trabalho mais importante e útil ainda está para vir”, assumiu numa entrevista à Bloomberg.

A OpenAI prometeu “partilhar” este trabalho “no próximo ano”, e pouco mais se sabe sobre o novo dispositivo, pelo menos oficialmente. Como se não bastasse, Laurene Powell Jobs, viúva do falecido Steve Jobs, mítico fundador da Apple, também está envolvida no projeto, por ter sido investidora nas startups de Ive, incluindo no estúdio de design LoveFrom (que se manterá independente, apesar de colaborar com a OpenAI). Os rumores começaram a surgir a grande velocidade.
Um dos relatos mais credíveis sobre o novo produto da OpenAI foi publicado logo após o anúncio da compra da io aos trabalhadores da empresa responsável pelo ChatGPT. O The Wall Street Journal (WSJ) teve acesso à gravação de uma reunião em que Altman e Ive dão mais pistas sobre o que está em cima da mesa: “O produto será capaz de estar totalmente ciente do ambiente e da vida do utilizador, será discreto, podendo ser colocado no bolso ou em cima da secretária, e será o terceiro dispositivo que uma pessoa colocaria sobre a mesa depois de um MacBook Pro e de um iPhone”, caracteriza o jornal.
O equipamento não será um telemóvel, não será uns óculos, e tudo indica que não possuirá nenhum ecrã. O WSJ diz ainda que Ive estará cético em desenvolver um wearable, isto é, algo que possa ser usado no corpo (como um relógio ou um anel, por exemplo). O objetivo parece ser, sim, o de tentar criar a próxima grande plataforma, provavelmente unindo as capacidades de IA generativa da OpenAI ao talento de Ive e da sua equipa de 55 engenheiros de hardware, programadores e especialistas em produto. Potencialmente, algo controlado por voz, mas que também possa ser emparelhado com um smartphone.
Na mesma altura, Ming-Chi Kuo, analista da TF International Securities, conhecido por divulgar informações privilegiadas sobre novidades da Apple, também avançou com alguns detalhes, citando fontes da indústria. De acordo com o especialista, a produção em massa do novo dispositivo deverá começar em 2027, com assemblagem fora da China, para tentar contornar as tensões geopolíticas. Um dos casos que estará a ser estudado é o de um dispositivo que possa ser usado à volta do pescoço, diz o analista, que, apesar da notoriedade, nem sempre está correto.
Ming-Chi Kuo apontou também que o dispositivo da OpenAI terá microfones e câmaras e terá um design “tão compacto e elegante como o do iPod Shuffle”. Será ainda “um pouco maior do que o AI Pin”, um dispositivo com IA que foi apresentado no ano passado pela Humane, empresa fundada por dois ex-funcionários da Apple, e que já foi considerado um dos maiores flops tecnológicos do ano passado.
Tweet from @mingchikuo
Quanto à ambição da OpenAI, 100 milhões é um número chave. Traduz o sucesso do ChatGPT, lançado em novembro de 2022, e que em dois meses atingiu os 100 milhões de utilizadores, tornando-se, na altura, na aplicação com o crescimento mais rápido da história da internet. Agora, o número volta a ser usado por Sam Altman para definir a meta da OpenAI para o seu primeiro dispositivo físico: “Nós não iremos vender 100 milhões de dispositivos literalmente no primeiro dia”, disse o cofundador da OpenAI, citado no artigo do WSJ. Mas quer vender essa quantidade de dispositivos “mais rápido do que qualquer outra empresa já vendeu 100 milhões de unidades de alguma coisa nova antes”, apontou, citado pelo jornal norte-americano.
Outro número ambicioso é o de um bilião de dólares (cerca de 878,2 milhões de euros). Trata-se do valor que Altman estima que esta nova gama de dispositivos, e a integração da io, pode gerar em valor para a OpenAI. Uma organização que, apesar do forte investimento que tem conseguido captar de investidores como a Microsoft, ainda espera perder 44 mil milhões de dólares (38,6 mil milhões de euros) até começar a ver algum lucro algures em 2029, assegura o WSJ. Maio foi mesmo um mês de novidades para a empresa do ChatGPT, que também decidiu abandonar o plano para se tornar uma empresa com fins lucrativos, mantendo, pelo menos para já, a sua estrutura atual.
Assine o ECO Premium
No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.
De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.
Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.
Comentários ({{ total }})
O que se sabe sobre o novo dispositivo secreto da OpenAI?
{{ noCommentsLabel }}