Portugal ganha mais 3.200 milionários no último ano
O número de fortunas acima de um milhão de dólares cresceu 1,9% no país, enquanto a nível mundial o aumento foi de 1,2%. Atualmente, Portugal conta com cerca de 175 mil milionários.
Portugal registou um aumento de 1,9% no número de milionários em 2024, passando de cerca de 171,8 mil em 2023 para aproximadamente 175 mil pessoas com património líquido superior a um milhão de dólares no final do ano passado, segundo o mais recente relatório “Global Wealth Report 2025” da UBS, publicado esta quarta-feira.
Este crescimento traduz-se na entrada de mais 3.200 pessoas no grupo de milionários no país ao longo do ano passado, consolidando uma tendência de crescimento deste clube restrito nos últimos anos, se bem que este ano a um ritmo mais lento do que em anos anteriores.
Segundo cálculos do banco suíço, os cerca de 175 milionários portugueses detêm aproximadamente 376 mil milhões de dólares em património, cerca de 2.149 milhões de euros por milionário. Este valor compara com uma riqueza média por adulto em Portugal de 163.933 dólares, enquanto a riqueza mediana é de 81.353 dólares — um sinal claro da concentração de riqueza nos escalões superiores.
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Os dados do UBS destacam ainda que a generalidade dos portugueses apresenta uma alocação mais conservadora do seu património quando comparada com outros países europeus, refletindo uma tradição de investimento em ativos imobiliários.
Os analistas do banco suíço revelam, por exemplo, que em 2024, os ativos financeiros representavam 36,5% da riqueza bruta dos portugueses, enquanto os ativos não financeiros — sobretudo imóveis e terrenos — correspondiam a 74,5% do total, evidenciando o peso do património imobiliário nas carteiras das famílias nacionais. O endividamento, por sua vez, mantinha-se relativamente controlado, situando-se em 10,9% da riqueza bruta, valor próximo ao de outros países do sul da Europa, como Espanha e Grécia.
Esta composição patrimonial tem implicações diretas na forma como a riqueza é acumulada e preservada em Portugal. O forte peso do imobiliário torna a riqueza mais sensível a oscilações nos preços das casas e à evolução das taxas de juro, enquanto a menor exposição a ativos financeiros limita o potencial de valorização em períodos de forte desempenho dos mercados bolsistas.
Em 2024, haviam quase 60 milhões de milionários globalmente que, no conjunto, controlavam mais de 226 biliões de dólares, segundo estimativas do UBS.
O UBS revela alguns dados relativos à desigualdade em Portugal, revelando que o país apresenta um coeficiente de Gini de 0,61 em 2024 (ligeiramente abaixo dos números de 2019), o que indica um nível de desigualdade patrimonial elevado no contexto europeu, embora muito inferior ao de países como Brasil, Rússia ou África do Sul, que apresentam coeficiente de Gini acima dos 0,8.
Este valor significa que a distribuição da riqueza continua bastante concentrada, com uma parte significativa do património detida por uma minoria da população. Apesar disso, a última década registou uma ligeira tendência de redução da desigualdade, acompanhando o crescimento da riqueza mediana, que subiu mais de 25% desde o início da década, sugerindo que os ganhos de riqueza foram relativamente mais expressivos nos escalões intermédios da sociedade portuguesa.
Espelho do quadro dos milionários no mundo
Para o UBS, um milionário é definido como uma pessoa com património líquido superior a um milhão de dólares americanos (cerca de 870 mil euros ao câmbio atual). Em 2024, haviam quase 60 milhões de pessoas globalmente com estas condições, que controlavam mais de 226 biliões de dólares, segundo cálculos do UBS.
Só no ano passado foram adicionados a este clube restrito de fortunas 680 mil novos milionários mundialmente. Porém, o relatório estabelece diferentes escalas de riqueza, sendo que os indivíduos com património entre um e cinco milhões de dólares são classificados como “Everyday Millionaires” (milionários diários, numa tradução direta do inglês).
Este segmento, que o relatório destaca como “em crescimento, mas frequentemente negligenciado”, tem vindo a crescer significativamente, representando atualmente cerca de 52 milhões de pessoas a nível mundial e controlando aproximadamente 107 biliões de dólares em riqueza total, “mais de quatro vezes o montante que possuíam em 2000, o que equivale a mais de 2,5 vezes em termos reais”, referem os analistas do UBS.
E segundo as previsões do UBS, tanto o número de milionários como a riqueza detida por cada um tenderá a continuar a crescer nos próximos anos. Isso deverá acontecer globalmente como em Portugal, sendo que “esta expansão será liderada pelos EUA, bem como pela Grande China, América Latina e Oceânia”, vaticinam os analistas do UBS.
A nível mundial, espera-se que o número de milionários continue a crescer na maioria dos 56 mercados analisados pelo UBS, com as projeções a apontarem para “mais 5,34 milhões de pessoas a juntarem-se às fileiras dos milionários até 2029, um aumento de quase 9% em relação a 2024”, lê-se no relatório. No relatório do ano passado, os analistas do UBS apontavam para que Portugal pudesse chegar aos 189,1 mil milionários em 2028. A confirmar-se, irá traduzir-se num incremento de 8,1% face aos números de 2024.
Nos próximos 20 a 25 anos, mais de 83 biliões de dólares serão transferidos [globalmente], com cerca de 9 biliões a movimentarem-se horizontalmente entre cônjuges, e 74 biliões a movimentarem-se entre gerações.
Internacionalmente, os EUA mantêm-se como o país com maior número absoluto de milionários, concentrando quase quatro em cada dez milionários. “Os EUA, a China continental e França registaram o maior número de milionários [em 2024], com os EUA a representarem quase 40% dos milionários globais”, confirma o relatório, que acrescenta que os EUA adicionaram mais de 379 mil novos milionários no ano passado, “mais de 1.000 por dia”.
“Não é surpreendente que os EUA tenham o maior número de milionários, desde logo por ser também a maior economia do mundo, e acredito que continuará a ser assim na próxima década”, referi James Mazeau, analista do UBS esta quarta-feira no decorrer da apresentação do relatório aos jornalistas.
No entanto, em termos de crescimento do número de milionários o destaque recai para a Turquia, que registou um aumento anual de 8%. Os Emirados Árabes Unidos ocuparam a segunda posição deste ranking com um crescimento de 5,8%. Estes dois países refletem uma tendência de crescimento particularmente forte em mercados emergentes e economias em transformação.
Forças de criação de riqueza em 2024
Os analistas do UBS revelam também que o crescimento da riqueza mundial em 2024 foi impulsionado principalmente pelo desempenho dos mercados financeiros. Segundo o relatório, “a nível mundial, a riqueza financeira total registou um aumento de 6,2% em dólares, enquanto a riqueza não financeira cresceu apenas 1,7% e a dívida total permaneceu inalterada”.
Esta dinâmica beneficiou particularmente os milionários norte-americanos e os milionários expostos ao mercado de capitais dos EUA, “o desempenho particularmente forte dos mercados financeiros dos EUA em 2024, associado a uma moeda estável, foi o que provocou o desempenho bastante unilateral da região”, lê-se no relatório.
A América do Norte registou um crescimento de riqueza de 11,35%, muito superior aos 2,85% da região Ásia-Pacífico e aos modestos 0,44% da região EMEA (Europa, Médio Oriente e África). “Os EUA e as economias mais ancoradas ao dólar registaram um aumento maior da riqueza no último ano como consequência da subida do dólar”, sublinhou Paul Donovan, economista-chefe do UBS Global Wealth Management, esta quarta-feira no decorrer da sua intervenção na apresentação do relatório aos jornalistas.
Uma das principais conclusões do relatório do UBS prende-se com a grande transferência de riqueza que está prevista para as próximas duas a três décadas. A nível global, “nos próximos 20 a 25 anos, mais de 83 biliões de dólares serão transferidos, com cerca de nove biliões a movimentarem-se horizontalmente entre cônjuges, e 74 biliões a movimentarem-se entre gerações”, destaca o relatório.
Em Portugal, esta transferência assume proporções particularmente significativas. O UBS estima que nas próximas décadas seja transferido o equivalente a mais de um quarto da riqueza nacional, incluindo transferências inter-geracionais e intra-geracionais (entre cônjuges). “Em Espanha, estas transferências poderão ascender a 17% da riqueza do país, em Portugal a mais de 26% e na Grécia a 40%”, referem os analistas numa análise aos países do Sul da Europa.
“A riqueza não é apenas uma medida económica – é uma força social e política. À medida que navegamos na quarta revolução industrial e no aumento da dívida pública, como a riqueza é distribuída e transferida irá moldar as oportunidades, as políticas e o progresso”, destaca Paul Donovan no relatório.
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