Mestres ganham mais 86% do que trabalhadores com ensino secundário

Mercado de trabalho português valoriza cada vez mais mestrados: prémio salarial é dos maiores, desemprego entre estes profissionais é mais baixo e ofertas de emprego exigem cada vez mais este grau.

Ainda vale a pena ir para a universidade? Um novo estudo desenvolvido pelo think tank EDULOG realça que “as vantagens salariais associadas ao ensino superior continuam a ser evidentes”, sendo os mestrados, em particular, cada vez mais valorizados no mercado de trabalho português. Também no que diz respeito à empregabilidade, ter um diploma universitário é um “trunfo“.

Comecemos pelos vencimentos. “As vantagens salariais associadas ao ensino superior continuam a ser muito notórias no mercado português”, é salientado nesta edição do “Balanço Anual da Educação“. “Os ganhos salariais relativos estão cada vez mais concentrados nos mestres, numa tendência que se tem vindo a reforçar rapidamente”, acrescentam os autores.

Em concreto, de acordo com o novo relatório, em média, um mestre ganha mais 86% do que um profissional com o ensino secundário. Já os licenciados registam prémios salariais de cerca de 69% face a quem conclui o 12.º ano de escolaridade, como mostra o gráfico abaixo.

Confrontada com estes dados, Isabel Leite, do conselho consultivo do EDULOG, adianta que há duas razões para o prémio salarial associado aos mestrado ser não só dos mais expressivos, como dos que mais crescem: por um lado, o mercado de trabalho está a valorizar o conhecimento altamente especializado e, por outro, há cada vez mais licenciados, o que “diminui o valor” desse grau académico e traz vantagem a quem prossegue estudos (e só cerca de 40% dos licenciados avançam para mestrado).

O “Balanço Anual da Educação” alerta, contudo, que a vantagem salarial dos mestrados está “cada vez mais concentrada nos mestres do sexo masculino“, agravando as desigualdades.

“Tem muito que ver com as áreas de estudo que são escolhidas pelos homens“, argumenta Isabel Leite, referindo que eles tendem a preferir as áreas da informática e engenharia.

Ora, as áreas da informática, matemática, estatística, engenharias e ciências empresariais aparecem no topo da lista dos salários médios, como mostra o gráfico abaixo.

Um licenciado no setor da informática ganha, em média, 2.426 euros por mês e um mestre 2.764 euros por mês. Em contraste, um licenciado dos serviços sociais tem um salário médio de 1.343 euros, e um mestre 1.379 euros.

Isabel Leite recomenda, por isso, que elas sejam apoiadas ao longo do seu percurso escolar, para que melhorem o desempenho na matemática e se sintam, assim, encorajadas a seguir para as referidas áreas. E defende que se desmistifique a participação feminina nesses setores, em linha com o que já aconteceu na saúde e no direito.

Mais ofertas de emprego exigem mestrado

O relatório que será apresentado esta quinta-feira, dia 26 de junho, deixa claro que não é apenas nos salários que se verifica a valorização crescente dos mestrados no mercado de trabalho nacional. Os autores referem mesmo num “crescente hiato de valor atribuído a diplomas de mestrado e diplomas de licenciatura“. E, nas próprias ofertas de emprego, é possível perceber essa valorização crescente do grau de mestre.

A referência explícita a requisitos de qualificações a nível do mestrado nos dados sobre ofertas de emprego tornou-se preponderante, sobretudo no período imediatamente após a pandemia”, explicam os autores do “Balanço Anual da Educação”.

“Essa referência explícita é mais provável em ofertas de emprego em que não esteja implícita um requisito de qualificação específico“, continuam. Sobre este ponto, Isabel Leite alerta para o credencialismo, admitindo que tal poderá levar a casos de sobrequalificação.

Após três anos de recuperação, os diplomados do ensino superior apresentavam taxas de desemprego inferiores às anteriores à pandemia (abaixo de 6%). A população ativa com o 3º ciclo do ensino básico continua com um desemprego superior ao período pré‐COVID.

Balanço Anual da Educação 2025

Com os anúncios de emprego a exigir mais qualificações, não surpreende, pois, que este novo relatório mostre que os trabalhadores com mais estudos tendem a estar menos expostos ao desemprego.

“Nos últimos cinco anos, a crise pandémica agravou o desemprego dos jovens e penalizou, sobretudo, os menos qualificados. Após três anos de recuperação, os diplomados do ensino superior apresentavam taxas de desemprego inferiores às anteriores à pandemia (abaixo de 6%). A população ativa com o 3º ciclo do ensino básico continua com um desemprego superior ao período pré‐COVID e os detentores de CTeSP exibiram taxas acima de 10%”, afirmam os autores.

Também neste ponto os profissionais com o grau de mestre são os que conseguem maiores vantagens, com uma taxa de desemprego em torno de 4,7%.

Gap entre competências e empregos

O “Balanço Anual da Educação” indica também que o mercado de trabalho português regista um desajustamento entre as competências procuradas e oferecidas, mas reconhece que este tem permanecido “contido e estável”.

Em concreto, entre os mais jovens, cerca de 20% dos diplomados do ensino superior estão em profissões que não requerem essas qualificações.

“Existem também diferenças marcadas no risco de sobrequalificação das diferentes áreas de estudo. As áreas das TICs, da saúde e das engenharias (e em menor grau, das ciências) têm uma incidência significativamente mais baixa de sobrequalificação aparente, e as áreas dos serviços, em particular, mas igualmente das artes e humanidades, têm uma incidência muito superior à média”, detalham os autores.

A sobrequalificação vai criar problemas a longo prazo: desmotivação, quebras no seu retorno salarial e perda de potencial de produtividade.

Isabel Leite

Conselho consultivo do EDULOG

Sobre estes dados, Isabel Leite salienta que a sobrequalificação pode criar problemas a longo prazo, como a desmotivação, a quebra do retorno salarial e a perda de potencial de produtividade.

O think tank EDULOG enquadra-se na Fundação Belmiro de Azevedo. O seu objetivo é “contribuir para a construção de um sistema de educação de referência” e a informação das políticas públicas “para a inovação e mudança na Educação”.

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