Acordo comercial entre União Europeia e EUA impulsiona bolsas e castiga setor automóvel
Bolsas reagem em alta ao pacto entre os EUA e Bruxelas, com o dólar a ganhar terreno e as ações dos semicondutores europeus a brilharem. No sentido inverso seguem as construtoras de automóveis.
Wall Street e os principais índices europeus estão a reagir positivamente ao acordo entre Washington e Bruxelas para fixar em 15% a tarifa sobre a maioria das exportações europeias, evitando o cenário limite de uma escalada para 30% já a 1 de agosto, como Donald Trump tinha anunciado.
O acordo comercial entre os EUA e a Europa dissolveu, pelo menos para já, o receio de uma guerra comercial em pleno verão e devolveu o apetite pelo risco, ainda que a festa tenha deixado de fora as construtoras automóveis alemãs, pressionadas pelas críticas da poderosa associação VDMA e por avisos vindos de Berlim.
Nos EUA, os futuros do S&P 500, Nasdaq-100 e Dow Jones avança entre 0,05% e 0,3% antes da abertura, prolongando a série de máximos históricos que o S&P 500 tem vindo a renovar há cinco sessões consecutivas. A reação imediata reflete sobretudo a remoção de um risco sistémico para os lucros das multinacionais tecnológicas — as mais expostas aos dois lados do Atlântico –, enquanto as petrolíferas ganham tração com o compromisso europeu de comprar 750 mil milhões de dólares em energia norte-americana.
Do lado europeu, o Stoxx Europe 600 chegou a valorizar quase 1% até aos 555 pontos, tocando máximos de quatro meses, estando atualmente a subir 0,53%. A dar força ao índice europeu estão os gigantes dos semicondutores como a neerlandesa ASML e a francesa STMicroelectronics, que acumulam ganhos de 4,51% e 3,26%, respetivamente, por saírem beneficiados deste acordo ao verem excluído o equipamento de litografia das novas tarifas.
O setor da defesa e o retalho também recuperaram terreno, mas o setor automóvel, motor tradicional do índice alemão, entrou em terreno negativo assim que se foram conhecendo os detalhes do pacto, que apontam agora para que 15% passam a ser o novo “preço de entrada” dos automóveis europeus nos EUA – um salto face aos 2,5% que vigoravam antes da “Liberation Day” de abril.
A associação da engenharia mecânica germânica (VDMA) não demorou muito tempo a classificar o entendimento como “um custo de milhares de milhões anuais” para os construtores, sublinhando que a tarifa “não pode tornar-se o novo normal”. A leitura mais amarga veio reforçada por Robert Habeck, ministro da Economia da Alemanha, que alertou para “uma espiral tarifária” se Washington insistir em testar os limites de Bruxelas, prometendo uma resposta europeia “solidária e confiante” caso a pressão aumente.
Este novo ambiente comercial faz-se sentir nos mercados, com o índice Stoxx Europe 600 Automobiles & Parts, que agrega as maiores empresas do setor automóvel, a chegar a resvalar 0,4%, sob grande pressão dos construtores alemães. É o caso da BMW, Volkswagen e Mercedes-Benz, que negoceiam atualmente com perdas entre 1,3% e 1,8%.
Apesar do coro germânico, investidores e casas de investimento veem na trégua uma espécie de “pior caso evitado”. Os analistas do UBS admitem “algumas ambiguidades”, mas ressaltam que o acordo elimina o prémio de risco que pairava sobre as bolsas desde abril, ainda que consolide “condições de exportação mais duras” para as empresas europeias. Já o economista Holger Schmieding, do Berenberg, sublinha que “poderia ter sido muito pior”.
No mercado cambial, o dólar acumula ganhos de 0,8% contra o euro, com o par cambial USD/EUR a negociar nos 0,858, o valor mais elevado desde 18 de julho. A valorização do dólar é também visível pela subida de mais de 0,6% do índice dólar para os 98,2 pontos, mostrando assim uma solidez do dólar contra um cabaz de seis divisas de referência (euro incluído).
Já o ouro, mantém-se praticamente inalterado, com a onça do metal dourado a negociar nos 3.335 dólares por onça, movimento que confirma a leitura do mercado: o acordo reduz a incerteza geopolítica, mas não altera – para cima ou para baixo – a perceção de risco macroeconómico global.
Para os investidores, o foco agora concentra-se em duas frentes. Primeiro, a confirmação parlamentar nos 27 Estados-membros, sem a qual o teto de 15% poderá voltar à mesa de negociações. Depois, as conversas EUA-China em Estocolmo, marcadas para antes de 12 de agosto, data-limite da trégua com Pequim. Tanto Wall Street como Bruxelas sabem que um deslize desse lado do tabuleiro poderia repor, num instante, o risco que este acordo dissipou.
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