EUA avançam mesmo com taxas de 15% sobre vinhos e destilados europeus a partir de 1 de agosto
Os EUA vão mesmo subir a tarifa dos vinhos e destilados europeus de 10% para 15% a partir de agosto, pondo em xeque cerca de 102 milhões de euros de exportações vinícolas portuguesas.
Os vinhos e destilados europeus vão enfrentar uma tarifa alfandegária de 15% nos EUA a partir de 1 de agosto, confirmaram funcionários e diplomatas da União Europeia à Reuters. A medida representa um aumento face aos atuais 10% e coloca em risco um dos mais importantes mercados de exportação para os produtores portugueses, que venderam para território norte-americano 102,1 milhões de euros em vinhos durante o ano passado.
A decisão surge após o fracasso das negociações entre Bruxelas e Washington para alcançar um acordo comercial mais favorável antes do prazo limite. Donald Trump tinha inicialmente ameaçado com tarifas ainda mais pesadas — chegando aos 200% — mas as discussões resultaram numa taxa intermédia que, ainda assim, preocupa gravemente o setor vitivinícola europeu.
Bernard Arnault, presidente da LVMH e homem mais rico da Europa, tem exercido pressão direta junto das administrações Trump e da Comissão Europeia para garantir isenções para vinhos e destilados.
Para Portugal, o impacto é particularmente significativo. Os EUA consolidaram-se como o segundo maior mercado de destino para os vinhos portugueses, representando um crescimento de 2% em 2024, apenas atrás de França, de acordo com dados da ViniPortugal. A região do Douro, que inclui o icónico Vinho do Porto, exportou sozinha quase 36 milhões de euros para o mercado norte-americano no ano passado.
A taxa de 15% surge numa altura em que o setor vitivinícola português já enfrenta dificuldades com mais de 500 produtores da região do Douro a protestaram recentemente em Peso da Régua, denunciando a queda abrupta dos preços da uva, o aumento dos custos de produção e cancelamentos de contratos. A perspetiva de maior dificuldade no acesso ao mercado norte-americano agrava estas preocupações.
Segundo diplomatas europeus próximos das conversações, as discussões sobre tarifas para vinhos e destilados prosseguirão durante o outono, após a finalização da declaração conjunta sobre o acordo comercial estrutural acordado entre Trump e a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen.
“A minha perceção é que seguirão com a taxa fixa de 15%. Menos claro relativamente aos destilados, onde sei que existe um acordo antigo que deveria permanecer em vigor para tarifas zero ou de nação mais favorecida“, explicou um diplomata sénior envolvido nas negociações à Reuters.
Indústria europeia mobiliza-se contra medidas
A incerteza levou já alguns importadores norte-americanos a suspender as encomendas de vinhos europeus, custando às empresas europeias cerca de 100 milhões de euros por semana, segundo estimativas do Comité Europeu das Empresas Vinícolas (CEEV).
Bernard Arnault, presidente da LVMH e homem mais rico da Europa, tem exercido pressão direta junto das administrações Trump e da Comissão Europeia para garantir isenções para vinhos e destilados. A LVMH, que detém marcas como Moët & Chandon e Hennessy, obtém quase 7% das suas receitas do setor de vinhos e destilados no primeiro semestre de 2025.
“É muito importante chegar a um acordo com os EUA para a Europa. Usando os meus modestos meios e contactos, espero conseguir convencer a Europa a adotar uma atitude igualmente construtiva“, declarou Arnault aos senadores franceses.
A imposição das tarifas de 15% marca mais um capítulo na escalada de tensões comerciais entre Washington e Bruxelas, colocando o setor vitivinícola europeu – e português em particular – numa posição vulnerável num dos seus mercados mais valiosos e estratégicos.
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